Caindo na real

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O baile foi incrível! Dançamos por horas e comemos muita coisa. Nicolas havia ficado comigo durante todo o restante da noite. De alguma forma as senhoras descobriram que estava rolando algo entre a gente e nos deixaram quietos. 

Nos beijamos algumas vezes, mas não conversamos sobre isso. Eu tinha decidido que não iria pensar no futuro durante aquele baile, iria apenas curtir e relaxar como se não houvesse um amanhã. Quando cheguei a minha casa, foi um esforço enorme trocar de roupa e tomar um banho antes de desabar na cama.

No outro dia, senti meu corpo dolorido por todo o esforço de ontem, mas o sorriso bobo ainda permanecia em meus lábios. Parecia que meu corpo flutuava e senti arrepios ao lembrar-me dos beijos que Nicolas me deu. Estava tão cansada ontem que não pensei muito sobre o assunto, mas hoje meu coração clamava por mais beijos como aquele. 

Mas hoje, enquanto tomava um café tranquilamente na sala de jantar, tocava meus lábios e me perdia em lembranças. Estava que nem uma boba apaixonada, mas que diferença fazia? Eu gostava daquela sensação. Será que ele também estava pensando no baile? Na gente?

 Empilhei o que havia sujado na pia e ao retornar para o quarto, vi que o visor do meu celular brilhava.

Não me aproximei a tempo de atender a ligação, mas logo uma mensagem surgiu em minha tela de bloqueio que era enfeitada por uma foto minha ao lado do meu melhor amigo - que agora eu sabia que gostava de mim da forma que eu gostava dele -.

Era Marta!

"Querida, Nicolas está piorando".

Parecia que eu tinha recebido um banho de água fria, levei algum tempo para absorver aquelas palavras, como se minha mente tivesse se tornado gelatina e se negasse a entender o que estava acontecendo. Meu corpo ficou tenso e hesitei alguns segundos antes de sair correndo. 

Escovei meus dentes com tanta pressa que senti o gosto de sangue em minha boca. Enfiei-me na primeira calça jeans e não penteei o cabelo, apenas fiz um rabo de cavalo. Não chequei o resultado da minha arrumação, apenas catei meu celular, coloquei comida para Tapioca e corri quarto afora. Mas, antes que eu pudesse sair de casa, ouvi me chamarem:

- Alícia venha aqui por favor.

- O que foi? – encarei meus pais.

- Já está de saída? – minha mãe estalou a língua – Não acha que está cedo demais para sair assim? E céus, que cara horrível! Não pode simplesmente perambular pelas ruas como se fosse uma largada. 

- E agora você se importa? – rebati - Estou com pressa, não posso me dar o luxo de ficar me enfeitando para te agradar. 

- Queremos falar uma coisa com você – meu pai cruzou as mãos sobre a mesa – E depois você pode ir para onde quiser.

- Precisa mesmo ser agora? – fiz careta – Estou com muita pressa, tipo, muita pressa mesmo. 

- Sim – minha mãe ergueu o queixo – Agora, então deixe de teimosia e se sente aqui.

Suspirei frustrada e praguejei baixinho enquanto caminhava em direção a mesa. Puxei uma cadeira e me sentei em frente aos dois. Não fazia ideia desde quando tinha sido a ultima vez que eu tinha me sentado assim com eles, muito menos a ocasião em que nos sentamos assim na maior boa vontade. Era ridículo como as vezes aqueles dois gostavam de se iludir pensando que éramos uma família.

E no fundo, não sentia nenhuma falta desses momentos em família. Era impossível desejar algo que nunca tive com eles. Nossos momentos harmoniosos sempre foram graças as câmeras distribuídas pela casa, e quando essa fase passou, o silêncio e a indiferença se fizeram presentes. 

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