↳Capítulo 7 - 11 de abril de 2019

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Presente

- E você não falou seu nome pra ele? - Tia Lily pergunta enquanto saboreia uma torrada com manteiga, alguns farelos voam pela sua boca mas não é como se algum de nós dois se importasse. Balanço a cabeça como resposta.

Aliás, esse é um dos primeiros cafés da manhã em que acordamos um pouco mais cedo, então conseguimos um tempo legal pra conversar, e depois de longos minutos dela me contando sobre como a secretaria nova é "insuportável e deveria ser rebaixada a estagiária" e como o chefe dela é "um velho que é casado mas assedia todas as mulheres descaradamente", ela me perguntou sobre como foi a consulta ontem.

- E ele ainda por cima sabia do seu aniversário, e você não toca nesse assunto pra ninguém. - Ela comenta, refletindo sobre o meu relato. - Será que é um stalker?

- A médica parecia conhecer ele e meio que confirmou a história dele, ele realmente parecia alguém que estava lá bem antes de eu chegar e parecia muito que não tinha planejado me encontrar lá. - Respondo e tomo um gole da minha água. - O pior é que eu não sei o quanto ele sabe sobre mim e não sei nada sobre ele, nem o nome.

- É realmente... - O celular dela começa a vibrar por causa de um alarme, e ela solta um suspiro e logo se levanta e começa a pegar a louça dentro da pia. - ...estranho. Não sei ao certo o que posso fazer por você, não tenho nenhum secretário particular que possa pesquisar sobre todos jovens de cabelo pintado que sejam esquizofrênicos e ansiosos do estado sem que soe estranho. Mas vou tentar achar alguém que possa fazer isso por nós.

- Por nós? Você acredita na minha história?

- Óbvio, benzinho. Por que você mentiria? - Um nó se forma na minha garganta. Tento sorrir, mas meus lábios fazem outro movimento. - Tá tudo bem? Você parece prestes a chorar.

- Não é nada... Tia, por curiosidade-

- Lily, benzinho. As mulheres não gostam de serem chamadas de tia. - Ela dá um sorriso doce, e eu me pergunto qual foi a última vez que eu consegui dar um sorriso verdadeiro como o dela. - Mas fala.

- Lily, por curiosidade, quando foi a última vez que você falou com a minha mãe antes de ela sumir? - Ela franze as sobrancelhas por um segundo, e reflete por um tempo um pouco maior enquanto arruma as coisas e veste um dos seus melhores casacos que parece ser bem macio e quente.

- Bem, faz realmente muito tempo. Muito mais do que eu queria. - Ela arruma o cabelo e parece tentar ao máximo ocupar suas mãos, como se não quisesse focar totalmente naquele assunto. Saímos da casa dela e seguimos para a parte mais movimentada da cidade. - A última vez que ela me ligou foi há dois anos atrás. Sua irmã estava com problemas, mas ela não queria me contar qual era.

- Foi antes da Cassie ter o bebê?

- Ah, sim, vocês ainda não sabiam da gravidez naquela época. Sua mãe me disse que iria sumir e que me encontraria assim que as coisas se ajeitassem. Quando soube de você e o advogado deu instruções tão vagas, pensei... pensei que era um sinal, que minha irmã iria finalmente aceitar minha ajuda. - Lily dá um sorriso triste, em seguida fecha os olhos, respira fundo e assume uma expressão que não parece ter nenhuma emoção por trás. Caminhamos mais lentamente pelas ruas. - Mas estamos igualmente perdidos quanto a qualquer coisa sobre ela...

Ela parece hesitar bastante antes de dizer qualquer outra coisa, como se não estivesse pronta pra falar sobre ou só não quisesse. Mas no fundo eu consigo reconhecer que ela pensou sobre isso por anos e sempre quis comentar com alguém, poder soltar um pouco daquela amargura mas agora não sabe mais se realmente quer falar sobre a minha mãe.

- E antes disso, ela veio me encontrar pessoalmente. Você tinha um pouco mais de dez anos, era um garotinho pequeno e levado. - Ela dá uma risadinha fraca e bagunça levemente meu cabelo, feliz com o gosto da nostalgia na língua. - Carmen me disse que você tinha feito uma grande merda, que estava sendo influenciado por um vizinho e que estava indo pro mal caminho. Lembro que ela estava furiosa, mas discordei muito quando me disse que queria te mandar pra um internato de padres.

"E olha que Carmen também não era uma das melhores influências, ela só parou de fazer besteiras depois dos 14, ela deve ter lembrado disso pra desistir daquela ideia doida. Você teve sorte que ela ouviu a voz da razão pelo menos aquela vez, imagina como seria te colocar em um internato no meio do nada cheio de desconhecidos? Nossa mãe nos levou em um de freiras quando éramos mais novas, era pertinho de casa mas não aguentamos nem dois anos. Ela queria te deixar lá por mais que isso. Ideia boba, né?

Só naquela hora percebo que minha tia não sabe sobre o meu histórico no Internato. Ela me achou quando a justiça estava pedindo que ela tivesse minha guarda devido a ausência da minha mãe, minha irmã era muito nova e o orfanato não me queria porque eu era muito velho e não seria adotado, quando eu tinha certeza de que o mundo estava me deixando de lado. E conhecendo o pouco que conheço sobre minha tia, sei que contar tudo que aconteceu pra ela só a deixaria triste e preocupada. Então prefiro omitir isso, ao menos por enquanto.

- É, teria sido algo deprimente.

Aperto o casaco jeans surrado com o J na etiqueta quando nos aproximamos da escola. Não conversamos nada de mais no resto do caminho e minha cabeça permanece cheia por horas.


ai tomem outro capítulo

honestamente não sei quando vou ter mais de 1 leitor, mas vou continuar postando mesmo assim pq fé

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❦ᴍᴇᴀɴ ᴀɴɢᴇʟꜱ❦ [HIATUS]Onde histórias criam vida. Descubra agora