8. Old stuff, new glass

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Quarta, 13:00, está acontecendo um leilão de antiguidades no maior museu da cidade, localizado no distrito 9, logo acima do 17. Policiais locais e alguns do meu distrito foram chamados para manter a segurança do evento.

Dois policiais em cada porta, detector de metais na entrada, câmeras em todo lugar.

Eu e Flyn estávamos na porta lateral esquerda do grande salão principal. Mais de 50 itens a serem leiloados.

_Essas coisas valem mais que o meu apartamento. – Disse Flyn.

_Idem.

O terceiro item era uma pintura abstrata. Não que eu entenda muito de arte, mas dar como lance inicial 340 mil dólares naquilo?

_Só gente rica pra gastar tanto dinheiro numa coisa feia dessas. – Digo a Flyn.

_Bem que eu queria ser rico desse jeito...

Em meio aos lances do sétimo item, percebo um cidadão suspeito sair do meio da multidão, se dirigindo à saída principal do recinto. Ele usava um chapéu, óculos escuros e jaqueta preta, andava devagar, mas parecia inquieto. Achei melhor averiguar, avisei Flyn que eu já voltava.

Dou a volta pelo corredor atrás de mim e sigo o indivíduo, furtivamente. O vejo entrar por uma porta em um lugar bem afastado do evento. Espero alguns segundos e abro a porta, lentamente.

Ele já tinha deixado a sala por outra saída, dou uma rápida olhada no local, era um pequeno depósito de documentos. Não parecia ter nada faltando ou fora do lugar, então segui o caminho que ele fez, saindo pela outra porta.

Eu estava do lado de fora do museu, nos fundos, onde não havia nada de interessante, exceto pelo quadro de força do museu, mas parecia estar tudo certo com ele, então voltei pra dentro.

Não satisfeito, fui até a sala de vídeo e disse ao encarregado que precisava dar uma olhada nas câmeras em tempo real. Achei o suspeito conversando com outro cara em um corredor vazio perto da entrada do museu, pedi para o segurança dar um zoom. Eu não sou muito bom com leitura labial, mas consegui entender três palavras: luz, duas e coroa.

Deve ser por isso que ele foi até o quadro de luz, ele deve estar planejando cortar a luz para roubar um item no leilão sem ser visto, uma coroa, provavelmente às 14:00.

São 13:34, ainda havia tempo. Eu não podia prende-los sob o pretexto de estarem planejando cometer um crime, apenas durante ou depois, então voltei até o meu posto.

_Você demorou, tá tudo bem? – Flyn me pergunta.

_Tô sim... – Falo baixo. – Escuta, tem alguém planejando roubar o museu.

_O que? Como? - Ele pergunta, surpreso.

_Eles vão cortar a luz 14:00, então vão roubar um item do leilão.

Peguei meu rádio e fiz contato com o tenente Richards:

_Tenente, estão planejando cortar a luz do museu pra roubar alguma coisa, precisamos mandar um ou dois policiais pra ficar de olho no quadro de luz.

_Burkhart, de onde você tirou isso? – Ele responde. – Não vou tirar ninguém do posto com base em nada, nem você, não saia mais daí! Você não é detetive, apenas faça o seu trabalho!

Se o capitão Strother estivesse aqui, ele teria acreditado em mim. Agora eu nem podia sair do meu posto. Dei uma olhada rápida nos itens que ainda não haviam sido leiloados, mas não tinha nenhuma coroa lá.

_Alguém comprou uma coroa? - Pergunto a Flyn.

_Não, nenhuma coroa.

Se não tinha nenhuma no leilão, então onde ela estava?

_Você já veio nesse museu antes?

_Eu venho as vezes. – Flyn responde.

_E eles tem alguma coroa?

_Você quer dizer a coroa do rei Cristian IV que a Dinamarca emprestou pra esse museu semana passada? Tá em uma vitrine super protegida, com senha e tudo mais...

Mas é claro, o leilão era só uma distração. Quando as luzes se apagassem, a polícia ia estar toda no salão, e iam buscar por um ladrão aqui nessa sala. Nunca imaginariam que estariam do outro lado do museu, abrindo facilmente o mostruário tecnologicamente protegido da coroa sem fazer soar nenhum alarme.

O gerador de emergência só entra em ação dois minutos depois do gerador principal dar problema, então eles tinham 120 segundos para pegar a coroa e fugir. Eram 13:54, Richards estava de olho em mim, eu não podia fazer nada.

_Flyn, quando as luzes se apagarem, preciso que você me leve até a coroa, e rápido.

_Tá.

Ele confia em mim, isso é bom.

As luzes se apagam pontualmente às 14:00, Flyn corre pelos corredores e eu o sigo. Não dava pra ver quase nada, e como era um serviço diurno, não tínhamos levado nossas lanternas.

As luzes se acendem e eu vejo os dois bandidos com a coroa e um buraco na vitrine logo atrás deles. Eu e Flyn prontamente apontamos as armas, e eles se renderam no mesmo instante.

_Tenente... – Digo no rádio. – Estamos com os dois culpados na ala C.

Richards aparece em dois minutos e meio com mais dois policiais, ele não acredita no que vê. Enquanto os dois policiais algemam os bandidos, ele diz:

_Burkhart! Você desobedeceu a uma ordem direta!

_E por acaso existe ordem indireta?

_Mais uma dessas e você vai ser suspenso.

_O que isso importa? Eu peguei os bandidos!

_Nem mais uma palavra!

Richards era um porre. Ele não podia nem ficar feliz por eu ter resolvido isso?

15:24 estávamos de volta na delegacia, mas todos estavam parabenizando Richards pela prisão, até aqueles dois policiais que estavam com ele que claramente viram que fui eu e Thomas quem resolvemos o caso. Eu estou muito puto, mas não posso fazer nada. Flyn tenta me acalmar:

_Essas coisas acontecem...

Sou chamado até a sala do capitão, ele pede para que eu feche a porta:

­_Parabéns, Burkhart!

_Por que, exatamente?

_Eu sei que foi você que resolveu esse caso, não precisa ser humilde.

_É, mas o Richards tá lá fora levando todo o crédito...

_Não deixe isso te abalar, continue fazendo seu ótimo trabalho, aposto que um dia você vai estar muito acima dele!

_Você acha?

_Com certeza!

Crimes para esquecer [Degustação]Onde histórias criam vida. Descubra agora