Capítulo 7

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04h02 Hora da Costa Leste - 09h02 Hora de Greenwich

Jenna acorda repentinamente sem nem perceber que estivera dormindo de novo. O avião ainda está escuro, mas dá para ver uma luz clareando as janelas. As pessoas estão começando a se mover, bocejar e se espreguiçar, e também a devolver bandejas de ovos mexidos com bacon velho para as comissárias de bordo, que estão incrivelmente bem dispostas e arrumadas, mesmo depois de uma viagem tão longa.

A cabeça de Gwendoline está no ombro dela desta vez, sustentando a de Jenna.
Ela tenta ficar totalmente imóvel, mas seu braço treme e se move. Gwendoline desperta como se tivesse levado um choque.

— Desculpa — dizem ao mesmo tempo e Jenna repete. — Desculpa.

Gwen coça os olhos como uma criança acordando depois de um sonho ruim
e fica olhando para ela por algum tempo. Jenna sabe que deve estar horrorosa,
mas não se ofende com a reação dela. Quando entrou no banheiro apertado e se
olhou no espelho ainda menor, ficou surpresa ao ver como estava pálida, com
olhos inchados por causa do ar viciado e da altitude.

Ela piscou diante do reflexo, achando-se horrível, e ficou se perguntando o que Gwen tinha visto nela. Não costumava se preocupar muito com cabelo e maquiagem, nem passava muito tempo na frente do espelho, mas era pequena, morena e bonita o suficiente para chamar a atenção dos garotos e as vezes das garotas na escola. Mesmo assim, a imagem no espelho a deixou preocupada, e isso foi antes de cair no sono pela segunda vez. Nem dava para imaginar como estava seu rosto agora. Cada parte de seu corpo está dolorida de tanto cansaço e seus olhos doem; tem uma mancha de refrigerante na gola da camisa e nem quer pensar em como está seu cabelo neste momento.

Gwen também está diferente. É estranho vê-la naquela luz; é como colocá-la numa TV de alta definição. Seus olhos ainda estão inchados de sono e tem uma marca que vai da bochecha até a testa, onde estava apoiado na camisa de Jenna. Mais que isso, ela parece estar sem energia e cansada, com os olhos avermelhados e muito distantes.

Gwen arqueia as costas para se espreguiçar e olha no relógio.

— Estamos quase lá.
Jenna concorda e se sente aliviada por não terem se atrasado, mesmo que queira um pouco mais de tempo. Apesar de tudo — do voo lotado, do assento desconfortável e dos cheiros que estão tomando o ambiente —, ela não se sente pronta para sair do avião, onde foi tão fácil se perder nas conversas e esquecer tudo o que deixou e o que estava por vir. O homem à frente abre a janela e uma coluna de luz branca — tão repentina
que Jenna quase cobre o rosto com as mãos — ilumina tudo, afastando a
escuridão, acabando com o que restara da magia noturna. Ela abre sua janela, pois o encanto já tinha acabado oficialmente. Lá fora, o céu é de um azul que cega, cheio de nuvens em camadas, como um bolo. Depois de tantas horas no escuro, olhar por muito tempo chega a doer.
São apenas quatro da manhã em Nova York. A voz do piloto nos alto-falantes é alegre demais para aquele horário.

— Bom dia a todos — diz ele —, estamos fazendo a aproximação final no
aeroporto de Heathrow. O tempo está bom em Londres, 22 graus, parcialmente
nublado com possibilidade de chuva mais tarde. Vamos pousar em pouco menos
de vinte minutos, portanto, afivelem os cintos. Foi um prazer voar com vocês, aproveitem a estada.

Jenna se vira para Gwen.
— Quanto é isso em Fahrenheit?
— É quente — responde.
Jenna está sentindo calor; talvez seja a previsão do tempo, o sol batendo na
janela ou apenas a proximidade da Gwen ao seu lado, com a camiseta amassada
e as bochechas vermelhas.
Ela se estica para abrir a saída do ar no painel acima delas e fecha os olhos,
sentindo o jato de vento frio.
— Pois é — diz Gwen, estalando um dedo de cada vez.
— Pois é.

A Probabilidade Estatística do Amor À Primeira VistaOnde histórias criam vida. Descubra agora