— Jennie, onde você estava? — Eu também gostaria muito de saber, onde estava meu coração e cabeça quando estava com Roseanne.
Lisa parece zangada, está com as sobrancelhas baixas, e quando olho por cima de seus ombros, vejo as nuvens nubladas, indicando que iniciaria mais um dia frio.
Eu apoio minhas mãos na porta, deixando as lágrimas escorrer e molhar minhas bochechas, fungo baixinho e viro a cabeça de lado para que Lisa não veja e nem escute.
Mas isso é impossível, ela tem sempre a maldita mania de preocupa-se comigo. Eu não mereço sua preocupação, assim como não mereço o amor de Roseanne.
— Mandu, por que está chorando? — Lisa pergunta perto, mas não tão perto. Fazia tempo que ela não me chamava daquele apelido, durante cinco anos ela mantém a postura tão rígida para cuidar de mim.
Lisa, fez mais por mim do que minha própria mãe.
No entanto, eu só quero que ela se vá, eu mereço ser engolida por esses sentimentos sozinhas, eu mereço experimentar do gosto amargo da tristeza e solidão, enquanto vou sucumbindo aos poucos no meu patético apartamento.
Eu sou patética.
— Lisa, é melhor você ir embora — Falo, passando a mão pelo meu rosto, e aos poucos as lágrimas vão secando, porém, em alguns minutos darão espaço a outras.
Tento passar por Lisa, mas ela segura meu braço, um pouco forte, porém não chega a machucar, sua expressão está rígida e ela olhá-me com aqueles mesmos olhos tristes quando se trata de mim, então ela puxa-me para um abraço e eu resisto.
— Por favor, eu preciso ficar sozinha — Tento a convencer novamente, entretanto ela é teimosa e persiste.
— Jennie, você precisa de mim, deixa eu cuidar de você.
— Não, Lisa, eu não preciso de você, isso foi o que você achou esses anos todos, não consegue ver que sua vida é dramática e você está tentando consertar a minha? — As palavras saem como vento, soprando pelo ar, poderia dizer que foi involuntariamente, mas as palavras escaparam dos meus próprios lábios.
E no rosto de Lisa, era visível a decepção e frustração.
— É isso que você acha? Que eu estou tentando consertar sua vida? — Lisa, solta um sorriso nasal.
— Você está espelhando sua vida na minha, e Lisa eu não sou você — Esbravejo, e tudo ao redor fica apaziguado, imagino que agora os vizinhos do corredor estejam escutando essa briga.
— Uma ingrata é isso que você é, a porra de uma ingrata
— Olha, eu não tenho culpa se depois que a Minnie morreu você tenha vívido em função de mim — Um estralo, barulho estrondoso que se deu pela sala, minhas bochechas esquentam e queimam, meu rosto está virado, então não consigo ver a reação de Lisa.
Enxergando pelo vidro da varanda, vejo que a marca de sua mão está marcada em meu rosto, Lisa está pálida, com a boca aberta, e sua mão ainda está levantada ao ar, enquanto vou subindo o rosto aos poucos.
Lisa, me deu um tapa.
— Que saber? Viva sua vida de merda, quando menos esperar você vai afundar igual um Titanic — Lisa diz, e anda em passos firmes até a porta, batendo com força.
Surpreende-me ela achar que eu já não afundei.
Vou escorregando minhas costas pela parede, gritando, chorando, esperneando e descabelando-me. É tudo que eu faço até ficar sem força.
●
Estou sendo novamente solitária, embora eu nunca tenha deixado de ser, mas desde que Lisa foi embora naquele dia, três semanas atrás, as coisas não têm sido mais as mesmas.
Agradeço por experimentar o gosto do amor e da amizade, duas coisas que não foram saciadas por inteira. As horas, os dias, as semanas, tem virado um tormento e verificando a hora agora, são meia-noite e meu coração vai esvaziando, ficando vazio.
Estou com um rolo de pincel nas mãos, pintando as paredes do meu prédio, dando uma coloração em que minha vida não tem.
Tudo o que vivi parece ter sido desperdiçado a minha convivência com Roseanne, que demorou a ser o que tínhamos, mesmo eu não sabendo o que era. Eu deixei partir o que era melhor para mim, e ao menos pensei nela.
Assim que termino, estou cansada e estiro meu corpo ao chão, olhando para o teto recaio em um pensamento que considerariam cabisbaixo: Não é bom ser, Jennie Kim.
Não é bom lidar com os meus sentimentos, não é bom lidar com meus pensamentos, meu coração, são coisas bagunçadas e as únicas que não consigo controlar, já que eu nunca tenha tentado.
O que eu desejo, não, é algo de dizer em voz alta, porém eu desejaria ser uma pessoa "normal" e ter Roseanne.
Quando o chão duro começa a incomodar, levanto e passo a mão pelo rosto, percebo está manchada de tinta verde, então tiro toda minha roupa e caminho até o banheiro.
A água quente queima minha pele, mas não é tão importante, ela ameniza minha dor, apesar de eu parecer uma masoquista. Por um momento a água chicoteia as feridas internas, e eu esqueço tudo, menos uma pessoa que insisti em não ir.
Saio do banheiro e coloco uma calça de alfaiataria e um casaco, vou até a sala, tranco a porta do apartamento e vou embora.
Foi uma ação inesperada por mim mesma, entretanto eu não poderia ficar no meu apartamento com pensamento que considero como vazios e vagos, assim como eu.
Eu sou tão cruel comigo, e tenho ciência disso.
Passo algumas quadras, para onde minhas pernas quiserem levar-me, no entanto, elas sabem muito bem que é o coração que está guiando e a cabeça nem está pensando.
Tem uma única luz acessa, o bastante para ela colorir o seu quadro, uma música clássica eco pelo ateliê, Bethowen. E eu escuto pelo lado de fora.
Foi uma maldição eu ter vindo parar aqui, maldito coração que não controla o que sente.
Roseanne, está com os ombros caídos, a boca curvada em uma linha para baixo, seus lábios tremem e sua cabeça está suspensa.
Ela ampara o celular, e coloca em um contato que não consigo enxergar através do vidro, Roseanne morde o lábio e aperta a mão, em uma forma de repreende-se em sei lá o que ela iria fazer, mas não faz.
Meus olhos estão vidrados nela, que mal percebo quando minha mão empurra um pouco a porta, contudo eu paro no meio do caminho, e suspiro, abaixando a cabeça, deixando o local sem nenhum rastro.
Queria parar de me torturar com milhares de pensamentos.
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O Que Tem Por Trás Da Chuva? - Chaennie
FanficApós uma ocasião desastrosa na vida de uma ex-psicóloga. Jennie desenvolveu Pluviofobia, um medo recorrente da chuva, trancando-se em casa nos dias chuvosos. E também foi diagnosticada em um quadro de depressão. Dentre isso, ela se vê deprimida em u...