↳ Capítulo 1 - 10 de abril de 2019

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~ Presente ~

Eu acordo suado, sentindo como se meu coração fosse escapar do meu peito. Tive outro pesadelo, e eles vêm me seguindo em uma frequência que está se tornando assustadora. Sinto meu corpo tremendo, pego o celular e vejo a hora. 07:33. Respiro fundo tentando esquecer o sonho, saio do quarto e vejo minha tia fazendo chá de mate, enquanto canta baixinho uma música que toca na rádio. Tenho uma estranha sensação de enjoo, sinto que só o cheiro da comida poderia me fazer vomitar, mas respiro fundo e tento apresentar meu melhor sorriso.

— Bom dia, tia Lily. — Me pronuncio e percebo minha voz meio rouca, ela se vira pra mim em um pulo. Consigo ver panquecas e misto quente atrás dela, sua especialidade ela me disse algumas vezes, mas isso não me traz a fome que eu deveria estar sentindo.

— Bom dia, dorminhoco. — Ela sorri, os olhos cor de café tem olheiras roxas e parecem exaustos por mais que demonstrem alegria genuína. Provavelmente trabalhou até 4 horas da manhã de novo, mas ainda consegue agir energeticamente. — Fiz um café especial pra você, benzinho. — Ela sai de trás da bancada, me abraça e me dá um beijo na testa. Eu permaneço parado, ainda assimilando as coisas.

— Pro meu aniversário? — Chuto, me lembrando brevemente de ter visto a data na tela do celular.

— É, achei que tivesse esquecido. — Ela se desvincula de mim e volta pra cozinha, colocando o mate num copo e acrescentando gelo. Lily coloca uma mecha rebelde do seu cabelo channel perfeitamente arrumado atrás da orelha. — Olha, eu fiz-

— Panquecas, misto quente e mate. — Ela se vira para mim, meio surpresa enquanto coloca os pratos na minha frente. — Eu tinha visto. É melhor que qualquer banquete de aniversário, tia, não poderia imaginar algo melhor pra comer. — A dou um sorriso, mas meu estômago se revira e minha garganta fecha, sei que não devo pular as refeições mas é mais difícil a cada dia que passa. — Ah, e já são 7 e 35, melhor você ir se arrumar logo, não podemos nos atrasar.

O locutor da rádio fala o exato mesmo horário. Morávamos juntos faziam algumas poucas semanas, mas já tinha me acostumado com o fato de que ela é de se atrasar bastante.

— Se puder ir se arrumando, eu vou agradecer muito. — Ela fala enquanto corre para o seu quarto.

Começo a me arrumar também, fazendo o mesmo esquema de comer o café e botar uma fruta qualquer na mochila. Coloco  uma calça jeans e uma blusa branca lisa junto de um all star amarelo bem velho, eu me sentia um npc mas não é como se estivesse me vestindo pra um desfile de moda. Peguei a mochila e meu cordão dourado com um pingente de cruz, usando mais como um acessório do que por questão de fé. Procuro algum casaco nas minhas roupas, não. Acabo achando um casaco jeans com umas partes fofas, ele tem alguns símbolos pintados com tinta vermelha, como uns "idiot", uns fantasminhas e símbolos de cruz riscados com um X e um J na etiqueta e logo percebo que não é meu. É o casaco dele. Claro, é mil vezes melhor que passar frio o dia todo, mas ainda assim, ver isso no meio das minhas coisas é como uma facada numa ferida que ainda não cicatrizou. É infeliz, mas eu visto o casaco mesmo assim.

Quando volto pra sala, tia Lily está terminando de calçar seus saltos pretos. Ela veste com uma saia e blazer igualmente pretos e uma meia-calça escura, junto de uma maquiagem sutil que dava a entender que ela trabalhava em um escritório. É meio impressionante ela conseguir se arrumar tanto em 5 minutos. Logo saímos de casa.

— Ah, e eu vou com você hoje, tenho que ir na secretaria.

— Coisa da matrícula ou é pra me dar sorte no primeiro dia?

— Matrícula, seu bobo. — Ela parece bem humorada enquanto fala. Vamos andando juntos pelas ruas com um céu nublado nos seguindo.

— Engraçado aquele mecânico, né, deve ter anos de experiência no trabalho mas não consegue consertar um fiat. — Comento com ela depois de um tempo, que me olha como se eu tivesse tirado as palavras de sua boca. — Aí a senhora tem que ficar andando de salto pra lá e pra cá o dia todo, quero ver se fosse ele.

— Isso mesmo, Chris! Queria ver se fosse ele no meu lugar. — Ela exclama, com um pouco de raiva na voz. — Se ele soubesse o que é ter que ir de salto alto pra estação, ficar mais de meia hora em pé e ainda ter que voltar andando pra casa, ele com certeza teria entregado o carro no dia que eu deixei lá. — Rio disfarçadamente, a indignação dela soa engraçado. — Mas por favor, não me chama de senhora. Eu e minha irmã temos muitos anos de diferença, mal tenho a idade pra ser sua mãe.

— Ok, tia Lily. Se perguntarem, eu falo que a sen- digo, que você é minha irmã mais nova. — Ela ri um pouco, dando uma cotovelada levinha no meu braço.

— Aí já tá forçando a barra, Chris.

Fico um pouco menos tenso, ver minha tia sorrir é muito bom, seu complexo de cansada e de alguém que tinha dormido bem pouco — por mais que sempre seja assim — faz eu me sentir mal por ela. Mantemos silêncio até chegarmos na escola.


edit: ia dar uma mudadinha nesse cap ontem mas ficou tarde e reclamaram comigo, então tá aí hojek

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❦ᴍᴇᴀɴ ᴀɴɢᴇʟꜱ❦ [HIATUS]Onde histórias criam vida. Descubra agora