non posso dirtelo

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Abro os olhos e ergo meu braço para os cobrir, a luz é cegante, sinto alguém me manusear, abaixando meu braço e pedindo para eu responder. Tento afastar a pessoa e sei que comecei a falar porque minha garganta seca dói.
- Calma garoto! Está tudo bem agora, você está no hospital (diz um homem de voz gentil)
- Pips? Cadê a Piper? (Olho ao redor confuso)
- Sua amiga está bem! Seu primo também, não precisa se preocupar (ele diz segurando meus ombros suavemente evitando que me levante)
- Não foi culpa dele! Percy...foi um acidente (digo apressado)
- Sabemos meu amor, não foi culpa de ninguém (minha mãe aparece em meu campo de visão com um sorriso triste)
- madre? Scusa, non volevo farti preoccupare.
-Non c'è bisogno di scusarsi, amore mio.
- Vou deixar vocês conversarem (diz o médico nos olhando com curiosidade)
  Observo o homem de meia idade deixar o leito, seu cabelo loiro ondulado e seus olhos azuis me fazem pensar em alguém que gostaria de ver agora.
Minha mãe me conta que Piper está bem e vem todos os dias me visitar, descobri que fiquei desacordado por quatro dias,e que Percy esclareceu tudo sobre o "assalto", e que ela estava cuidando de tudo, que eu não precisava me preocupar com nada. A observo orgulhoso, ela segurou as pontas enquanto eu estava fora, cuidou de tudo e estava aqui quando eu acordei, o orgulho rapidamente é substituído por uma velha melancolia, gostaria que ela sempre fosse forte assim, conseguisse cuidar de mim e principalmente de si mesma, mas me obrigo a afastar esse pensamento e saborear a vitória de agora.
Depois de um tempo minha garganta lembra demais uma lixa para que possa continuar a ignorando e peço para ela me trazer água. Não dá nem um minuto em que ela saiu da sala, e a pessoa que eu estava desejando que estivesse aqui entra pela porta. Ele entra furtivo e fecha a porta atrás de si.
- Oi (Will diz me brindando com um lindo sorriso)
- Oi (retribuo encantado)
- Como se sente? (Ele pergunta se sentando na cama e segurando minha mão)
- Como alguém que levou um tiro (respondo rindo da face indignada dele)
- Eu fiquei tão preocupado (ele acaricia minha bochecha e vejo seu esforço em segurar as lágrimas)
- Estou bem agora (digo para o acalmar)
- O que aconteceu Nic? (Ele pergunta olhando em meus olhos)
- Um assalto aparentemente (digo desviando o olhar)
- Nico! Uma van deixou vocês três na frente do hospital e saiu em alta velocidade. Um assaltante não se daria esse trabalho. Seu primo estava desesperado e dizendo que foi sem querer, e a garota o mandava se calar afirmando que foi um assalto. Tudo isso não bate! Eu quero te ajudar, mas você precisa me dizer o que aconteceu (posso sentir seu olhar em meu rosto tentando detectar algo)
- Non posso dirtelo (murmuro) Não sei Will, estava desacordado, mas nos assaltaram.
- Nic?
- Estou feliz que você esteja aqui (finalmente volto a sustentar seu olhar)
  Ele se aproxima tanto que por um segundo acho que vai me beijar, mas sua mão limpa as lágrimas que não percebi que deixei escapar.
- Estou feliz que você acordou (ele retruca)
  Ele se afasta ligeiramente de mim quando a porta é aberta, e minha mãe e o médico nos encaram, a expressão dela é confusa mas o doutor dá um sorriso ladino antes de colocar uma máscara de irritado e brigar com Will.
- Você não devia estar aqui! Já te disse para respeitar o horário de visitas Will...
  Quando eles estão saindo pela porta consigo escutar.
- Um italiano, você sabe escolher,filho!
Minha mãe encara a porta um instante antes de se voltar para mim.
- Esse garoto...vive dando um jeito de invadir e te fazer companhia (sorri divertida) Quando soube que você estava ferido, moveu céus e terras para te transferir ao hospital da sua família, o doutor Solace inclusive disse que não cobraria nada de um amigo tão importante para seu filho.
  Nico a olhava com a boca levemente aberta pronto para dizer algo, mas não sabia o que contestar, por fim sorriu e murmurou um "ele sempre ganha".
  ##
No dia seguinte durante o horário de visita, Piper veio me ver. Ela contou que Minos considerou o que aconteceu castigo quase suficiente, só queria que a gente participasse do Calamai, para poder deixar tudo no passado.
Meu estômago se revirou ao ouvir isso, não sabia se estava sentindo as náuseas causadas pela medicação ou pela notícia, talvez os dois. Ela não parecia estar em melhor estado, não estava tão pálida como da última vez que a vi, mas contorcia suas mãos freneticamente e se balançava um pouco.
- O que causou tudo isso afinal? (Finalmente pergunto, talvez porque preciso saber ou porque quero falar de algo que não cause um colapso nervoso em nós)
- Eu...(ela olhou para um ponto fixamente e engoliu em seco) eu roubei de um cliente.
- Não (resmungo incrédulo)
- Desculpa Nic! Mas eu precisava.
- Se vai fazer algo assim, não seja pega! Caramba (passo as mãos pelo cabelo em irritação)
- Eu sei, ok? Não deveria ter feito isso! Acho que ficou bem óbvio quando achei que iria morrer, não uma, mas três vezes!
- Desculpa Piper, é só que...caramba! Não tinha outro jeito? Não acredito que vou dizer isso, mas você tem sorte de isso não ter acabado pior.
- Iria, Nic, iria acabar pior. Se você não tivesse ido me ajudar...teriam me encontrado e metido uma bala na minha cabeça, isso sendo otimista.
- De quem você roubou?
- Do deputado Solace (ela diz me olhando de esguelha)
- Mentira! E agora estamos na merda do hospital da família dele ( deixo escapar uma risada)
- E o que eu precisava roubei da farmácia daqui (ela diz me acompanhando em nosso riso insano)
  Alguém bate a porta nos interrompendo, a enfermeira avisa que outra pessoa quer me ver e nos despedimos.
Ainda estou sorrindo quando Percy passa pela porta e a alegria insana se vai.
- Você parece bem! (Ele afirma se aproximando)
- Estou bem (confirmo)
  Seu olhar se fixa num ponto atrás de mim, e quando volta a me olhar seus olhos estão marejados.
- Me desculpa Nic! Juro que foi sem querer.
- Eu sei Per! Eu sei...você não deveria ter passado por isso. Estava numa situação impossível (minha voz soa embargada)
  Ele vem até mim e me abraça, repetindo uma e outra vez que sente muito, ficamos assim por um tempo, porque quando a enfermeira vem avisar que o tempo acabou ainda estamos abraçados.
Sinto Percy ficar rígido quando Will surge na porta, nos olhando com uma expressão indecifrável.
Percy sai sem dizer nada e esbarra no loiro, que o olha colérico. Depois de um segundo se aproxima de mim, e segura meu rosto preocupado antes de limpar as lágrimas da minha bochecha.
- Está tudo bem? (Pergunta olhando em meus olhos)
- Está sim (respondo com um sorriso tranquilizador)
- Dúvido, você tem a mania de esconder coisas de mim (ele diz fazendo beicinho)
- Você não veio aqui para brigar comigo,Will. Desfaça esse bico!
- Não vou desperdiçar nosso tempo discutindo, sua melhor amiga está esperando para entrar!
Faço um leve som de lástima e ele se senta ao meu lado me abraçando.
- Não afaste as pessoas que se importam com você, Nic.

Anjo Caído ( Nico Di Angelo) Onde histórias criam vida. Descubra agora