Capítulo 6: Flores

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Haviam se passado quase dois meses desde a festa de Raquel, mas eu e Pedro não paramos de nos falar. Durante esse tempo, saímos juntos algumas vezes para ir almoçar, a um bar ou passear de moto, porém não tínhamos nada sério. Nem tínhamos avançado muito, davamos uns amassos e era o suficiente. Eu não tinha nenhum ficante, mas sabia que estava livre caso quisesse beijar outra pessoa, o mesmo valia para ele. No entanto, não surgia interesse porque todos os dias, sem exceção, conversávamos, ele brincava comigo e me elogiava, falávamos sacanagem (até demais) e compartilhávamos cada detalhe minúsculo da nossa vida, então eu sentia que o conhecia desde sempre. Ao mesmo tempo, ele era tão atencioso e engraçado. De verdade, estava me apaixonando por ele.

Hoje, no sábado, meus pais saíram de casa para ir a um show e eu avisei isso ao Pedro. Daí, ele vai vir aqui hoje! Estou muito ansiosa. Não me arrumei demais, nem de menos. Tomei banho, passei perfume e maquiagem e coloquei uma roupa casual. Marcamos de ver um filme, então tenho pipoca, sorvete, brownie, brigadeiro, muita e muita comida - Estava nervosa. Verifico o horário, conforme meus cálculos, ele chegaria em 30 minutos, por isso, estranhei quando a campainha toca antes do planejado. Abro a porta muito alegre:

- Ei, amor! Saiu mais c... - Minha expressão facial muda completamente para um estado de surpresa e incômodo. - MATHIAS!?

- E aí, Jade! Posso entrar? - Ele pede autorização, mas entra antes que eu possa responder.

- Mathias, o que você está fazendo aqui? E quando foi que eu te deixei entrar? - Abro um sorriso genuíno ao vê-lo pegar uma maçã no balcão da cozinha, sentindo-se em casa.

- Está sozinha? - Ele pergunta ignorando meus questionamentos.

- Sim. Meus pais foram a um show hoje e meu irmão está em um acampamento até o final do mês. - Digo tirando a maçã da mão dele. - O que você está fazendo aqui, bem? - Repito intrigada com aquela aparição repentina.

- Pegar o meu casaco, oras! - Ele fala enquanto explora cada canto da casa. - Aquilo é um piano de calda? Quem toca?

- É mais enfeite do que realmente um instrumento, mas eu toco com certa frequência e meu pai sabe o básico também...Peraí! - Me distraí por um momento. - Pegar o seu casaco? Já faz meses e agora você quer ele de volta?

- Algum problema? Você disse que ia deixar lá em casa, mas não apareceu. - Mal sabe ele que eu apareci, presenciei cenas e conversas pertubadoras e chorei bastante naquela semana. - Daí, eu vim buscar.

- Mas, por que agora?

- Eu preciso de dinheiro e, talvez, tenha algo no casaco.

- Fala sério! Você veio até aqui apostando na minúscula possibilidade de haver dinheiro no casaco? - Pergunto indignada com tamanha idiotice. - Era só me mandar mensagem que eu olhava se tinha grana nele.

- A minha presença incomoda tanto assim? Você não pode simplesmente me entregar o meu casaco que eu vou embora? - Ele pergunta com sarcasmo.

- É claro, Mathias. - Respondo com muita paciência. - Espere aqui. Meu quarto está uma bagunça e eu prefiro que você não veja.

Abro a gaveta onde havia deixado a peça de roupa e aproveito para averiguar os bolsos em busca do tal dinheiro. Para a sorte dele, tinham R$ 50,00. Percebo que ainda tem o cheiro do perfume dele naquele dia, embora já estivesse misturado com o das minhas roupas. Lembranças voltam a aparecer uma a uma, assim como, antigos sentimentos. De repente, ouço de longe:

- Encontrou, Jade? Tem grana?

Retorno para a cozinha, entrego o casaco e tiro o brownie do forno. Mathias fica contente com o dinheiro encontrado, mas demonstra maior interesse pelo que eu estou fazendo:

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