A ideia do Justin foi um pouco… peculiar, se me permite dizer. Não envolvia machucar ninguém
— por mais que tenha ferido alguém emocionalmente —, mas certamente um desafio. Ele me propôs raspar a cabeça do padre, que era basicamente o diretor do Internato, à noite, enquanto ele supostamente faria o mesmo com os bispos e coroinhas. Era um plano imprudente, eu poderia ser expulso ou levar a pior punição da minha vida, mas eu achava a ideia a mais mirabolante de todas.No final de novembro, consegui negociar com um garoto mais velho e consegui uma máquina
pra raspar o cabelo. Caso eu tivesse que dar um “tutorial” de como um adolescente em um internato e conseguiria raspar a cabeça de alguém por diversão, não saberia como porque nunca soube onde aquele cara conseguiu a máquina e não lembro o que ofereci em troca, mas sei que não foi dinheiro.Em 1º de dezembro, eu tinha tudo o que eu precisava e combinamos de “atacarmos” juntos. E eu fui. Abri a porta do quarto do diretor com um método que nem lembro mais qual foi, me movi por lá silenciosamente por mais que a adrenalina ameaçasse explodir minhas veias e raspei uma grande parte do cabelo meio ralo do velho. Escrevi um enorme “CJ” no topo da cabeça dele, era algo que você só saberia o que estava escrito se ele se abaixasse mas dava pra saber que tinha algo pelas falhas.
Talvez eu tivesse me safado se fosse embora naquele momento, mas eu insisti em ir pra barba
dele também. E depois de deixar o coitado — mas nem tanto — do homem com um bigode igual ao de Hitler e com uma piroca raspada na bochecha, a maquininha vagabunda prendeu no pelo da bochecha dele sem querer e eu, desesperado, puxei. E ele acordou.Vou poupar os detalhes do que aconteceu a seguir, todos os gritos e brigas daquela noite me resultaram em uma grande e inesperada fama pra mim e duas semanas em uma espécie de “solitária” com uma bíblia em que eu cuspi e chorei por horas. Depois de sair de lá e ser bombardeado por perguntas e risinhos quanto ao ocorrido, descobri que Justin não fez o que me prometeu — pior, não me fez nada.
Depois de comer propriamente e tentar relaxar um pouco enquanto andava pelo Internato, fui ao nosso quarto questionar ele.
— Olha, se não é a nova celebridade do Internato. — Ele me falou sorrindo assim que abri a porta.
— Não vem assim pra cima de mim, seu merdinha. — Seu sorriso se esvaiu. — Eu sei que você não cumpriu sua parte do trato, quando você me prometeu que nós dois faríamos aquilo, que éramos uma equipe! Sua palavra não de porra nenhuma se você dá pra trás.
— Olha, Chris. — Ele passou o braço ao redor do meu pescoço. — Não é que eu dei pra trás. Na verdade, eu estava te ajudando. Você fez algo que ninguém nunca teria pensado em fazer, o pessoal tá falando de você faz dias. Você é o Sr. Popular agora, Chris, e eu te ajudei a chegar aí. Deveria estar me agradecendo.
— Agradecendo? — O empurrei pra longe, não estava só puto como confuso. — Que caralhos você fumou? Eu fiquei 14 dias no inferno, levando bronca por algo que era mais lance meu do que meu. Eu fiquei num cubo sujo comendo como se fosse um indigente enquanto você tava aqui, e nem ao menos se deu o trabalho de se preocupar em saber onde eu estava, nem assumiu a culpa comigo.
— E? — Ele me encarou com uma cara de cu que me enfureceu mais do que tudo no mundo. — Foi você quem raspou o cabelo e a barba do diretor, você conseguiu a máquina, você
arrombou a porta, eu só dei a ideia, você decidiu seguí-la. Por que eu deveria ter assumido a culpa com você?Aquela foi a gota d’água, eu estava explodindo de raiva. Parti pra cima do Justin e o soquei várias vezes. Bem, não várias vezes, só consegui acertar o primeiro golpe por ser surpresa mas ele tinha muita mais força e experiência do que eu, então os outros socos ou ele desviou ou eu errei. Logo depois ele me imobilizou, me jogou no chão e ficou por cima de mim me segurando até que eu me acalmasse. No fundo eu sabia que ele estava certo, mas eu estava magoado por ter acreditado nele e seu nariz sangrando me dava um pouquinho mais de conforto.
Depois que eu me acalmei e parei de tentar brigar, ele me soltou e saiu do quarto sem falar nada e não voltou até a manhã do dia seguinte. Ficamos sem nos olhar ou falar por uns dias, até que ele veio falar comigo na manhã de natal.
(25 de dezembro de 2014)
— Ei, Chris.
— Oi, fala ae. — Eu estava na catedral do Internato, sentado com uns garotos que não me lembro o nome
e que pareciam tentar se concentrar nas palavras do padre enquanto minha mente estava em outro lugar até que Justin me trouxe de volta a realidade.— Desculpa aí. Sabe, pelo negócio com o padre. Eu deveria ter assumido a culpa com você aquele dia, eu tinha te prometido e você não teria feito nada se não soubesse que eu ia fazer
contigo. Até tentei falar com os inspetores que tinha sido a minha ideia, se te conforta, mas eles
nem quiseram me ouvir. — Ele sussurrou.— Tá tudo bem. Você não precisava fazer aquilo, você tava certo no final das contas, a punição foi só consequências do que eu fiz, você não tinha motivo pra ficar no meio daquilo. — Sussurrei de volta, ignorando completamente os "shh" das pessoas ao redor.
— Então… podemos voltar a sermos amigos? — Ele perguntou, com um sorriso no rosto. — A equipe CJ ainda tá de pé?
— Claro, por que não estaria? — Sorri de volta.
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n sei que notas colocarkkk
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❦ᴍᴇᴀɴ ᴀɴɢᴇʟꜱ❦ [HIATUS]
Roman pour AdolescentsNo final das contas, é isso que amaldiçoava a vida de Christopher - ou melhor, são eles. Os anjos ruins. Os rudes e rebeldes, que cospem na sua comida e riscam seu carro recém comprado, ou os gentis e católicos, que tem olhos inocentes e praticam au...