"Há uma teimosia em relação a mim que nunca pode suportar ter medo da vontade dos outros. Minha coragem sempre aumenta a cada tentativa de me intimidar."
— Orgulho e Preconceito, Jane Austen
De todos os Morrison's, Joan sempre fora a mais determinada. Desde pequena, quando enfiava algo na cabeça, era difícil de tirar. Sua mãe, lady Katherine, dizia com frequência que era mais fácil o inferno se abrir, do que fazer Joan mudar de ideia. Todos que a conheciam sabiam daquilo, por isso, na maioria das vezes, tentavam não desafiá-la. Todavia, Albert Davies não era como os demais. Ele nunca fugiu de um desafio e era tão determinado quanto ela. Em algum ponto, alguém teria de ceder, mas até lá, só Deus sabe que o poderia acontecer.
No outro dia, tão logo o Sol surgiu no céu, Joan já estava pronta para partir. Tinha a intenção de sair despercebida, antes que todos acordassem. A passos leves, e tentando não fazer muito barulho, percorreu o corredor e desceu a escada com muito cuidado, como se estivesse pisando em ovos. Quando alcançou o último degrau, ela ingenuamente acreditou que tinha concluído a missão com êxito, porém, inesperadamente, Davies surgiu da antessala.
— Vais a algum lugar, senhorita Taylor?
Joan respirou fundo.
O que ele fazia acordado tão cedo?
— Conforme eu disse ontem à noite, estou partindo. — Balançou os ombros.
Davies semicerrou os olhos e se aproximou dela.
— De certo a senhorita pensou que poderia sair sem que ninguém visse. Mas eu a conheço, Taylor, sabia que faria isso. Dormi na sala, de modo a ouvir seus passos ao descer a escada.
Joan escancarou os lábios, completamente indignada com a astúcia daquele homem.
— O senhor não pode me prender aqui contra a minha vontade. Estamos em um país livre, milorde. Eu tenho o direito de partir. — Ergueu o queixo o desafiando.
Davies recuou dois passos para trás.
— Quer partir, então vá. — Apontou a mão em direção a porta. — No entanto, não permitirei que use nenhuma de minhas carruagens, tampouco deixarei que desperte meus funcionários em seus preciosos momentos de descanso. Se quiser ir, será por conta própria. E caso a senhorita não tenha reparado, estamos no canto mais recluso de Staten Island, não há vizinhos por perto, não há nada além de mato e mar. Será uma longa caminhada até encontrar alguém disposto a levá-la até seu destino, seja ele qual for. Além disso, asseguro-te, Taylor, New York é deveras perversa para com estrangeiras dotadas de carregado sotaque britânico como o seu. Dito isso, basta apenas desejar boa sorte. — Deu as costas para moça e saiu dali.
Por um momento, Joan não moveu um músculo sequer. Permaneceu parada no último degrau, segurando as malas, olhando fixamente em direção a saída, incerta do que deveria fazer. No entanto, após muito refletir, seja por orgulho ou estupidez, ela saiu pela porta, deixando aquela casa para trás.
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Como Domar Lorde Devil
Ficção HistóricaNo final do século XIX, a sociedade britânica passava por significativas mudanças, todavia um fato continuava imutável: mulheres eram pressionadas a se casar. Na década de 1890, lady Katherine Morrison, mãe do importante duque de Hereford, decidiu q...