Viver é um fardo

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Só para deixar claro essa fanfic vai abordar assuntos um pouco delicados,podendo conter gatilhos, então caso isso aconteça, não continuem lendo POR FAVOR.

E se alguém está passando por uma depressão, recomendo que procurem ajuda psicológica e médica. Depressão é coisa séria.

Caso precisem de alguém para desabafar também, podem me chamar no pv, não será incômodo.

Eu farei o possível para não deixar a fanfic com um clima pesado, conforme eu for abordando esse assunto.

Os capítulos serão postados todos os sábados para vocês terem um descanso mental diante do tema apresentado.

É isso. Boa leitura!

Eu olho para a sacada do meu prédio, um vento forte bate nos meus cumpridos cabelos pretos, que se balançam. Meu corpo também balança, para trás e para frente, e por um momento sinto minhas mãos querendo desprende-se, elas soam e eu quase não consigo segurar.

É somente um impulso para eu cair do vigésimo andar e atingir o chão. Eu não me preocupo se meu crânio ou ossos vão fraturar, só desejo que o vazio passe, que a solidão vá embora. Que eu vá embora.

Curvo meu corpo um pouco mais a frente, e não tem ninguém lá embaixo, talvez seja a hora certa, talvez eu devesse tacar-me agora.

O que leva alguém cometer suicídio? A angústia que preenche o peito? A insatisfação da vida?

Porque eu tenho que viver como um fardo, eu me vejo como um fardo, um fardo pesado, que as pessoas carregam só por obrigação, mesmo sabendo que vão ficar com as costas corcundas, elas continuam carregando-me.

- Ding-Dong - A campainha toca, não só uma vez, mais duas. A pessoa não tira o dedo da campainha, e ela continua a tocar, incomodando o meu ouvido. E como não respondo nada, uma voz chama-me através da porta, em alto e bom som, que tenho a certeza que os vizinhos do lado também escutaram.

Minhas mãos escorregam pela sacada, soltando aos poucos, meu tronco também solta-se, para trás. E quando vejo meus pés já estão caminhando em direção a porta, suspirando.

E obviamente não foi um suspiro de alívio, porque se eu tivesse jogado-me, claramente eu não estaria aqui atendendo a porcaria da porta.

- Você demorou, estava fazendo o quê? - Ela não espera eu responder, e vai abrindo espaço para que a própria entre, enxergo isso como uma audácia, mas sempre foi desse jeito.

- Estava no quarto - Revelo, sentindo-me mal por mentir, mas não posso contar a verdade, não posso despejar isso nela. Já não seria a primeira vez que tento um suicídio, e ela sempre vem salvar-me.

Tenho o questionamento de como ela aguenta carregar alguém como eu.

- Eu trouxe comida, você já comeu? - Nego com a cabeça, então ela olha para mim, e sei que repara nas minhas orelhas, na minha aparência cansada, na minha pele pálida que não toma mais sol, e principalmente no meu corpo magro. - Jennie, você anda comendo?

Não retruco para sua pergunta, então ela olha a pia, assim como também checa a geladeira, e pelo seu olhar eu sei que vem um repreendimento.

Mas a bronca não vem.

- Eu vou fazer umas comidas e deixar pronta pra você - Fala, e eu balanço a cabeça para cima e para baixo, querendo que ela faça isso o mais rápido possível. Sua presença e a do meu pai é a única que suporto.

Mesmo que toda vez que eles vem eu quero que vão embora como um raio, não sou de lidar com pessoas, e acho difícil quando lido, e deve ser exatamente por esse motivo que já faz cinco anos que estou trancada em casa.

Esparramo meu corpo pelo sofá, procurando algum canal descente na televisão, e a única coisa que encontro é um desenho animado do Bob Esponja. Anos atrás eu acharia engraçado esse desenho, mas agora ele não tem mais graça, eu não tenho mais graça.

E sei que sou uma pessoa vazia, eu sou uma caverna oca, complemente em escuridão, uma caverna em que ninguém quer explorar, e sinceramente, eu entendo.

Algumas horas passam-se, e tenho mais certeza disso, quando checo no celular, marcando: 22:30. Então logo passa-se na minha mente, o que fiz o dia inteiro?

Nada, além de tentar suicídio e ficar procurando um canal que me agrada na TV.

- Jennie, eu estou indo, já deixei tudo pronto. Vê se toma um banho e se cuida. Qualquer coisa que precisa me liga - Ela avisa, mesmo sabendo que caso eu estiver morrendo, eu não vou ligar, porque com certeza eu vou deixar-me morrer.

- Está bem, Lisa - Falo baixo, praticamente sussurrando, e sei que ela não escutou porque á essa medida ela já bateu a porta e foi-se embora, como todos um dia vão.

Depois de mais algum tempo questionando minha existência, acabo levantando quando minha barriga ronca, então sigo até a cozinha, e quando abro a geladeira, encontro as comidas separadas em potes e por nomes.

Pego o primeiro pote a frente, procurando entre algumas gavetas facas. E nada. Eu entendo o motivo de não deixarem coisas afiadas ao meu alcance, na última visita do meu pai, ele levou todas as coisas pontudas, para que no dia seguinte eu não amanhecesse com cortes pelo braço.

Bato a mão na bancada, e conforme vou comendo, as lágrimas vão descendo, e tenho a sensação de que empato a vida de todos ao meu redor. Eu sinceramente não queria ser assim.

E esse dia só acaba, quando tomo um banho, e me dopo de calmante e remédio para dormir, mas eu sei que no dia seguinte será a mesma coisa, porque os dias repetem, e o meu parece não acabar nunca.

Depressão é o vazio que consome o seu dia um por um.

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O Que Tem Por Trás Da Chuva? - ChaennieOnde histórias criam vida. Descubra agora