Dificilmente você um dia vai achar fácil reencontrar com a pessoa que destruiu a sua vida, principalmente quando essa pessoa deixa claro que não se arrependeu. E mesmo depois de incansáveis meses me preparando pra isso, sabendo que eu teria de encarar a verdade e tomar uma decisão, eu ainda não me sinto pronto.
Quando eu atravessei a porta da clínica psiquiátrica, sendo acompanhado pelas três pessoas que me acompanharam por toda essa jornada, eu ainda não estava pronto. Quando funcionários me levaram cada vez mais e mais fundo por corredores brancos estreitos e com uma limpeza questionável, eu não estava pronto. Mas é só quando eu entro na mesma sala que ele que eu finalmente percebo que eu nunca vou estar pronto pra isso. Esperar que esse sentimento de prontidão surja espontaneamente, que uma coragem e determinação surjam do meu medo e me tornem forte é sonhar, e eu não estou aqui para sonhar.
— Senhor Cesari, vocês terão apenas vinte minutos, isso é inegociável. — Uma funcionária me avisa, e eu assinto. — A conversa será monitorada a todo momento, e caso o paciente faça alguma interação agressiva, o senhor pode se levantar e erguer a mão que o tiraremos de lá imediatamente. Se notarmos qualquer interação agressiva ou intenção de machucar o paciente, o senhor será convidado a se retirar e não voltará mais. — Ela fala todas essas informações em um único fôlego, então respira fundo para voltar a falar. — Como dizia o contrato que o senhor assinou, por livre e espontânea vontade. Alguma pergunta? Podemos prosseguir?
Olho pelo espelho falso de tom levemente azulado, vendo a figura masculina inclinada sobre uma mesa simples que limita drasticamente a movimentação de suas mãos. Ele sabe que é um espelho falso e se recusa a olhar pra cá, talvez esperando que seja um advogado ou algum outro infeliz de terno querendo arrancá-lo de seu sossego no hospício.
— Podemos, claro. — Tento não aparentar, mas consigo sentir que meu semblante expressa tristeza.
Ela fala mais alguns detalhes que não faço questão de ouvir e fala com alguns outros funcionários, e eu olho pros meus amigos antes de entrar na sala. Eles me encaram de volta com sentimentos mistos: expectativa, decepção, um sorriso que deveria me passar conforto... Essas expressões se perdem da minha mente quando finalmente entro na sala. Seus cabelos ondulados, um dia cor de areia, agora estão quase castanhos, sua pele um dia bronzeada agora é pálida e meio esverdeada como a de um cadáver. Sua aparência angelical e perfeita estava ruída e desgastada, dois anos aparentemente lhe fizeram um grande estrago.
Assim que escuta a porta atrás de mim se fechar, ele me encara e seus olhos escuros e tempestuosos ganham brilho e um pouco do azul retorna. Seu rosto se suaviza e dá um pequeno sorriso, como se fossemos apenas amigos que não se viam faz anos. Como se um dia não tivéssemos sido mais, e então perdêssemos tudo.
— Chris, você voltou pra mim. — Ele abre um sorriso maior, e antes de sequer cogitar falar algo eu me viro para o espelho falso e ergo a mão para me tirarem de lá.
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edit: e essa mudança drástica no prólogo, será que um dia vai fazer algum sentido? espero que sim
não se esqueçam de comentar e votar, me motiva a postar mais <3
att dupla pra um bom começo
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❦ᴍᴇᴀɴ ᴀɴɢᴇʟꜱ❦ [HIATUS]
Teen FictionNo final das contas, é isso que amaldiçoava a vida de Christopher - ou melhor, são eles. Os anjos ruins. Os rudes e rebeldes, que cospem na sua comida e riscam seu carro recém comprado, ou os gentis e católicos, que tem olhos inocentes e praticam au...