Número Um

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Uma semana depois, Nicolas se encontrava novamente em minha casa. Eu segurava uma grande cartolina com muito glitter e purpurina, nela estava escrito os números de um a doze acompanhados por doze envelopes coloridos. Fazia um tempo que eu não me animava assim, mas depois de três xícaras de chocolate quente, o açúcar fazia seu efeito em meu corpo.

Havia dado um trabalhão, principalmente na hora de limpar todo aquele glitter, mas eu estava orgulhosa de mim.  Meu melhor amigo me encarava com um claro deboche no olhar, obviamente achando tudo isso um exagero ridículo. 

Tentei fazer com que a lista estivesse com uma cara mais "importante", então agora tínhamos um grande cartaz (que daria de dez a zero em qualquer trabalho que um dia eu fiz na escola). Alguns cachos escapavam do meu coque enquanto eu pulava animada. Meu amigo me encarou e questionou rindo:

- Pra quê tudo isso?

- Para te apresentar a melhor lista de todos os tempos – tentei bater palmas mesmo com as mãos ocupadas  - Você está preparado para isso? Te garanto que só pensei em coisas incríveis!

- Se você falar mais baixo, sim - ele provocou - Qual o primeiro item?

- Antes de você ver - umedeci os lábios - Precisa assinar o nosso acordo, não quero saber de desistências!

Sim, eu tinha feito uma espécie de contrato, impresso e tudo. Estava até em papel envelhecido! Nicolas tentou manter uma postura séria enquanto assinava, provavelmente com receio de apanhar caso fizesse alguma gracinha. O que eu não duvidava, pois tinha dedicado as últimas três madrugadas para deixar esse contrato com um ar mais sério e profissional. Quase pedi a ajuda de meu pai, porém mudei de ideia assim que refleti no que havia acabado de pensar. Após assinar, peguei o papel e o guardei em minha escrivaninha. Voltei para perto da cartolina e anunciei imitando uma apresentadora de um daqueles programas de televisão:

- Pode pegar o primeiro papel!

Meu amigo caminhou até o cartaz e removeu o primeiro envelope. Ele abriu devagar, franzindo a testa ao ler:

- Número um: comer algo que nunca comeria na sua vida.

- Eu adorei essa - vibrei ainda "encarnando" meu papel de apresentadora - Vou somente pegar minha bolsa e podemos ir!

- Espera - pediu - Vamos agora? O que vamos comer?

- O que você se nega a comer até hoje - expliquei - Pode ir citando os alimentos que iremos escolher a melhor opção.

- Que loucura -  riu - Como isso me faria viver? No máximo vai me fazer vomitar, não viver. 

- Sabe - comecei - Viver é isso: colocar nossas dúvidas e receios de lado e simplesmente arriscar! Tá, a comida que você escolheu pode ser horrível, mas também pode ser sensacional. Quantas vezes não experimentamos coisas só porque cismamos que seria ruim? Será que é válido mesmo deixar de tentar algo por receio de que não vai ser bom?

- Já entendi - Nicolas bufou - Meu Deus, por que tanta filosofia em? Você está estranha Alícia. É a sua menstruação chegando?

Meu rosto ficou quente de vergonha, mas disfarcei enquanto colocava a cartolina com cuidado encima da mesa. Não, eu não estava menstruada, apenas tinha me dedicado demais para escolher os itens certos. Chegava a ser irritante ele pensar que tudo isso era questão de hormônios. 

- Só... - engoli em seco - Parei para refletir enquanto fazia sua lista. Queria que fosse algo perfeito, sabe?

- Entendi - meu amigo deu de ombros - Bem... Me deixa pensar em alguma comida então.

Eu sabia exatamente quais eram as comidas que Nicolas não ousava comer, mas preferi não dar palpite e esperar escolher alguma coisa. Desejava que ele acabasse escolhendo algo que eu já gostava, pois não seria sacrifício nenhum comer junto dele. Observei meu amigo refletir por um tempo e falar:

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