SERENA

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Passei a odiar as terças e quintas

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Passei a odiar as terças e quintas.

Ouvir as reclamações de Tereza era como estar em um inferno na terra. Nada estava bom, nunca. Por mais que eu morresse tentando. Uma letra, ou melhor, uma vírgula fora do lugar era motivo de recomeço. Tudo de novo outra vez. Não importava se era a décima ou quadragésima, faríamos tudo de novo até sair milimetricamente perfeito.

Comecei a ter o balé na minha vida aos seis anos. A princípio eu mantinha aquilo como um hobbie, por mais que eu ainda fosse uma pequena criança. Depois das aulas, era comum ver uma Serena às pressas para chegar em casa e ir se arrumar. Quase que rotineiro. Eu me divertia com a magia que as sapatilhas faziam em meus pés e não queria saber se era uma coisa ilusória. Na minha cabeça eu era a própria Barbie das doze bailarinas e ninguém poderia falar ao contrário.

— Péssimo! Hoje você não rendeu nada. Dios no lo quiera si faltaste a clases por un mes.

Exceto uma pessoa.

A copa do mundo iria começar em menos de uma semana e, como uma boa filha de treinador, viajarei junto. Não porque eu era espanhola mas sim porque eu não poderia deixar de ficar sem voz pela minha adorável e favorita seleção. Caminho em uma linha tênue entre Brasil e Espanha somente por causa da minha família paterna, sendo a única do contra quando todos estão reunidos se esgoelando pelos jogadores. Era dificílimo passar pelo centro de treinamento e se enturmar com os rapazes, diferentemente de Sira que havia moradia própria lá.

E ainda namora com um deles.

Ferran é legal, um bom cunhado até. Pelo menos é o que aparenta.

Tenho implicância com todos os jogadores do planeta porque sei que tipo de festinhas eles fazem para dar incentivo ou comemorar. Não sou boba. Poderia existir a fidelidade entre esses homens, era verdade, igual um ganhador de sorteio entre milhões.

Enfim o maravilhoso mundo colorido masculino.

Mas hoje a minha sorte estava enterrada e não quis explorar a terra em prol de sua sobrevivência. Eu precisava pegar um pendrive importante que meu pai ficou de me entregar e com as vésperas da viagem, ele não costumava ter horário fixo para voltar para casa. Geralmente o senhor Luis Enrique Martínez permanecia dia e noite ajustando detalhes.

— Te vejo em breve então, senhora Dias. — e assim me despedi ironicamente animada para a minha professora, que tão pouco pareceu notar. O sol havia se despedido da cidade pouco menos de uma hora e o caminho entre a escola e o CT era curto. Eu poderia tranquilamente ir andando.

Como eu fazia raramente.

A minha personalidade era totalmente o oposto dos meus irmãos. Sira e Pacho gostavam de estar sempre inclusos em cada evento e comemorações e às vezes ela ia apenas para assistir ao treino. Eu definitivamente era a mais afastada desse planeta espanhol.

Delicate • Pablo GaviOnde histórias criam vida. Descubra agora