02 - Nervosismo

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ʜᴏᴘᴇ ғᴇʀʀᴇɪʀᴀ

Devia ser menos idiota, pedir alguma ajuda ou esperar minha ausência ser notada. Nenhum desses pensamentos tem importância. Continuo andando pelo corredor, sem ter ideia de onde irei parar. Olho para trás, porém desisto de voltar à recepção. Não posso simplesmente chegar e falar: fiquei com vergonha de pedir ajuda, mas estou "perdida".

Não tem um único segurança por perto, justo quando preciso. Tudo bem que alguns estão na entrada do centro de treinamento, no entanto, não todos. O corredor está completamente vazio, me fazendo questionar o motivo. Viro à direita, visualizo um pequeno jardim ao fundo, mas abaixo minha vista.

Ando mais um pouco. Levando a cabeça, consigo ver um grupo de homens que não estão muito afastados. Sou fluente no espanhol, estou morando na Espanha há um tempo, mas apenas em cogitar me aproximar, passo a tropeçar nos meus próprios pés. Tenho certeza que eles são jogadores e tudo que não me lembro é como me portar.

Visando manter o foco, ando lentamente. Por sorte ou azar, alguns desses homens entram em uma porta, três ficam no corredor. Seguro a respiração, penso nas palavras adequadas. Consigo visualizar uma porta sendo fechada com brutalidade, mas tem uma plaquinha indicando que aquele é o vestiário.

Não encontro as palavras certas, entretanto paro na frente de três desconhecidos. Estes encontros vão passar a fazer parte do meu dia a dia, não posso entrar em pânico ou ter medo de conversar com um jogador. Percebendo que minha presença ainda não foi notada, limpo a garganta discretamente.

— Licença — falo. Mesmo com a palavra saindo em espanhol, recebo alguns olhares confusos.

Mesmo sem conhecê-los, preciso pedir ajuda. Uma pessoa lúcida nunca iria trabalhar em um lugar onde não sabe sobre absolutamente nada. É óbvio que não fui contratada para ser técnica do clube. Tenho plena consciência que não tenho uma função onde preciso ter algum conhecimento sobre futebol.

Não imaginei que encontraria algum jogador no meu primeiro dia. Não me preparei para este momento. Nunca estive em uma situação parecida. Meu estômago volta a embrulhar, consequência do nervosismo que estou sentindo. Olho para os lados, mas não encontro nenhuma plaquinha indicando que tem um banheiro por perto.

Solto a respiração lentamente e pela primeira vez os analiso com atenção. Consigo reconhecer apenas um, o que me faz ter um surto interno. Estou diante do Raphinha. Não sei nada sobre ele, apenas que é um jogador brasileiro. Penso em falar em português, ele iria entender, mas os outros não. Levando em conta que preciso da ajuda dos três, falar em outro idioma é algo sem sentido.

— Bom dia. Lamento estar atrapalhando. — Forço um sorriso. — Hoje é meu primeiro dia de estágio. Separei-me do meu grupo e não encontrei nenhum segurança para pedir ajuda.

— Não tem nenhum segurança por perto? — pergunta um dos homens.

— Não encontrei nenhum, por isso que estou atrapalhando vocês — respondo, envergonhada.

— Os meninos estão no vestiário. Algum deles vai estar disposto a te ajudar — o homem volta a falar.

— Seria algum dos meninos que acabaram de entrar no vestiário? — pergunto.

— Tem um pessoal que entrou antes, mas eles não vão demorar muito. O treino começa em alguns minutos — ele diz.

— Entendo — isso é mentira, mas eles não precisam saber.

— Aceita esperar? — não tenho outra opção.

— Sim, aceito esperar — respondo.

— Estamos um pouco atrasados para um compromisso na loja do Barça. Os meninos vão treinar daqui a pouco. Imagino que as pessoas que você procura vão ver o treino — diz Raphinha.

— Certo — murmuro.

— Gostaria de te ajudar mais, porém a correria não vai permitir — Raphinha fala.

— Entendo, e não tem problema. Vocês já estão fazendo muito — falo.

Durante a espera fico um pouco pensativa. Preciso ser profissão, mas poderia conseguir algum dinheiro. Eles não iriam se negar a me dar um autógrafo, que poderia ser vendido para algum fã. Tenho certeza que alguém compraria. Fico calada, apenas esperando o ser de luz sair do vestiário.

Tento visualizar algo na porta, mas não tenho sucesso. A vontade de ir ao banheiro se tornou inexistente, e o arrependimento está começando a surgir. Antes de pensar em uma desculpa que me livre de uma situação embaraçosa, a porta do vestiário é aberta. Procuro uma maneira de sair sem ser notada e não encontro.

Ouço várias vozes e em pouco tempo, alguns jogadores começam a deixar o local. Os primeiros saem tão apressados, que nem se dão ao trabalho de olhar para trás. Apesar dos últimos saírem conversando, nenhum deles é chamado. Fico observando a minha "ajuda" indo embora e me questiono o motivo deles não terem sido chamados.

Mesmo sendo um tanto quanto estranho, algo me diz que estamos esperando por alguém específico. Não tenho ideia se essa pessoa irá aparecer. Mas o silêncio volta a ser estabelecido, e me faz concluir que não. Aparentemente todos saíram e continuamos aqui, esperando por uma ajuda e um alguém que não vai chegar.

Os homens estão estão em uma conversa animada, sem dá importância para nada. Começo a me perguntar se iremos ficar aqui por muito tempo. Está demorando tanto que minha vontade é me desculpar por ter incomodado eles e tentar me virar sozinha. Penso em falar algo, mas um barulho vindo do vestiário me faz paralisar.

Vejo uma pessoa saindo e minha curiosidade aumenta. Não consigo ver muito bem, mas ele está com uma mochila nas costas, cabeça baixa e distraído com o celular. Tento ver seu rosto, mas o fato de estarmos em direções opostas atrapalha um pouco. Mordo o lábio inferior em sinal de nervosismo. Escuto o nome Pedri ser chamado.

Como se fosse em câmera lenta, ele tira sua atenção do celular e vira na nossa direção com um sorriso de canto. Chega a ser estranho, mas seu meio sorriso está me provocando algumas sensações: frio na barriga, mãos trêmulas e sensação de ter borboletas revirando em meu estômago. Espero que meu nervosismo não esteja tão evidente.

Meu medo é de desmaiar aqui na frente deles.  Se isso acontecer, vou morrer de vergonha. Preciso lembrar que está tudo bem. Esses encontros vão passar a ser frequentes. Não posso surtar quando trombar com alguém em algum corredor. Sinto alguns olhares, abaixo minha cabeça e meu coração erra as batidas.

Deveria estar fazendo meu trabalho, porém estou atrapalhando o deles. Posso acabar arrumando algum problema e não sei o que eles estão achando desse nosso "encontro", mas com certeza não estão gostando. Estar diante de pessoas famosos e toda essa situação, está me deixando extremamente desconfortável.

𝐎 𝐀𝐌𝐎𝐑 𝐀𝐂𝐎𝐍𝐓𝐄𝐂𝐄 - ᴘᴇᴅʀɪ ɢᴏɴᴢᴀʟᴇᴢOnde histórias criam vida. Descubra agora