Capítulo 8

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05h48 Hora da Costa Leste - 10h48 Hora de Greenwich

A fila do táxi está tão longa que chega a ser cômica. Jenna carrega a mala até o final, onde fica atrás de uns americanos com camisas vermelhas, todos falando muito alto. O Heathrow está tão lotado quanto o JFK, só que sem a desculpa do Quatro de Julho. Ela espera a fila andar, e a falta de sono finalmente começa a pesar. Tudo parece fora de foco, desde a fila até os táxis pretos esperando em silêncio e solenemente, como num funeral.
— Não pode ser pior que Nova York— disse Jenna para Gwendoline quando ela
comentou sobre o Heathrow. Gwen nem argumentou, apenas balançou a cabeça.
— Um pesadelo logístico de proporções épicas. — Foi como descreveu o aeroporto, e com razão. Ela balança a cabeça como se quisesse tirar água do ouvido. Gwen foi embora, diz para si novamente. É isso. Tem que ficar de costas para o terminal para
resistir à vontade de voltar e procurar por ela. Uma pessoa contou certa vez que há uma fórmula para o tempo que se leva
para esquecer alguém: é a metade do tempo que ficaram juntos. Jenna tem lá suas dúvidas sobre essa teoria, um cálculo tão simples para uma coisa tão complicada quanto um coração partido. Afinal de contas, seus pais ficaram casados por quase vinte anos e o pai levou apenas alguns meses para se apaixonar de novo. E quando Mitchell terminou com ela depois de um semestre todo, ela levou apenas dez dias para sentir que tinha acabado de verdade. Mesmo assim, é bom saber que passou apenas algumas horas com Gwendoline, pois isso significa que o nó em seu peito vai se desfazer antes do fim do dia. Quando finalmente chega sua vez, procura pelo endereço da igreja enquanto
o motorista — um homem pequeno com barba tão grande e branca, que se parece com um gnomo — joga a mala com força no porta-malas ao mesmo tempo que conversa sem parar no fone do celular. Novamente, Jenna tenta não pensar nas condições do vestido que será forçada a usar. Entrega o endereço para o motorista, que entra no táxi sem nem falar com sua nova passageira.
— Quanto tempo vai demorar? — pergunta ao entrar no carro. Ele interrompe, soltando uma gargalhada bem alta.
— Bastante tempo — responde e se junta ao tráfego lento.
— Que bom — murmura Jenna.
A paisagem passa pela janela por trás de uma camada de neblina e de chuva.
Há um tom de cinza que parece tomar conta de tudo, e mesmo que o casamento seja num lugar fechado, sente certa compaixão por Charlotte; qualquer pessoa ficaria chateada com esse tempo no dia do casamento, mesmo sendo britânica e
passando a vida inteira naquele clima. Há sempre um pedacinho de esperança de
que esse dia — o seu dia — vá ser um pouquinho diferente. Quando o táxi entra na estrada, os prédios baixos dão lugar a casas estreitas de tijolos, grudadas umas nas outras, em meio a antenas e jardins cheios de coisas. Jenna sente vontade de perguntar que parte de Londres é aquela, mas sente que o motorista não seria um guia muito entusiasmado. Se Gwendoline estivesse ali, com certeza, estaria contando histórias sobre aqueles lugares, além de alguns mitos e fábulas para deixá-la curiosa.
No avião, ela havia contado sobre viagens à África do Sul, Argentina e Índia com a família, e Jenna escutou com os braços cruzados, sonhando estar indo para um desses lugares. Não era um delírio tão grande. Estavam num avião, então não era tão difícil imaginar que podiam estar viajando para algum lugar juntos.
— Qual lugar você gostou mais? — perguntou. — De todos os que já visitou,
qual foi o melhor?
Gwendoline pensou um pouco até que aquela expressão de conto de fadas apareceu em seu rosto.
— Connecticut.
Jenna gargalhou.
— Claro — disse —, quem iria para Buenos Aires, podendo ir para New Haven?
— E você?
— Acho que o Alasca. Ou o Havaí.
Gwendoline ficou impressionada.
— Nada mal. Os dois estados mais abandonados.
— Já estive em todos menos um, sabia?
— Mentira.
Jenna fez que não.
— Verdade. A gente costumava viajar de carro quando eu era mais nova.
— Então vocês foram até o Havaí de carro? Como foi?
Ela riu.
— Nós achamos que fazia mais sentido ir para lá de avião, na verdade.
— Qual estado falta?
— Dakota do Norte.
— Por quê?
Ela encolheu os ombros.
— Só nunca tive a oportunidade de ir lá.
— Quanto tempo será que leva para dirigir até lá, saindo de Connecticut?
Jenna riu.
— Você consegue dirigir no lado direito da rua?
— Consigo — disse Gwendoline, fingindo estar zangada. — Sei que é chocante
pensar que consigo guiar um veículo no lado errado da rua, mas sou muito boa
nisso. Você vai ver, quando fizermos nossa incrível viagem à Dakota do Norte
um dia.

A Probabilidade Estatística do Amor À Primeira VistaOnde histórias criam vida. Descubra agora