~ Passado ~
Ao que o tempo foi passando, eu eventualmente me acostumei um pouco com a vida de presidiário. A segregação, as centenas de regras, as punições severas, o meu colega de quarto, o fato de que minha mãe me botou lá pra me esquecer de vez... Talvez esse último nem tanto, eu passei a evitar falar ou pensar sobre esse assunto porque me assustava um pouco.
No meu segundo ano no Internato, eu tinha 179 punições acumuladas, e elas acabaram ficando até um pouco sem graça porque qualquer mal comportamento te fazia levar uma punição. Falou mais alto que o professor? Punição. Chegou no dormitório 5 minutos depois do que deveria? Punição. Não comeu a comida toda? Punição. Repetiu a refeição? Punição. Era ridículo.
Mas eu, com minha cabeça de criança, achava que ser punido era um ato de bravura, como se você fosse tão fora do sistema que só de respirar errado você já tinha que ficar no castigo. E eu não era o único, chegou ao ponto que eu e uns colegas de classe competíamos para ver quem acumulava mais até o final do ano. Eu estava em segundo lugar no "rank", logo atrás de Justin e aquilo acabou criando uma rivalidade estranha e desnecessária entre nós — ou melhor, eu estava criando essa rivalidade platônica com ele. Mas não vou culpar meu eu do passado, eu era apenas um garoto de 12 anos.
Eu estava no quarto a tarde toda, escrevendo no meu caderno maneiras diferentes de ser punido quando o meu colega de quarto entrou.
— Fazendo o que? — Ele se inclinou atrás de mim, tentando ver o que eu tava escrevendo e eu fechei o caderno rápido e segurei com força contra meu corpo.
— Não-
— Deixa eu adivinhar, não me interessa? — Ele me interrompeu e deu um sorriso ladino. Ele tentou pegar de mim, mas eu fui mais rápido e me esquivei. — Já passamos dessa parte, Chris, achei que tínhamos virado amigos a esse ponto.
— Só depois que eu passar você e ter mais punições, aí a gente volta a ser amigo. — Como eu era insuportável. (O certo seria "e eu tiver mais punições", mas eu deixei o erro propositalmente por ser mais parecido com a fala)
— Se esse é o caso, eu posso te ajudar a subir e nós dois chegamos ao 200 juntos e dividimos o primeiro lugar. — Ele sugeriu com um "charme" na voz que eu já conhecia e sabia que tinha algo no meio.
— Qual o truque?
— Nenhum em específico. Eu vou fazer algumas coisas e você vai levar a culpa, ninguém precisa saber que fui eu. — Ele abriu um sorriso diferente. Eu vi aquilo muitas outras vezes durante o passar dos anos, mas aquela tinha sido a primeira vez. Era o seu sorriso confidente. E ele adicionou: — Só tem eu e você aqui, ninguém mais vai ouvir e ninguém mais sabe. A gente vai manter entre a gente, saca?
— Se for mentira, tu tá fodido na minha mão. — Até porque um garoto pequeno e magrelo é incrivelmente forte e ameaçador.
Detalhe que naquele ponto meu canivete tinha sido confiscado. A história de como aconteceu não é interessante, só fui usar a lâmina na hora errada e no lugar errado, me viram e pegaram da minha mão. Foi uma das minhas primeiras punições, e com certeza uma das piores. Eu não tinha como ameaçar ele.
— Eu sei, mas não é. — Ele deu uma piscadinha e saiu do quarto.
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não me lembrava que esse capítulo era tão curto aiai, dá até uma dorzinha publicar algo com 580 palavras
tô tentando ficar alguns capítulos a frente do que eu posto, mas do que adianta se eu esqueço de postar? apenas tristeza
como sempre, não esqueçam de votar na história e deixar uns comentários pra eu me lembrar de voltar e atualizar isso aqui
é isso, bjs <3
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❦ᴍᴇᴀɴ ᴀɴɢᴇʟꜱ❦ [HIATUS]
أدب المراهقينNo final das contas, é isso que amaldiçoava a vida de Christopher - ou melhor, são eles. Os anjos ruins. Os rudes e rebeldes, que cospem na sua comida e riscam seu carro recém comprado, ou os gentis e católicos, que tem olhos inocentes e praticam au...