⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀ O quanto vale sua carreira?
Quando Bruna chegou a Liverpool seu mundo tornou-se pequeno, o ar que lhe faltou quando a notícia de que sua mãe tinha morrido a atingiu o suficiente para sentir-se culpada. Seguir com a carreira de modelo est...
⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀ ⠀O quanto vale sua carreira? ⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀ ⠀- Bruna Machado៹
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Menina levada, do cabelo curto e pele morena, do corpo violão e sorriso contagiante, aquela era eu, Bruna, a menina cujo o sorriso estava apagado e as lágrimas se faziam presente, os olhares de pena eram inquietantes e me faziam querer explodir, eu iria explodir no meu tempo, no meu quarto. Ao longe pude ouvir meu nome ser chamado, sequer tinha notado quando minha tia Gabriela chegou, meu mundo tinha caído. Morta, minha mãe estava morta e eu nem mesmo dei a ela orgulho.
- Vamos querida, está ficando tarde. - Tia Gabriela estava sendo forte, faziam tantos meses que não a vi e quando finalmente, lá está ela, a dor que a fez vir para a Inglaterra e me trazer.
Peguei minhas coisas, eram poucas, eu não tinha nada, gastei metade do meu dinheiro com a quimioterapia de minha mãe, e ainda assim ela está morta e eu não irei me despedir, maldito dia, maldito emprego. Não foi o suficiente passar por todos os estágios do luto quando meu pai morreu? Eu ainda o vejo chegar em casa cansado do trabalho, ainda posso ouvir ele e mamãe brigar por um pedaço de pizza, foi a primeira coisa que comprei com meu salário de uma publicidade que fiz, isso aos 16 anos. Aos 17 deixei minha casa no norte do país para morar em Liverpool com minha tia, a educação boa, a casa bonita, o luxo, nada disso era importante, me mudei para cá assim que meu pai morreu e isso tem me assombrado. Apesar da família de minha tia ser acolhedora e essa casa ser tão minha quanto dela, ainda assim faltava algo, faltava minha mãe. Tínhamos um acordo, eu trabalharia por aqui e enviaria o dinheiro para o tratamento, claro que minha preferência era de que ela morasse aqui e fizesse o tratamento no hospital do Bryan mas, a decisão final dela fora de ficar no Brasil e seguir o tratamento por lá.
Suspirei pesado o suficiente para minha tia ouvir e me abraçar forte e me falar que ficaria tudo bem que ela cuidaria de mim como tem feito todos esses anos, não que eu não seja grata por ter tudo graças a ela mas, ela não é a minha mãe, não é a mulher que trabalhou das 04h00 da manhã até as 00h00 da noite durante toda a vida só porque queria me dar um futuro brilhante, ela não é a mulher que enfrentou o próprio pai para conseguir criar uma filha fora do casamento. Quando nasci, as coisas se tornaram difíceis, mas tia Gabriela sempre ajudou, ela dizia que minha mãe era como uma irmã para ela e mesmo que o papai sempre negasse o dinheiro oferecido, ela sempre dava um jeito de dar o dinheiro.
Abracei forte minha tia, eu sabia que ela estava tão quebrada quanto eu, primeiro seu irmão legítimo, e agora sua cunhada, só tinha restado a ela eu, uma adulta órfã de pai e mãe. Quando chegamos em casa tia Angelina esperava-nos com um sorrisinho fofo nos lábios, parecendo feliz com algo, tia Gabriela foi ao encontro da esposa e logo seu sorriso bonito se desfez e ela tapou a boca em choque, de verdade, eu a preferia sorrindo. Quando adentramos tinha uma caixa enorme na sala e um bilhete dizendo "Feliz aniversário adiantado, filha. Eu te amo!" Mordi os lábios contendo as lágrimas e abri a caixa, eram coisas que mamãe havia me prometido dar quando criança, as roupas bonitas que via na TV, os brinquedos, tudo aquilo era meu e não me serviam mais, eu chorei, chorei porque ela se lembrava de cada um dos meus pedidos de Natal.
Tia Angelina se aproximou ignorando o que tia Gabriela dizia e me abraçou tão forte que me fez querer chorar ainda mais. Muitas vezes quando chorei de saudade de casa, a loira sempre me abraçava e contava o quanto fora difícil sair de casa, ela se via em mim e queria que eu confiasse nela pois ela confiava em mim, construímos algo bonito e singelo, sempre que ela me abraça assim eu sinto que tenho medo de perde-la também. Minha outra tia se juntou a nós no abraço, e eu senti que iria desmaiar, não porque elas estavam com pena de mim e aquilo me sufocava tanto quanto a perda de minha mãe, sim porque estava cansada, a viajem tinha sido longa o suficiente e quando finalmente ponho meus pés no meu lugar favorito do mundo a notícia de que a minha mãe, a mulher que me amou, estava morta chegou por uma mensagem do hospital.
- Vem! Tá na hora de dormir. - Tia Angelina disse me ajudando a ir para o quarto.
- Amanhã, podemos ir ao orfanato doar as coisas? - A loura assentiu e me deu um beijo na testa.
- Claro! - Ela sorriu pequeno e saiu do quarto.
Eu não conseguiria dormir mas, sabia que fingir que estaria dormindo tranquilizaria minhas tias. E assim a noite caiu, com ela veio as lágrimas e o choro agudo, a falta de ar e tudo o que estava sentindo.