Estranho

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- Fazia um tempo que eu não me divertia assim - informei risonha.

- Que bom que gostou - Théo passou os braços pelos meus ombros.

Seu perfume refrescante me fez fechar os olhos por um breve momento, aproveitando o cheiro bom. Depois do lanche, dividimos um sorvete enquanto conversávamos sobre coisas aleatórias e como consequência, eu ainda podia sentir o cheiro do doce de morango vindo de seus lábios. Foi maravilhoso esquecer um pouco dos meus problemas e fingir que tudo a minha volta era perfeito. Durante toda a conversa, o rapaz me ouviu com atenção, parecendo verdadeiramente interessado na nossa conversa.

Não contei sobre meus pais, a escola ou Nicolas. Contei sobre mim, meus hobbies esquecidos, meus sonhos para o futuro, minhas músicas favoritas e como eu adorava viajar para as cidades vizinhas. Théo me deixou tagarelar entre uma colherada e outra, prestando atenção até nos mínimos detalhes e rindo das minhas piadas. Eu particularmente não sabia quanto tempo havia gasto jantando com ele, mas com toda a certeza não me esquecerei desse dia. 

Era bom ser ouvida assim, ver a forma como continuava a conversa e não disferia comentários sarcásticos a minha pessoa. Eu tinha certeza de que se fosse um almoço, não olharia a hora em nenhum momento. Mas infelizmente era noite, e eu não poderia me demorar dessa forma.

Além disso, o rapaz também me contou muita coisa sobre ele. Descobri como era difícil criar animais de estimação, como era desafiador morar sozinho em uma cidade nova e ri tanto que me faltou ar. Eu não me importava se estávamos em público e que provavelmente estávamos recebendo julgamentos, quando foi a última vez que ri tanto?

Théo me guiou até a saída e paramos na calçada. O clima havia esfriado e poucas pessoas passeavam pela rua. O céu estava estrelado e me permitir observa-lo por alguns segundos, completamente feliz que meu plano havia dado certo. O jovem ajeitou o cabelo com a mão livre e questionou:

- Vai esperar seu amigo? Vi que você chegou aqui com ele...

- Sim - concordei - Se quiser, pode ir embora. Não acho que ele vá demorar.

Na verdade, eu nem havia me tocado de que meu amigo ainda estava jantando com sua acompanhante, o que era um claro sinal de que ele estava gostando da companhia também.  Instantaneamente um incômodo surgiu em meu peito ao me lembrar do encontro dele e precisei me esforçar para não fazer uma careta. Não era isso o que eu queria desde o início? Sua felicidade? Que aproveitasse esse encontro e a sensação de viver normalmente? Então por que isso me incomodava?

 Balancei a cabeça, espantando essa sensação e foquei no rapaz a minha frente, que parecia alheio a minha mudança repentina de humor. Eu torcia para que Nicolas não demorasse, pois não queria voltar para casa sozinha. Era egoísta pensar dessa forma, porém eu não queria me ver sozinha depois de um encontro, e não queria voltar com o rapaz que estava a minha frente. Théo deu de ombros e afirmou:

- Vou esperar com você.

- Não quero incomodar - falei sem jeito e encarei meus tênis - Não se preocupe.

- Não seria educado te largar aqui -  estalou a língua - Podemos nos sentar naquele banco e observar o movimento do restaurante, ainda está cedo então não é um perigo esperar um pouco hm? Além disso é bem perto, assim que seu amigo sair, vamos ver ele.

- É uma boa ideia - concordei e sorri - Vamos.

Aproximamo-nos do banco que ficava do outro lado da rua e nos sentamos. Ali dava para notar o quanto o restaurante estava cheio de pessoas, de uma forma que eu não conseguia visualizar meu amigo. Pela primeira vez na noite, me questionei se Nicolas estava gostando do encontro como eu gostei. Senti uma onda de... Culpa?

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