"Ás vezes apenas o desespero faz nos enxergar aquilo que sempre esteve bem diante de nós".
Lorde Albert Davies.
Quando Joan despertou no dia seguinte, sentiu os olhos arderem com a claridade cegante de luz que adentrou pelas janelas arredondadas do navio. Entretanto, se ela pensou que aquilo era ruim o suficiente, estava completamente enganada, pois quando finalmente se levantou, sentiu uma dor aguda e latente penetrar em suas têmporas, deixando-a, definitivamente, muito mal.
Lançou um olhar para o móvel disposto ao lado da cabeceira, deparando-se com a garrafa de uísque quase vazia e praguejou baixinho. Ela ainda trajava as vestes de Davies, e quando pensou nele, lembranças perturbadoras invadiram a mente dela.
— Santos Deus! — exclamou, levando a mão a boca. — Eu beijei Davies!
Sem saber ao certo como agir, Joan ficou imóvel, encarando a cama bagunçada, desejando mais do que tudo, desaparecer do mundo.
Para a sorte da moça, logo o torpor se dissipou e ela recuperou a capacidade de racionar. Desesperada, Joan juntou as vestes que lhe pertenciam, trocou-se rapidamente, e desejando não se deparar com o conde, partiu para fora da cabine, como se fosse uma fugitiva — o que realmente era naquela ocasião.
Pouco tempo depois, a moça, ainda muito assustada, chegou a cabine que lhe pertencia e encontrou Alice, prestes a sair para cumprir com suas obrigações.
— Preciso que troque de posto comigo. Ao menos por hoje. — pediu Joan em um tom de voz repleto de desespero.
Alice, no entanto, escolheu exatamente aquele momento para ser irônica.
— Bom dia, Jolie Taylor! Eu estou bem e senhorita? Como passou o seu dia de folga? Não deu as caras por tanto tempo. Penso eu que foi tudo bem com o conde.
Joan, no mesmo instante, ficou sem graça. Devia o menos ter sido educada, mas em sua defesa, ela estava tão desesperada, que não pensou em mais nada a não ser na necessidade de evitar Davies a qualquer custo.
— Bom dia, Alice. Desculpe-me pela minha falta de modos. Porém, asseguro-te que estou no meio de um caso de vida ou morte. Preciso da sua ajuda. Por favor, troque de posto comigo. — suplicou mais uma vez.
Alice, contudo, cruzou os braços e arqueou uma fina sobrancelha ruiva antes de declarar:
— Se deseja a minha ajuda, terá que me contar exatamente a razão pela qual deseja evitar o conde. Dessa vez, eu não ficarei as escuras sobre as suas ações.
Joan suspirou profundamente, jogando os ombros para frente, e claramente resignada, disse:
— Tudo bem. — Balançou os ombros magros.
— Pode começar. Não temos muito tempo. — advertiu Alice, batendo os pés, impaciente.
— A principio, foi tudo bem. Eu ganhei a aposta, e Davies foi muito submisso ao me servir. Não tive muito o que reclamar. No entanto, as coisas começaram a dar errado após o jantar. Eu comi ostras, Alice! Não sabia que elas soltavam um tal de afrodisíaco que mechem com os desejos, aqueles lascivos, se é que me entende.
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Como Domar Lorde Devil
Historical FictionNo final do século XIX, a sociedade britânica passava por significativas mudanças, todavia um fato continuava imutável: mulheres eram pressionadas a se casar. Na década de 1890, lady Katherine Morrison, mãe do importante duque de Hereford, decidiu q...