Sobre chuva, música e lolly cake

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Desde que Jennie chegou, ela tem encarado a porta, ainda do lado de fora. Como se a simples madeira fosse algo autodistruitivo. Talvez ela o esteja vendo como um corredor negro, tentando encarar seus medos.

Enquanto isso, eu observo tudo pela fresta da cortina, esperando em que algum momento ela tome um pico de adrenalina e a toque. Eu poderia está fazendo muitas outras coisas enquanto espero por Jennie, entretanto prefiro ser paciente a olhando.

Ela dá um passo brusco, e eu realmente achei que ela levaria deu dedo a campainha, mas não, Jennie apenas volta duas casas atrás em que ela demorou pelo menos dez minutos para andar.

Faz tempo que eu não tenho esse sentimento, de esperar por alguém, geralmente eu quero que seja tudo rápido para acabar o mais logo possível. Com Jennie é diferente, eu dou espaço para ela, acho que sou tipo um barco navegando em seu mar, esperando que a onda abaixe para a vela levar-me mais longe. E meu barco pode naufragar a qualquer momento.

Que tipo de sentimentos é estes?.

— Ding-Dong — A campainha toca. Espera, a campainha toca!.

Assim que volto minha concentração para Jennie do lado de fora, ela está com o corpo retraído, mordendo o lábio inferior como se tivesse cometido uma grande besteira.

Penso se é alucinação, e que o barulho tenha ecoado apenas na minha cabeça com a expectativa que ela toque, e que espere, que não vaia embora. Contudo, a campainha é apertada outra vez, e prontifico-me em ir atender, sem saber o certo o que dizer.

Jennie se assusta quando abro a porta de repente, e logo sou recebida pelo seu cheiro agradável de baunilha, delicado e aromático. Nunca senti seu aroma antes.

Sua fragrância parece empestear toda minha casa, as paredes, o chão e os móveis, antes mesmo de ela entrar.

Jennie contínua em interregno no estado em que estava, não sei ao certo se ela vai falar algo pelo modo que deixa os lábios entre-abertos, ou se espera um convite meu. 

Uma brisa pega nós duas desprevenida, principalmente a mim que estou com um pano fino habitual para ficar em casa, já a única coisa que abala Jennie, são seus fios de cabelos, que se balançam e seu corpo que sobressalta.

- Vamos entrar? - A convido, e ela simplesmente assente, sem dizer nada, então eu também não direi nada, e muito menos movimento-me na linha dela.

Ficamos as duas em pés, como um relógio de pêndulo, sem fornecer energia para o que o pêndulo arrasta-se.

— Hum, você já comeu Lolly Cake?. — Pergunto, e uma linha surge entre suas sobrancelhas.

— Lolly Cake?

— É um doce de Marshallow típico da Nova Zesentiss — Explico, e parece que ela vai perguntar algo por seguinte, mas não pergunta.

Eu queria muito ser seu cérebro e seus sistemas nervosos para saber como seu corpo funciona, o que pensa. Será que ela acha que sua presença é desagradável para mim?. 

Á princípio, o que Jennie acha de mim?

Jennie vira sua cabeça de lado, como se quisesse ignorar minha presença, no entanto, um vermelho escaldante cresce em suas bochechas, e não sei bem o que é esse efeito.

Não quero expor nada, portanto, sigo para a cozinha, e Jennie vem logo atrás como se sentisse deslocada, mas eu podia perceber seus olhares por cada detalhe da minha casa. E como seus olhos são abstrusos, não sei ao certo se ela está julgando ou apreciando.

- Sua casa é melhor que meu apartamento, é acolhedor. - Admitiu levantando as sobrancelhas.

Fico dispersa quando Jennie fala mais que três palavras, sem ser em monossílaba ou uma resposta vaga, esqueço até mesmo do que estou fazendo, mas sem intenção Jennie lembra-me sentando no balcão.

— Espero que goste, não é sempre que cozinho — Revelo, o que era verdade, na maioria das vezes eu vivo dos restaurantes coreanos, barezinhos, e comidas que a Jisoo de vez em quando faz. Detalhe, ela também é péssima no fogão.

— Está muito bom — Diz, enquanto mastiga uma parte do doce.

Os repletos segundos a seguir são de puro silêncio, excluindo a mastigação de Jennie, podemos contar que o ambiente está em mudez. Todavia, isso estava prestes a mudar, quando um forte trovão é descarregado na atmosfera, dando indícios que uma chuva iniciaria.

Jennie abaixa sua cabeça na altura dos joelhos, levando as mãos aos ouvidos. Mesmo tendo presenciado essa cena antes, dessa vez não sei o que fazer, meu extinto protetor não ativa, e sinto-me mal por entorpecer.

Minhas mãos estão direcionadas ao balcão, e eu aperto a pedra de mármore com força, tentando ao menos tirar os meus pés do chão. E nada acontece.

- Droga!

Enquanto isso, vejo o peito de Jennie sobressaltar, quase que rasgando e saindo para fora, suas vias nasais alargam, e ela leva sua mão a cabeça, como se a região estivesse doendo.

Finalmente consigo libertar-me do transe em que eu própria criei, e movi meu corpo até Jennie, que continuava encolhida naquela simples cadeira.

Tentei aproximar-me e sua reação foi grosseira, afastando meus braços.

- Jennie, sou eu - Digo, tentando uma nova aproximação que foi cedida. Seus braços agarram minhas costas, e pela altura ela bate entre meu maxilar.

Aproveito para apoiar minha cabeça em seus cabelos macios, que fazem uma pequena massagem em minhas bochechas, também consigo inalar mais o seu cheiro forte de baunilha, que não causa irritabilidade ao meu nariz.

Novamente Jennie está presa em um casulo, pendurada por um galho solto, espero ansiosamente a hora que ela vai transformar-se em uma linda borboleta e voar, mas isso tende a acontecer a longo de oito meses.

Jennie é como uma estrada com buracos sem ser asfaltada, ela quer está no controle do carro, mudar de vias, mas ela nunca passa para a estrada suave e asfaltada.

Tudo parece piorar mais quando os pequenos pingos de chuva começam a cair vagarosamente, alternando para uma chuva intensa.

Jennie treme, e eu sinto seus olhos molharem meus braços, o seu distúrbio torna seu medo incontrolável, que ela acaba ficando sem movimentos, com um comportamento não responsivo.

Nada supri o barulho aguçado da chuva que ela pode ouvir, nem mesmo suas mãos que estão exercendo a função de tampar seus ouvidos, então ela aperta seu corpo contra o meu, como um refúgio.

Meu abraço era seu escape.

— Qual… Qual é sua música preferida?. — Olhando para mim, ela poderia achar a pergunta banal em meio a uma situação que ela está passando, porém, isso não passa de uma solução.

Eu quero abafar seus barulhos, Jennie. Todos eles. 

— S-sugar do surf curse - Responde com os lábios trêmulos e as pontas dos dedos gélidas, causando um arrepio na minha pele através da blusa.

Estico meu braço para alcançar meu celular, sem desfazer a nossa (mais da Jennie do que minha) bolha de proteção.

- I look like shit, but i feel even worse (Eu pareço uma merda, mas me sinto ainda pior. In the tired times (Nesses tempos andando cansado. When my body finaly can get hurt (Quando meu corpo finalmente pode se machucar). I look like hell, cause I'm going there first (Eu pareço o inferno porque vou lá primeiro. My god , you are such a looker. (Meu Deus, você é tão linda. Tell me you love me and give me some sugar (Diga que você me ama e me dê um pouco de açúcar).

Quando termino de cantar, percebo sua inatividade, e estranho, porém quando abaixo o olhar, Jennie dormia, em meio aquela tempestade eu fui sua calmaria.


Eu sou um monte de
constelações 
brilhando e ardendo
Mas nem todo mundo 
sabe ver
Ou só vê a parte que brilha
Ou só vê a parte que arde

Caso tenham a oportunidade, escutem a música da mídia.

O Que Tem Por Trás Da Chuva? - ChaennieOnde histórias criam vida. Descubra agora