Às nove e meia da manhã seguinte, atendi a porta e encontrei Son esperando. Mãos apoiadas no batente da porta e a cabeça inclinada para baixo, ele me lançou um sorriso tímido ao olhar para mim sob aqueles cílios incrivelmente lindos.
— Ainda está bravo?
Engoli em seco. O discurso interminável que eu havia preparado para ele na noite passada – incluindo palavras como ignorante, idiota e babaca – fugiu da minha mente.
— Nunca mais me chame de elefante. — Foi tudo o que saiu em um resmungar baixinho.
— Prometo. — O bobo fez beicinho e até fez sinal de juramento, beijando os dedos em sinal de cruz sobre a boca.
Eu sorri.
— Estamos bem, então.
A bicicleta verde metalizada de Son estava encostada à nossa cerca de madeira baixa. Peguei a minha do quartinho de bagunça e pedalamos juntos para o campo de futebol do colégio.
Perto de cinquenta garotas e garotos do primeiro ao último ano reuniam-se em frente a uma das traves do gol. Alguém estava distribuindo números quando nos juntamos a eles. Já sendo um membro do time, Son não teve que participar das seletivas. Mas eu entrei na fila para pegar o meu.
— Quarenta e sete... Jeon — gritou Richarlison para Susan Miller, que escrevia os nomes em uma lista.
Ele me deu o adesivo, que eu deveria colocar no peito, e sorriu. Até agora, não tinha visto Richarlison sem seu boné, exceto em raras ocasiões, e bem de longe também. Mas hoje, o sol refletia em seu cabelo, sua boa aparência inesperada me deixou desprevenido, e ele me pegou encarando.
Seu tom neutro mudou para um ronronado dissimulado.
— Boa sorte, Jeon.
Quando todos pegaram seus números, ele ergueu a voz sobre o barulho das pessoas conversando.
— Tá legal, pessoal. Para um pequeno aquecimento, quero que corram três voltas pelo campo e voltem para cá.
O pânico me fez gelar por dentro.
— Ele está de brincadeira? Três voltas?
— Não me diga que já se arrepende de tentar entrar para o time.
Eu odiava a risada de “eu te avisei” de Son conforme ele me arrastava pelo gramado aparado e começava a correr ao meu lado.
Engolindo minha resposta, tentei acompanhar seu ritmo – impossível, é claro, quando um de seus passos dava dois do meu. Merda, uma volta parecia ter dezesseis quilômetros. Que se danem Richarlison e seu aquecimento. Quando terminei, desabei na grama, ouvindo apenas minha respiração instável. Graças a Deus, tive a chance de recuperar o fôlego enquanto quarenta e seis candidatos tentavam marcar gols antes da minha vez.
Son me deu um pouco de água do cooler conforme eu imitava um sapo morto por vários minutos. Minha boca e garganta estavam secas. Quando ele se aproximou de mim, sua sombra foi um alívio bem-vindo do sol. Eu me sentei, ansiando pelo copo d’água que ele estendeu para mim.
Mas quando peguei o copo de plástico, eu me decepcionei.
— Só isso? — Segurei a miséria de água naquele copo contra o sol, virando-o de um lado para o outro, vendo se milagrosamente se transformaria em mais. — Tem algo de muito errado com a sua cabeça.
— De maneira alguma. — Ele gargalhou. — Mas como você quase não dá conta de respirar depois dessa pequena corrida, mais água te faria passar mal. Na verdade, seria melhor se você só molhasse a boca e cuspisse.
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Drible Do Amor - Jungkook e Richarlison
FanfictionNo amor e no futebol vale tudo, certo? Jeon Jungkook espera ansiosamente pelo retorno de seu melhor amigo - e sua paixão secreta - Son Heungmin. Mas quando ele volta de sua viagem só tem olhos... para uma garota. Linda, popular e que faz parte do ti...