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JK

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JK

RESTAURANTE

A sua atitude me irrita. Estou na frente dele com um sorriso falso. Ele está dando em cima da garçonete com todas as palavras possíveis. Os seus olhos não fogem do decote dela e tudo o que eu mais quero agora é jogar essa água nele e o mandar focar em mim, afinal, esse é o motivo de estarmos aqui: o encontro. Escolhemos uma sala privada e ele chegou trinta minutos atrasado. Até tentei mandar mensagens para ele, mas adivinhem? Ele me bloqueou no privado, então precisei usar o meu outro número para encher o saco dele.

A sala era bem típica do que eu gosto. Uma mesa ao chão e nós sentados sem cadeiras. Ele de um lado e eu do outro, mas mesmo assim, não tão longe. O cheiro de menta dele não tinha mudado afinal. Ele estava mais alegre do que quando nos vimos pela primeira vez. Ainda era doce com quem gostava e vi que tinha feito algumas publicações engraçadas antes de vir. Parecia de fato ser o tipo de pessoa que você quer muito ser amigo.

Será que um dia seremos amigos?

Meu coração acelera só de pensar nisso.

— Você sempre deixa as pessoas esperando? — Indaguei em um tom levemente irritado. Ele negou com um sorriso leve. — Então só sou eu mesmo? — Ele assentiu. — Você aparenta ter um gosto peculiar quando se trata de me azucrinar.

— Parece um idioso falando, e olha que eu nem entendo o inglês muito bem. — Tentei segurar a minha risada, então apenas revirei os olhos. — Quais são os nossos tópicos pra conversa? Quero acabar logo com isso e dormir. O treino de hoje foi muito longo.

— Sobre isso... — Peguei uma lista e coloquei na mesa. Mas, Richarlison não fazia a menor ideia de que aquela não era a lista de verdade. Eu fiz questão de mudar ela por completo. — Se você não quiser falar sobre o que tem aqui, pode muito bem zerar a sua parte e eu gabaritar a minha.

— Me deixa ver isso! — Disse revoltado. Pegou a folha e leu alguns tópicos. Ri levemente, mentalmente, claro, porque eu fiz o meu máximo para colocar as coisas que eu sei que o deixariam nervoso. — Por que eu preciso falar sobre os meus antigos relacionamentos? Você sequer teve algum?

— Não precisa se preocupar comigo, só consigo mesmo. — Retruquei num tom debochado. Ele fez uma careta feia. — Se tá com vergonha de responder, tranquilo, eu...

— Vamos fazer assim, eu não vou treinar amanhã à tarde, tenho só academia sozinho, então podemos beber toda vez que alguém não quiser responder a pergunta, ok? — Fiquei surpreso com a oferta, então apenas concordei. — Ótimo, vou beber cerveja e você?

— Soju. — Respondi calmamente. — Você já provou isso? — Ele negou. — Você vai ficar viciado quando provar, é doce... doce. — Carreguei o meu tom de segundas intenções. — Mas pra alguns é bem amargo, sabe? Depende da frescura da pessoa. — Ele riu levemente.

Respirei fundo ao perceber ele tirando o seu moletom. O ar quente estava bem forte na sala fechada. Ele estava com fome e comia como louco, apesar de parecer selecionar exatamente o que podia comer ou não. Entendo ele, por mais que eu esteja em uma pausa, é assim que infelizmente funciona. O seu corpo é o seu ganha-pão. É cansativo e frustrante, mas é a verdade. Não sei se ele entenderia esse tipo de conversa profunda. O que exatamente eu vi de tão...

— Devíamos guardar as sobras pra doar depois, você pediu comida demais. — Ele disse irritado. Deixei um sorriso leve nascer ao lembrar porque gosto tanto dele. Esse coração enorme e sincero me faz sentir como um garoto completamente impuro. — Vai, primeira pergunta: qual foi o lugar mais... — ele releu várias vezes antes de terminar — estranho que já... transou com alguém?

— Ah, fácil. — Falei de forma doce. Ele me olhou surpreso. — Por que? Vai me dizer que você é virgem? — Provoquei e ele virou o rosto para beber. — Já desistiu da pergunta? — Ele colocou várias comidas na boca. — Bom, eu... — ele focou nos meus lábios, dei risada daquilo — foi em um banheiro de avião. Foi bem legal na época, mas só faria com uma pessoa que eu estivesse sério mesmo.

— Te vendem de puro, mas eu sempre soube que era mentira. — Ele diz irritado. — Esse é o problema das pessoas que se vendem na internet, a gente nunca conhece elas de verdade. — Fiquei um tanto irritado com aquilo. — Como eu vou saber que você não tá mentindo pra mim? Você pode...

— Eu não tenho motivos pra mentir pra você, tenho? — O meu tom era sério e provocativo. — Estamos os dois... sozinhos, quem além de você pode me ouvir? Além do mais, o seu inglês é uma merda, então se enrolaria todo pra contar uma fofoca qualquer. — Richarlison respirou fundo e pegou a lista outra vez. Tomei um gole da minha bebida e o encarei intensamente.

— Você... gosta de cantar? — O tom dele era baixo. Fiquei surpreso pela pergunta. — Não tá na lista, mas... você gosta? — Tentei sorrir, mas não consegui. Virei o rosto e encarei a parede por alguns segundos. — Pergunta besta, né? Óbvio que gosta.

— Ninguém me perguntou isso tão diretamente há um bom tempo. — Ele me olhou com uma certa incerteza. — Eu amava cantar, ainda até gosto, sabe? Passo horas escrevendo músicas, tocando acordes..., mas não é tão doce quanto antes. Virou de fato, trabalho.

— Gostei de você cantando, é bestinha por causa das danças, mas algumas músicas... eram realmente bonitas. Pesquisei algumas traduções, quer dizer! — Ele deu risada. E que... risada gostosa. — Você canta muito rápido, sabe? Tem aquele lá que faz um rap mais rápido ainda! Quase não entendia as coisas.

— Vocês pesquisou sobre mim? — Indaguei de forma um tanto melosa. Conseguia sentir as minhas bochechas um tanto quentes. Eu era um pouco fraco com a bebida quando estou "paquerando".

— Bom, eu... no começo eu queria saber dizer o seu nome direito. Daí eu vi que você tem muitos fãs. Achei estranho, mas na minha cabeça funciona assim! — Ele pegou dois condimentos e os colocou lado a lado. — Você é essa pimenta e eu o sal, e tipo, a gente faz a mesma coisa, só que de formas diferentes. Então eu entendi que assim como o futebol muda vidas, você também muda. — Fiquei emocionado com aquilo. Ele leu mais alguns tópicos e respondemos sem nos atacar diretamente.

Ele estava sendo sincero com as respostas e eu também fiz isso. Fazia muito tempo que eu não bebia por diversão ou ouvia a risada de alguém que eu realmente gosto. Ele tem uma aura contagiante e não consegue beber soju de jeito algum. Respirei fundo ao perceber que ele estava um pouquinho alto, eu também estava. As suas palavras eram arrastadas e a sua respiração um tanto agitada.

— Você, deixa eu te ensinar! — Me levantei do meu lugar e me sentei ao seu lado. Ele tentou me empurrar, mas eu servi o soju no seu copo. — Vai, é assim! — O fiz virar o copo por inteiro. — Viu? Não é impossível, fracote! — Brinquei e dei risada. Richarlison me olhou intensamente. — O que foi? Viu o cara mais lindo do mundo e se perdeu?

— Feio demais. — Disse e eu não consegui conter o sorriso. — Tem uma coisa na sua... — Ele se inclinou e limpou o canto da minha boca, com os seus lábios. — Viu? É tão difícil limpar sozinho? Gringos não sabem se cuidar mesmo! — Ele dizia enquanto bebia mais um copo de soju. Mordisquei o meu lábio e tomei coragem para fazer aquilo.

— Ei! — O chamei e o virei na minha direção. — Você! — Assim que eu pensei em me inclinar, ele despencou em meus ombros. A sua respiração era calma e o corpo quente. — Ah, claro... bebeu demais, certo?

Parece que eu vou ter que te levar para o meu apartamento.

𝐃𝐈𝐄 𝐅𝐎𝐑 𝐘𝐎𝐔 - ʲᵘⁿᵍᵏᵒᵒᵏ ᵉ ʳⁱᶜʰᵃʳˡⁱˢᵒⁿOnde histórias criam vida. Descubra agora