Anjo Caído ( Nico Di Angelo)

Desmentir

Minha mãe acha que pode me comprar com bolo, e talvez esteja um pouco certa,já que estou tendo essa conversa enquanto como o bolo de chocolate que nem consegui esperar esfriar antes de cortar um pedaço.
Ela fala calmamente e insiste em fazer contato visual, parece obstinada em me fazer entender que dessa vez ela está fazendo tudo certo e vai ficar estável, vai continuar com acompanhamento médico mesmo depois que o processo acabar, vai continuar tomando os remédios e vai manter distância de Hades. Eu quero acreditar nela, quero de verdade, mas não é somente saber que ela não pode manter essas promessas, eu também acredito que não tem como ela recuperar minha guarda, eu não me incomodaria de voltar a cuidar dela, na verdade é o que quero, mas alguém tem que ser realista aqui, e vai ser mais fácil ficar do lado dela ao conseguir minha emancipação do que estando em um lar temporário.
Surpreendentemente nossa conversa não vira uma discussão apesar de não entrarmos em um acordo, e passo uma tarde maravilhosamente agradável com minha mãe e minha irmã. Hazel vem aqui de vez em sempre, ela foi "adotada" por minha mãe, as duas se dão super bem e aqui virou sua segunda casa, gostaria de dizer que também temos essa relação, mas desde que nosso pai foi preso ela parece ressentida comigo, não posso a culpar,mas não é como se eu tivesse planejado isso, porém o que importa é que ela parece ter voltado a aturar bem minha presença.
Estou assistindo as duas conversarem sobre o filme que acabamos de ver quando meu celular toca, fico nervoso ao ver que é Cronos, saio em silêncio e vou para um lugar afastado atender.
- Oi (digo interrompendo o silêncio na linha)
- Na noite da minha vitória encomendei a asiática e você para uma comemoração (ele inicia saudoso) não imagina como fiquei decepcionado quando você não apareceu. Aquele vídeo que Minos me mostrou de vocês juntos, me encheu de expectativas (o ouço estalar a língua)
Fico em silêncio porque não sei o que devo responder a isso, e então ele continua.
- Fiquei sabendo que foi severamente castigado por isso...acho que tive certa culpa. Veja bem, não gosto de ser desapontado, e fiz Minos saber disso.
- Faz muito tempo (finalmente digo algo ao silêncio que se segue)
- Nem tanto assim. Sabe, ainda tenho aquele vídeo. Me pergunto o que meu neto diria se o visse...será que ele ainda se importaria com você?
- Não precisa fazer isso, não estamos nos falando (digo depois de engolir em seco)
- Não estão? Queria saber o que ele foi fazer na sua sala depois que eu saí.
- Não estamos mais juntos, nem nos falando.
- Espero que continue assim, fique longe do meu neto.
- Sim senhor (digo e estou prestes a encerrar a ligação quando ele diz algo mais)
- Já olhou sua conta bancária?
- O que?
- Olhe sua conta e venha (endereço).
- Seja lá o que você quer, a resposta é não.
- Não tem mais medo de mim, Angelo? Não se preocupe, só quero conversar. (Ele diz e encerra a ligação)

Abro o app do banco da minha mãe que eu uso e lá está, 3 mil por uma conversa com Cronos, atualizo e atualizo sem saber o que fazer, o que ele realmente quer? Tenho medo da resposta e do que ele pode fazer se eu não for. Minha respiração se torna rápida e entrecortada enquanto penso sobre como sair dessa situação.
- Nico? (A voz de Hazel me traz de volta) Está tudo bem?
- Sim...ãh, você pode avisar minha mãe que tive que sair? (Digo me levantando)
- Tá bom (ela responde hesitante e eu pego a jaqueta antes de sair apressado)

Will

Estou saindo da casa de Cronos quando vejo pela enorme janela uma moto conhecida passar pelos portões, resolvo aproveitar que ele não sabe que vim aqui para descobrir o porquê do moreno estar aqui. Meu avô nem está em casa e não consigo imaginar o que ele quer com ele.
O observo escondido no andar de cima enquanto ele é escoltado por um empregado até o escritório, espero um pouco e vou até lá quando não há ninguém vendo. Ele anda de um lado para o outro, depois de longos minutos ele finalmente para e se senta no sofá, fecha os olhos e joga a cabeça no encosto, estudo o movimento que sua garganta faz quando ele engole em seco, seus longos cílios negros em seus olhos apertados, quero ir até ele e perguntar o motivo de estar nervoso, quero que ele me peça desculpas por antes e me conte o que está acontecendo sem eu precisar pedir, quero que ele diga que me ama outra vez, quero..quero.
De repente ele abre os olhos e se endireita quando alguém abre a porta.
- Você veio (meu avô constata satisfeito)
- Eu vim (ele diz se levantando) sobre o que você quer falar?
- Que direto, gosto disso (ele diz se aproximando e vejo como o moreno fica tenso)
- Eu não quero o dinheiro.
- Então por que veio?
- Para te dizer que não temos o que conversar, eu não vou falar nada a ninguém e você apaga o vídeo.
- Você está tentando me chantagear? (Ele agarra o braço alheio e meu estômago gela)
- Não (ele responde baixo e posso ver que ele começa a tremer levemente)
- Aquele não é o único vídeo que tenho, sabe? O meu preferido é aquele em que você está no porão de Dominic.(isso o faz ter um sobressalto)
- Como você conseguiu isso?
- Ah (ele sorri friamente) Minos está muito magoado com você! Ele me disse para te chantagear com isso para você retirar as acusações.
O garoto abre e fecha a boca em estorpor, mas de forma hesitante começa a contestar.
- Há provas, não posso desmentir isso, não sei como posso desfazer isso.
- Já estamos cuidando disso, só preciso que você desminta tudo. Aquele safado do Minos, está ameaçando expor todos os seus clientes caso não o ajudemos.
- Os vídeos de garantia...
- Ah! Então você sabe sobre isso.
- Ele filmou vocês escondido para ter uma garantia caso algo desse errado.
- Você sabe onde ele escondeu?
- Se eu soubesse teria entregado junto com o resto.
Cronos puxa o braço que estava segurando o trazendo ao seu encontro, o garoto o olha assustado e faz menção de se desvencilhar.
- Está admitindo na minha cara que se pudesse também teria me entregado? (Ele diz sorrindo) Amo isso, esse fogo que há em você, mesmo quando é óbvio que está preso.
Vejo horrorizado sua mão o agarrar pela cintura e o colar ao seu corpo.
- Dominic é um perturbado, mas admito que aquele vídeo me deu ideias, e quero testar todas em você.
O moreno tenta sair de seu agarre e lhe pede com a voz trêmula para o soltar.
- Calma Angelo, já disse que você não precisa ter medo de mim. Já me desculpei por ter te machucado antes, mas relaxa, eu não sou Minos.
Estou paralisado e com vontade de vomitar ao ver o homem que nunca imaginei fazendo tal coisa apertar a bunda do moreno, ele pede agora com a voz chorosa para ele o soltar e diz que vai retirar tudo o que disse a polícia se ele o deixar ir.
- Tem certeza? Eu posso transferir bem mais do que ele me disse para te pagar em troca de se desmentir se você for meu agora.
- Tenho, só me solta (ele afirma urgente )
- Quando Minos for solto voltamos a conversar, com ele aqui você não vai dizer não.
Ele finalmente o larga, o garoto se afasta dele aos tropeços, se vira e sai apressado, posso vislumbrar sua expressão assustada e seus olhos marejados. Assim que o escritório fica vazio, corro ao seu encontro mas sua moto já não está aqui.