Capítulo 4: Casaco

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Chego em casa destruída. Abro a porta com cuidado para não acordar os meus pais, tiro os saltos e olho o ambiente ao redor com atenção. Vou em direção ao meu quarto e passo em frente a sala de estar, é quando a luz do abajur acima da poltrona se acende. Aquela figura que surgiu não me era estranha, sim, minha mãe estava sentada a minha espera e me diz:

- Isso são horas, Jade? Era pra você estar em casa há duas horas atrás! Seu pai e eu já estendemos o horário para meia-noite e está de bom tamanho. Por que não ligou? Por que não atendeu o celular? - Disse minha mãe muito nervosa sem me dar tempo para justificativas.

Ela estava gritando horrores comigo de madrugada. Eu já com muito sono não conseguia acompanhar a velocidade do seu interrogatório. No entanto, meu cérebro volta a funcionar quando eu escuto a pergunta:

- De quem é esse casaco? - Ela se aproxima e encara o fundo dos meus olhos. - Quem te trouxe até aqui foi um homem? 

Maldito casaco! Maldito casaco! Eu vou queimar essa roupa que só atrai problema. Então, eu respondo muito cínica:

- Claro que não, né, mãe. A senhora que já me avisou tanto para não ser inocente, acha mesmo que eu ia fazer uma coisa dessas? - Estou suando frio e meu rosto transparece que estou inquieta. - Eu vim de carona com a Carla e o casaco é dela. A senhora conhece ela. Sabe que ela gosta de roupa plus size para ser estilosa. 

Minha mãe não pareceu acreditar, mas para evitar conflitos apenas disse:

- Vá dormir. Está tarde. Vai passar o resto do fim de semana de castigo em casa.

Entrei no meu quarto e fechei a porta. Olhei-me no grande espelho a minha frente, estava bonita, porém o batom já não estava na minha boca e meu cabelo estava bagunçado, além, é claro, estava usando o grande casaco de couro preto metálico. Retiro-o com desprezo e jogo-o no chão. Vou até o banheiro do quarto e avalio meu corpo em busca de póssiveis manchas, principalmente, pelo pescoço ou ombros. Pelo visto, Mathias foi bondoso, não tinha nada. A memória de nós dois fez aparecer um sorriso bobo e recordar do seu toque me fez arrepiar toda. Nesse intante, eu penso "Não! Não, não e não, Jade! Por que eu me apaixono por todo cara que eu beijo? Que ódio! Respira e repete consigo mesma: eu não gosto dele e não sinto nada por ele. É só tesão pós-beijo. Vai passar. Precisa passar!".

A cada dia que passava, eu ficava com mais raiva porque o casaco continuava na minha casa trazendo a lembrança e o cheiro de Mathias. Na quarta-feira, eu mando uma mensagem dizendo que ia na casa dele para devolver o maldito casaco. Ele concorda e pede para eu passar lá a noite. Meu coração apaixonado saltitou de alegria. A pressão subiu e meu rosto corou vermelho como um tomate. Às 18 horas, eu estava na rua da casa dele e encontro o Alex, que mora no mesmo quarteirão de Mathias, passando de moto. Eu o cumprimento e ele pergunta:

- Ei, Jade. Está fazendo o que por aqui? Veio me ver, né? Tô brincando.

Dessa vez, eu tive o cuidado de levar o casaco dentro da bolsa para não levantar suspeitas. Então, respondi:

- Caminhando, só atoa mesmo.

- Ah, é? Arrumada desse jeito. Estava indo na casa do Mathias, né? Safada!

- Que isso, Alex. Me respeita. - Começo a rir. - Tá bom, você me pegou. Eu tô indo lá sim, mas não é para o que você está pensando. Só vim devolver o casaco dele. 

- Ah sim...Olha, aquele dia eu queria ficar com você, mas o Mathias me falou que estava interessado em você e passou na minha frente. - Ele fala com a maior naturalidade do mundo sem perceber o peso das suas palavras. 

- Poxa, eu nem percebi. - Eu menti. Estava bem óbvio. - Mas, quanto a esse lance com o Mathias, não é para contar para ninguém, viu? Fofoqueiro.

- Eu fofoqueiro? Nunca, sou um túmulo. Nem tem porque eu contar também. Tenho nada haver com isso. - Ele abre um sorrisinho de canto. - Aqui, o que você arrumou no pescoço do Mathias, bem? 

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