Sinto uma apreensão toda vez que tenho que pisar meus pés no hospital, sem ter uma certeza.
Viver aflita, é como viver na ponta de uma linha tênue, oscilante, e quando ela balança você nunca vai saber quando vai cair.
Os aparelhos continuam apitando, mas o quarto continua frio, como todas as outras às vezes. Meu pai está olhando para mim, um sorriso cresce em seus lábios e tenho gosto de abraçá-lo quando ele abre aqueles braços de papai urso.
— Eu não tenho muito tempo né? — Eu não sei como está sua expressão agora, pois estou com o rosto apoiado em seu pescoço, apenas o abraço mais conta mim, como se eu fosse o perder agora.
Conforme separo o abraço, busco resquício de esperança em seus olhos e não tem. Ele está mesmo achando que vai morrer, talvez já tenha até se conformado com isso.
Eu não aceito o conformismo, ele te puxa, te suga, te cala, faz você de refém, não de uma maneira como um bandido faz, porque é pior, você aceita está na situação que está, sem ao menos uma arma na sua cabeça para ser usada como desculpa.
— Você tem quatro meses, mas você não vai morrer pai. Eles vão conseguir o transplante — Eu digo com as minhas sinceras palavras, tentando acreditar no meu otimismo.
Meu pai nega com a cabeça, sorrindo amarelo, duvidando da capacidade dos médicos, e ele tem esse direito.
Eu olho para a parede, meu pai também segue meu olhar, e nos conectamos com uma simples parede abstrata, vejo em suas luzeiras uma devastação que antes tinha espaço para o brilho do seu olhar.
Seguro em suas mãos, soltando um sorriso e depositando um beijo em seu dorso, em uma tentativa de dizer. Tudo vai ficar bem. Então ele lança-me aquele olhar indecifrável, eu diria amargurado, o mesmo que a Jennie tem.
Por falar nela, eu sinto saudades, quando vejo retratos, só consigo enxergar seu rosto, quanto estou em casa sozinha vem o seu cheiro que causa um aconchego, já faz um bom tempo que minha casa tem sua fragrância que faz eu gastar todo o ar do pulmão para respirar.
E de uma maneira de tentar esquecê-la, venho a buscar em Jisoo, em um qualquer vestígio de semelhança que eu continuo procurando, mas eu nunca vou encontrar por que a Jisoo não é a Jennie.
O coração já entendeu isso, só o cérebro que parece que não. Eu odeio os efeitos que ela me causa, odeio amar o que não vou ter, odeio amar o que faz-me sentir em fervura.
— Quero que traga Jennie aqui. Você está triste, seja lá o que tenha acontecido, fique com ela.
Queria entender como meu pai sabe das coisas sem ao menos eu dizer, ou talvez eu saiba, já que lágrimas escorrem pelo meu rosto e ele tenta enxugar.
— Ela é a borboleta que pousou no seu ombro?
— Pai, o que é o amor? — Pergunto, e seu olhar intercala com o da mamãe que está na cozinha, como pedisse ajuda.
— Amor é uma coisa boba, só traz dor de cabeça, quando eu crescer não quero amar — Alice diz, cruzando os braços e abaixando as sobrancelhas.
— O que Alice disse é verdade, papai? — Questiono com olhinhos curiosos, e meu pai solta uma risada gostosa de ouvir, provavelmente impressionado com a minha ingenuidade, com a ingenuidade de uma criança.
— O amor não é uma dor de cabeça, as pessoas o tornam doloroso, o amor é como..... — Ele dá uma pausa, buscando palavras.
— Como uma borboleta? — Completo, com os olhos brilhando e o ouvindo atentamente.
— Isso!, como uma borboleta, que pousa em seu ombro e fica por um bom tempo.
— Mas papai, a borboleta não fica por muito tempo — O lembro e ele sorri.
— Então você terá que descobri como vai a fazer ficar.
— Sim... — Respondo frágil.
— E você já sabe como vai fazer para que ela fique? — Meu pai pergunta, franzindo as sobrancelhas.
Como eu vou obrigar a borboleta a ficar se ela já não está mais no meu ombro? Agora que ela está no ar, não tem como alcançá-la. Eu achei que Jennie fosse a borboleta que ficasse.
— Não… Mas por que você quer que ela venha aqui? — Mudo de assunto para que ele não fique persistindo na outra conversa.
Meu pai sabe o que estou tentando fazer, e endireita a postura na maca, e o jeito que ele encolhe os ombros, demonstra que está fugindo da minha pergunta.
Seu silêncio faz com que o barulho dos aparelhos sejam irritantes, são os únicos que eu escuto, além dos murmúrios do lado de fora, já que a porta está aberta.
Meu olhar vai sobre a mesinha perto a sua cama, o último lírio que eu trouxe ainda está lá, murchando aos poucos, assim como eu. Não sou uma boneca inflável, com sentimentos a base de ar, sou uma pessoa com urgências, é por isso que eu preciso da Jennie.
O que é esse vazio que nunca se completa?
— Preciso pedir perdão — Diz, com a aparência cansada.
Sua frase gera gatilho para minha mente regressar ao dia do acidente, ao dia em que meu pai atropelou a filha da Jennie
Minhas dores são mais que o suficiente para me fazerem desmoronar.
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O Que Tem Por Trás Da Chuva? - Chaennie
FanficApós uma ocasião desastrosa na vida de uma ex-psicóloga. Jennie desenvolveu Pluviofobia, um medo recorrente da chuva, trancando-se em casa nos dias chuvosos. E também foi diagnosticada em um quadro de depressão. Dentre isso, ela se vê deprimida em u...