Perdão

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Era engraçado como as coisas mudavam tanto em tão pouco tempo. Quando eu cheguei aqui, imaginava que colocaria um ponto final em uma fase da minha vida e seguiria normalmente. No momento em que planejei esse item, acreditei que era apenas um desfecho que precisávamos fazer para alcançarmos nossa paz interna. E sinceramente, havia mentalizado que era um passo mais importante para Nicolas do que para mim. 

Só que, obviamente, eu estava enganada.

Eu tive medo de uma possível brigar, de abrir novas feridas em meu coração e me arrepender amargamente de dar uma chance a uma antiga minha. Mas agora, eu me sentia com uma nova perspectiva sobre toda a situação, havíamos sido transparentes como nunca, deixando exposto todas as nossas expectativas frustradas. Cristina havia sido vítima também, assim como eu. Céus, quem imaginaria?

Eu sempre a evitei pelos corredores, mas conseguia ver sua pose durona, seus sorrisos e até troca de carícias com ele no intervalo. Era terrível saber que tudo era uma grande fachada e que Cristina sofrera durante cada momento perto daquele monstro. 

Eu também me lembrava da inveja que sentia, da raiva por ter perdido meu único namorado e minha melhor amiga. Por muito tempo semeei a ideia de que eu fora injustiçada pelo destino, pois em um golpe só perdi duas pessoas importantes. Agora, o eco em minha alma era confuso. 

Ela me encarava com uma certa expectativa, talvez tão confusa quanto eu. Não fazia ideia do que pensou quando a convidei para me encontrar, mas será que ela estava tão leve quanto eu agora? Inevitavelmente, ela também estava triste comigo, afinal eu nem sequer tinha dado oportunidade a ela de se explicar até hoje. E muito provavelmente nunca daria se não fosse a lista de Nicolas. 

Isso me fazia pensar no quanto eu me sentia grata por ter iniciado esse lance com ele, a forma em que algo tão ruim quanto essa doença nos proporcionou momentos importantes e agora me ajudava a dar um passo e tanto na minha vida pessoal.

 Dei um gole no meu café, que havia ficado intocado por tanto tempo que o chantili estava se desfazendo. O gosto adocicado da bebida me acalmou um pouco e desviou meus pensamentos por um instante. Era estranho estar ali, sentada em uma cafeteria comum enquanto meu peito e minha mente estavam tão agitados. 

- Eu sinto muito por tudo o que passou Cristina, de verdade - fui sincera - Não posso te garantir que as coisas seriam diferentes caso tivesse me contado antes, mas se serve de uma coisa, me sinto extremamente idiota por não ter te dado ouvidos. É lastimável pensar que você passou por tudo isso sozinha e ainda teve que lidar com todo o estranhamento do pessoal da escola, porém eu te garanto que nunca dei gás a nenhuma das fofocas que circulavam pelos corredores.

- Eu nunca te culpei por isso - sorriu triste - Porquê... Parte de mim ainda gostava dele, principalmente depois do aborto. Ele se tornou um ponto importante na minha vida, por mais que houvesse momentos em que eu odiava estar com ele. Então eu lidei com a fama de talarica, pois de certa forma eu gostei dele de verdade.

- Como saiu dessa? - questionei - Tipo, o relacionamento de vocês durou até que bastante, quem está do lado de fora nunca conseguiria imaginar a barra que você aguentava.

- Eu passei a morar com ele, foi um inferno - apoiou o rosto nas mãos - Minhas notas caíram, perdi a chance em algumas faculdades e me tornei dependente emocional e financeiramente dele. Eu tentava procurar o rapaz engraçado e gentil que ele era quando namorava com você, mas só encontrei o homem repugnante e cruel que me acusava de tudo. Me culpava pelo tratamento que recebia, afinal, com você ele sempre foi tão incrível! Me sentia um lixo, a pessoa errada que ele aturava por pena. 

- Ah Cristina - lamentei. 

- Mas eu segui em frente - fungou - Por muito tempo acreditei que era um carma sabe? Por ter traído nossa amizade. Comecei a ter indícios de depressão, mas não me dei o luxo de ficar mal. Eu era a culpada, havia escolhido beber e traí a única amiga verdadeira que tinha. Então eu aguentei tudo o que me lançavam, os olhares tortos na escola, os cochichos da família.

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