Capítulo 19

272 16 10
                                    

- Luke -

Quais os limites do nosso subconsciente?

Sempre treinei minha mente para usar como mecanismo de estratégia. Sentimentos nunca foram uma opção. Ser sozinho é uma segurança porque fica mais difícil para entenderem o seu ponto fraco. Você não dá munição ao outro.

Meu subconsciente me traiu, me tirou o controle. Cada vez que fecho os olhos, ela aparece.

Dormir não me parece uma opção.

Ocupava todo esse maldito tempo ocioso em me exercitar. Não tenho o saco de pancada, mas tenho um chão. Já perdi as contas de quantas flexões e abdominais eu faço por dia. Funciona. Me cansa. O problema é quando vou deitar a cabeça no travesseiro porque o cansaço desaparece e a adrenalina se acalma. É quando meu subconsciente chama pela Julie Molina.

— Lucas Patterson — o carcereiro chamou da maneira amigável de sempre — Visita.

— Não quero receber visita — falei, sem interromper minhas flexões.

— A garota está infernizando todo mundo. Isso aqui não é uma pergunta, Patterson.

— Garota? — me levantei no sobressalto.

Será?

— Se vire e coloque as mãos para trás.

Mordi o lábio. Que porra ela estaria fazendo aqui?

— Falei que eu não quero ver ninguém! Mande ela embora.

— Faça o que eu estou ordenando! — esbravejou — Ela está dizendo para Deus e o mundo que está grávida e precisa te ver nesse instante. Mulheres e seus hormônios alterados.

— Grávid...? — minha voz falhou.

— Ela está fazendo um inferno lá e vão abrir uma exceção porque ela não tem cadastro como visitante, então acalme a maluca.

— Ela disse grávid...? — não consegui completar a frase outra vez.

Meus ombros amoleceram e o mundo parece girar ao contrário.

— Patterson, eu não vou repetir.

A Julie está grávida?

Rendido ao baque, me virei e coloquei as mãos para trás.

Senti o carcereiro colocar as algemas. Me empurrou com a força de sempre para eu andar na direção do corredor.

— Ela falou grávida mesmo? — perguntei perplexo.

— É surdo ou o quê?

— E aí, Patterson! — um dos presos retornava de alguma visita, sendo guiado por outro carcereiro — Quem é a gostosona te esperando? Se não quiser, deixa que eu faço bom proveito — soltou uma risada.

— Vai se foder!

Joguei meu corpo no tranco em um súbito momento de raiva, mas o carcereiro puxou meu cabelo, evitando que eu tivesse algum contato com o filho da puta.

— Não banque o nervosinho por causa de um rabo de saia, não vai querer ir para a solitária. Sabe que eu não vou ficar bancando o bonzinho com você para sempre. Já faço muito para manter você com privilégios aqui dentro.

Respirei fundo.

Não respondi.

Continuamos o percurso.

Entramos no pátio com várias mesas espalhadas. Não havia muitos visitantes hoje.

Meu olhar parou de imediato na presença da única pessoa que tem esse dom de chamar a atenção sem precisar fazer nada. Vestia uma calça pantalona preta, junto com um body cruzado de manga comprida, inteiro rosa. A cara dela. Não evitei um pequeno sorriso.

SUMMEROnde histórias criam vida. Descubra agora