04. Segredos celestiais

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Parecia que a chuva torrencial repentina não ia acabar tão cedo. No momento em que Shi Wuduan tocou o astrolábio, o seu corpo ficou imóvel.

Desde muito jovem, Shi Wuduan tinha um comportamento terrível. No momento em que aprendeu a virar de lado, começou a rolar para fora do berço.

No momento em que aprendeu a engatinhar, todas as coisas em seu quarto começaram a ser quebradas por ele. Depois que ele aprendeu a correr, tudo piorou - ele realmente era uma pequena catástrofe ambulante. A única maneira de controlá-lo era ter alguém o seguindo e de olho nele a cada momento do dia, para que pudesse acabar imediatamente com qualquer ideia perversa no momento em que ela começasse a se formar em sua cabeça.

Até que um dia, o mestre taoísta descobriu seu interesse pelo astrolábio.

Quer ele estivesse com excesso de energia para criar confusão ou não, desde que houvesse um astrolábio à sua frente - mesmo que fosse tão pequeno quanto a palma da mão de alguém - seria o suficiente para fazê-lo ficar quieto e docilmente sentado, mexendo nele por uma manhã ou uma tarde inteira - ainda que o astrolábio em questão fosse apenas uma mesa de pedra sem as estrelas e os fios.

Na caverna, os únicos sons que permaneceram foram os da chuva, da madeira crepitando enquanto queimava e o som de um jovem usando um pequeno graveto para escrever na lama.

Shi Wuduan estava agachado no chão, o corpo ainda encharcado, o cabelo molhado solto nas costas. Alguns fios estavam caídos em sua testa, pousados docilmente em seu perfil lateral suave. A lama em seu rosto ainda não tinha sido limpa e, depois de seca, lhe deixou com a aparência de um gatinho selvagem, embora a sua expressão fosse muito serena.

Tão sereno que de alguma forma não parecia uma criança.

Os fios brilhantes de estrelas que pareciam ter vida própria pendiam de suas mãos, formando um arranjo intrincado e inseparável. No astrolábio, que devia medir não mais que meio metro quadrado, as estrelas que eram tão grandes quanto grãos de areia se deslocavam lentamente, manipuladas por duas pequenas mãos, no entanto, parecia existir uma mão ainda maior sempre manobrando por trás o seu movimento, tendo feito isso por bilhões de anos.

Sem saber o motivo, Bai Li de repente sentiu que o jovem estava longe demais dele, tão longe quanto a distância entre a terra e as estrelas, como se - não importando o quanto esticasse as mãos -, ele não conseguiria tocá-lo, então ele não resistiu em dizer:

"Você não precisa calcular, vai ser um desperdício de sua energia. Em nosso clã do espírito da raposa, quem pode cultivar sem passar pela tribulação? Vou tolerar até que passe, está tudo bem."

Shi Wuduan fez um som em resposta, mas o pequeno graveto em sua mão não parou, quem sabia se ele tinha ouvido.

O cálculo que ele estava fazendo, embora outras pessoas pudessem pensar que era complicado, na verdade era só a introdução de 'San Lian Suan Shi' [1], não era nada tão avançado. Shi Wuduan obviamente pensava que Bai Li era uma criança como ele, tendo assim vivido poucos anos nesta terra, então que carma ele poderia ter acumulado? Era por isso que ele tinha optado por um cálculo tão simples.

Inesperadamente, depois de um momento, ele franziu a testa e soltou um 'oh'. A lama em seu rosto já havia secado, então estava coçando um pouco.

Usando o graveto para coçar o rosto, ele falou, como em um monólogo: "Por que não consigo calcular? Que estranho."

Bai Li repetiu o que tinha dito antes: "Então não calcule mais."

Seria bem melhor se ele não tivesse dito isso, já que Shi Wuduan tinha uma natureza infantil.

Normalmente, o astrolábio da montanha Jiulu não podia ser carregado por aí como bem entendessem. Já não tinha sido fácil para Shi Wuduan trazer este pequeno. Ele queria de todo o coração se exibir para Bai Li, então como ele poderia simplesmente desistir? Portanto, ele fingiu ser maduro e acenou com a mão:

Jin Se ‧ Priest [PT/BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora