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dear reader, when you aim at the devil querido leitor, quando você mirar no diabo
make sure you don't miss
tenha certeza de que você não irá errar.

JEONGIN
point of view

Uma vez, a minha mãe me disse que precisamos lutar uma guerra para perdermos. De início, não fez sentido para mim.

Mas com o tempo, eu entendi. Ela não quis dizer sobre lutar e perder uma luta, ela quis me dizer sobre não lutar e já se considerar um perdedor. Na minha vida toda, eu nunca lutei e sempre me considerei um perdedor. Fiz totalmente o contrário do que fui ensinado.

Agora que eu tenho a chance de fazer isso, nunca me senti tão apavorado com essa ideia. Desafiar meu pai sempre me pareceu tão errado, como posso desrespeitar o homem que me criou e me permitiu ter tudo do bom e do melhor?

Mas conforto não compra amor, não compra apoio. Eu sei que meu avô não foi um homem bom e meu pai tem seus motivos para ser assim, porém ele poderia ter escolhido fazer diferente.

Nesse exato momento, acredito que seja quase uma da madrugada e eu estou deitado no chão do meu "quarto", minha mala está ao meu lado completamente arrumada. Seol-ah me disse que sairíamos pelas duas ou três horas e Miyeon passaria aqui para nos buscar.

Estou com medo. Receio que dizer medo seja eufemismo, estou apavorado. Ouvi o som de uma batida na porta e permaneci ali. Combinamos que Yeon bateria três vezes na porta e eu iria abri-la. Não foi o que aconteceu.

Tirei algumas das minhas roupas e joguei dentro do guarda roupa, empurrei a mala para baixo da cama e abri a porta.

— Por que a porta estava trancada? — Betty questionou, segurando sua prancheta enquanto observava meu quarto.

— Porque eu estava dormindo.

— E por que abriu a porta tão rápido?

— Eu tenho um sono leve e você me acordou. — disse impaciente. — Você pode fazer logo sua vistoria? Estou cansado e quero voltar a dormir.

Betty concordou e adentrou o quarto, olhou dentro do guarda roupa, do pequeno banheiro, debaixo do meu travesseiro, do colchão, da cama e de qualquer outro lugar que ela conseguiu.

— Está tudo certo por aqui. Quantos remédios você tomou hoje, Jeongin? Parece sonolento.

— Me deram três remédios diferentes. — bocejei. — Por que está passando mais tarde hoje?

— Houve um imprevisto. — deu de ombros. — Tranque a porta e boa noite, garoto.

— Obrigado, para você também.

Rodei a chave assim que a mesma saiu e tirei meu celular do bolso. São 00:30. Havia uma mensagem da minha irmã e eu decidi lê-la antes de arrumar minha mala novamente.

"Jeongin, a mamãe me disse que o papai não está em casa. Eu acho que ele está desconfiando de algo."

"Não poderemos sair com ele aqui."

"Eu sei. Estou a caminho daí. Por favor, seja cuidadoso."

— Jeongin, abra essa porta agora.

Travei no mesmo lugar que estava assim que ouvi aquela voz tão conhecida por mim.

"Ele está aqui, Seol-ah."

"Coloque o telefone no fundo da mala e desligue ele. Agora."

Fiz o que a minha irmã pediu antes de abrir para ele.

Encarei meu pai e suspirei.

— O que o senhor quer?

— Vim ver meu filho e é assim que sou recebido?

— Não quero discutir com o senhor. Só quero que me deixe em paz, por favor. Estou cansado demais para lidar com isso.

— Jeongin, o que você anda aprontando? Soube que Seol-ah está vindo aqui mais vezes do que deveria.

— Ela é a minha irmã. Seol se importa comigo e não liga de demonstrar isso. O que te incomoda tanto em tê-la aqui? Se o senhor não me ama, ninguém mais pode me amar também?

Fechei os olhos quando senti meu rosto arder. É sempre assim. Segurei as lágrimas que insistiram em cair porque eu prometi a mim mesmo que eu não iria mais chorar por ele. Nunca mais.

Acariciei o lado da minha bochecha que provavelmente estava vermelho e o encarei outra vez.

— Por que vem aqui para me fazer passar por isso novamente? — suspirei, me dando por vencido. — O senhor quer que eu diga que você venceu?

— Não estou em uma competição para vencer, Jeongin.

— Então por que está agindo como se estivesse em uma? Por favor, pai. Eu só quero ter uma vida normal, mas mesmo depois de me internar nesse lugar horrível, você não me deixa viver.

— Você acha que pode ter uma vida normal sendo como é? Você precisa aprender a-

— Preciso aprender a ser um homem de verdade. — fechei os olhos para controlar a vontade imensa de gritar que me atingiu. — Eu já entendi.

— Então por que não passa a agir como um?

— Eu estou tentando. — disse. — Tentando como venho tentando a minha vida inteira para te fazer feliz e não para me fazer feliz.

— Qual a diferença disso? Me ver feliz não te deixaria feliz, Jeongin?

— Deixaria. — retruquei. — Deixaria feliz se você quisesse me ver feliz, mas você não quer.

— Você acha que eu não me importo com você? Seu estúpido. Tudo que eu fiz hoje foi por sua causa, para te ver crescer sendo um homem bom.

— Eu sou um homem bom. — respondi. — Mas você nunca foi o responsável por isso. Você é o responsável pelo meu lado sombrio que eu nunca quero que ninguém veja, porque eu não quero que achem que sou como você é.

Ele não disse nada, levantou a mão para acertar meu rosto outra vez mas permaneceu com ela parada no ar. Ele não me acertou, pela primeira vez.

Meu pai ouviu o que eu tinha para dizer e não me bateu. Quis chorar porque há uns dois meses atrás, eu ficaria feliz com isso e iria abraçá-lo. Mas agora, tudo que consigo sentir é tristeza, porque por causa dele, eu só consigo buscar conforto em quem me machuca. Apenas consigo procurar a cura em quem é o meu próprio veneno. Eu só percebi agora que a dor esteve comigo o tempo todo e sempre passou despercebida porque eu aprendi a normaliza-lá para não ter que lidar com ela.

silent cry - seungmin + jeonginOnde histórias criam vida. Descubra agora