Saí de casa logo cedo, tinha tomado meu café as pressas. Era um domingo ensolarado e eu queria evitar contato ao máximo com meus pais. Ambos estavam em casa e eu conseguia ouvir mais pessoas no andar de baixo, provavelmente a equipe da minha mãe. Desci lentamente e consegui escapar para o quintal sem ser vista. Depois de muito tempo sem curtir o ambiente, resolvi pedalar até a casa do meu namorado.
Cambaleei um pouco (e talvez quase tenha atropelado alguns gatos) e bufei frustrada. Quando foi a ultima vez que eu tinha andado num negócio desses? Não diziam que era impossível esquecer como se anda de bicicleta? Graças aos céus eu consegui chegar a salvo. Coloquei a bicicleta na garagem e corri até o quarto dele. Marta estava concentrada na cozinha então optei por não incomodar ela. Nicolas sorriu ao me ver e falou:
- Oi meu bem.
- Como você está? – me aproximei.
- Já estive melhor – ele respondeu – E você?
- Estou bem – declarei.
Acomodei-me ao seu lado e inspirei seu cheiro. Era notável que tinha acabado de sair do banho, o cheiro do sabonete estava mais forte. Inclinei-me em direção do seu pescoço e o vi respirar fundo. Passei meu braço pelo seu corpo e o puxei para perto, meu coração se aquecendo por estar ali com ele. Depois de alguns segundos, meu namorado comentou:
- Estou com um pouco de dor.
Imediatamente recuei, me odiaria se causasse mais desconforto a ele. Analisei seu belo rosto, percebendo que sua pele estava um pouco mais pálida que o comum. Mordi o interior da bochecha, tocando sua testa afim de conferir sua temperatura.
- Você quer algum remédio? – ofereci – Eu posso pegar para você.
- Já tomei todos que podia – ele explicou – Mas tudo bem, não pretendo me mexer muito.
- Você quer que eu me afaste um pouco? – tentei disfarçar minha aflição, pronta para levantar da cama.
- Não, por favor – Nicolas negou – Fica aqui comigo, gosto de ter você aninhada em mim.
- Eu também – me aconcheguei ainda hesitante - Mas não quero que sinta mais dor.
Senti seus dedos iniciarem uma sessão de cafuné em meu cabelo e fechei os olhos para aproveitar o momento. O silêncio confortável pairou ali, de uma forma que eu só conseguia com ele ao meu lado. Meu medo foi esvaindo para fora de mim e enfim pude aproveitar nosso momento juntos. Meu namorado deslizou os dedos pelo meu braço e me elogiou:
- Você está muito linda, amo quando veste azul.
- Obrigada – meu sorriso aumentou – Você também está lindo.
- Queria que fosse possível passar todos os dias assim – ele me apertou levemente – Confortáveis, em silêncio e com você ao meu lado.
- Futuramente passaremos muitos dias assim – prometi.
- Ah – Nicolas diminuiu seu aperto – Teremos sim.
Segurei a sua mão e entrelacei meus dedos nos dele. Observei nossas mãos, o contraste das nossas peles, seus dedos finos levemente gelados. Ficamos assim por alguns minutos, só curtindo a presença um do outro. Até que dona Marta apareceu e perguntou se não iríamos almoçar. Me pus de pé e Nicolas passou as mãos no rosto antes de questionar:
- Poderíamos almoçar aqui?
O medo voltou a me assombrar e eu tentei disfarçar. Mesmo sabendo que as coisas não estavam bem, não pressionei ele. O conhecia por tempo suficiente para saber que não diria mais nada. Por isso, concordei com a cabeça e fui buscar os pratos. Torcia para que caso piorasse, fosse sincero e pedisse para ir ao hospital. Ao chegar à cozinha, minha sogra fez careta e perguntou:
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Lista
RomanceApós se deparar com a idéia de que poderia perder seu melhor amigo para uma doença horrível, Alícia tenta fugir da dura realidade e busca entregar o mínimo de felicidade a Nicolas. Em meio a tantas limitações, ela bola uma lista com metas que - talv...