Hospital

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- Alícia?

Não consegui reconhecer a voz que me chamava. Abri meus olhos e resmunguei por causa da claridade. Demorou um tempo para conseguir enxergar as coisas a minha volta, o teto branco, as paredes apáticas, o colchão desconfortável, as cadeiras duras ao lado da cama...

Eu estava em um quarto de hospital, minha mãe conversava com um médico e Marta estava ao meu lado, olhando fixamente para as próprias mãos. Seu rosto estava inchado e mesmo de cabeça baixa eu conseguia notar o nariz avermelhado, denunciando o choro silencioso que fazia seu corpo tremer. Quando ela viu que eu tinha acordado, segurou minha mão com cuidado e falou:

- Você está bem graças a deus!

- O... o que aconteceu? – minha garganta doía à medida que eu ousava falar – Por que estou aqui?

- Você simplesmente apagou querida – minha sogra fez carinho no meu cabelo – E permaneceu inconsciente até hoje.

- Como assim "até hoje"? – franzi a testa, me soltando do seu toque enquanto tentava me sentar – Quanto tempo eu passei aqui?

- Sete dias – minha mãe bufou – Estávamos com medo de você entrar em coma, os médicos fizeram inúmeros exames para ver o que você tinha.

Sete dias?

Isso significava que eu tinha perdido o enterro de Nicolas. Encarei Marta e procurei algum sinal de que o meu Nicolas ainda estava vivo, que estava bem, que tinha se recuperado. Procurei por algum resquício do meu namorado, da esperança de vê-lo bem, de ter sido apenas um susto ou mal estar da sua parte.

Mas Marta ela aparentava um cansaço enorme, seus olhos estavam cansados e parecia cada vez mais velha. O corpo curvado, a pele fria, como se estivesse morta por dentro. Sua mão ainda estava perto da minha, me proporcionando a visão das suas unhas roídas e machucadas. Sentei-me devagar e perguntei com cuidado:

- Meu namorado... Ele está bem?

- Ah Alícia – qualquer controle que aquela mulher tinha, desabou ao me ouvir.

- Minha filha – até Elise carregava uma delicadeza na voz – Seu namorado infelizmente não resistiu e...

Num rompante de infantilidade e negação, levei as mãos aos meus ouvidos para impedir suas palavras de serem ouvidas. Eu não queria que ela me falasse aquilo, queria ver o meu amor passando por aquela porta com seu sorriso lindo, me beijando com delicadeza e fazendo piada por ser eu a paciente dessa vez.

- Não – a interrompi – Pare com isso Elise, você está mentindo né?

Minha mãe recuou com uma expressão confusa e triste. Eu conseguia notar o quanto ela me achava ridícula por estar agindo assim, mas eu não era capaz de aceitar aquele fim. Comecei a tentar puxar o ar para o meu corpo, mas parecia ser impossível respirar corretamente. Mexi-me, tentando me levantar para sair dali. Imediatamente elas me interromperam:

- Alícia fique calma, por favor.

- Cadê Nicolas? – questionei – Por que ele não está aqui comigo? Ele não pode ter morrido Marta, ele estava tão bem! 

- Querida – Marta segurou meu rosto – Temos que aceitar que isso aconteceu. Eu sei que é horrível, mas ele morreu. Nosso garoto se foi. Sua mãe me garantiu que você vai começar a terapia assim que receber alta, então não se preocupe está bem? Logo você vai assimilar tudo de uma forma menos dolorosa. 

Comecei a chorar, não era possível que tudo isso fosse real. Afastei-me delas e de tudo que me segurava na cama. Eu queria sair, correr para bem longe da minha realidade. Por que eu tinha que passar por isso? Por que eu precisava ficar sem ele? Elise agarrou meus ombros com força e mandou:

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⏰ Última atualização: Jun 15 ⏰

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