4 - Chegando ao Acampamento Meio-Sangue.

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Larissa POV.

O banco traseiro daquele carro velho não poderia ser o melhor dos lugares para dormir, e aquela descarga do veículo estava provavelmente quebrada, produzindo um som irritante. Mas eu já dormi em condições piores, em situações piores. Bem-vindo ao mundo de Machado, uma semideusa que ficava feliz em poder dormir por algumas horas no banco de trás de um carro.

Claro que aquilo não fazia parte dos meus planos, estar ali no meio de uma fuga totalmente improvisada, resgatando o que eu considerava o ser mais desastrado da face da Terra. O meu principal propósito era o de voltar para Miami, sobreviver a minha maneira, mas só retornar ao Acampamento Meio-Sangue no verão. Mas, obviamente, o destino não tinha planos tão carinhosos para mim.

Acordei sentindo fome, afinal mal havia tocado na pizza da noite anterior. Ao que parecia, a Lefundes adorava aquilo e eu preferi deixar meu segundo pedaço para se tornar o quarto dela. Um pequeno agrado que ela não teria novamente. Não, eu não sou uma menina má, não a esse ponto de não levar em consideração a reviravolta que aquela garota estava tendo. Ela tinha até uma vida normal, até cruzar o nosso caminho no dia anterior e deparar-se com um lestrigão burro, mas forte o suficiente para me acertar uma vez ou outra.

Eu sabia que algo estava acontecendo. Não algo qualquer, algo grande. Estava sentindo isso durante todo o mês e tinha tentado alertar Arielle. Mas de nada adiantou, a surpresa praticamente estourou na nossa cara, nos pegando desprevenida e nos obrigando a sair correndo com o rabo por entre as pernas. No entanto, se algo estava acontecendo, envolvia aquela garota. Uma semideusa "velha" não reclamada, uma que dominava cães internais com apenas um comando de voz. Eu nunca realmente me importei com Ohana Lefundes, não mais do que o suficiente para mandar Arielle ter um olho sobre ela, aproveitando da amizade das duas.

: - Ela fica até fofa dormindo. - Escutei a voz de Ohana.

Quase franzi o cenho, entregando o meu estado desperto. Estava de olhos fechados, perdida em meus devaneios, provavelmente ainda aparentando estar em sono profundo. Mas só agora eu prestava atenção no que elas falavam.

: - Larissa não é tão má quanto parece. - Arielle falou gentilmente. - É só uma garota que teve que crescer muito rápido.

Quase revirei os olhos, odiava essas coisas que Arielle ficava falando de mim. Era como se em algum momento eu pudesse ser frágil. E eu não o era, não poderia ser. Se fosse, seria morta a qualquer momento. Sim, eu brigava por tudo, brigaria com o mundo se fosse necessário e achasse certo. Se a vida queria me ferrar, teria muitas dificuldades para isso.

: - Queria que ela fosse mais... Fácil de conversar. - Escutei Lefundes comentar hesitante. - Com certeza eu teria um monte de perguntas pra fazer para ela.

: - Esqueça, a Larissa é difícil assim mesmo.

: - Será que as fofoqueiras poderiam parar de falar de mim? - Resolvi intervir ficando incomodada. - Vão cuidar dos problemas de vocês.

Sentei em um movimento rápido, encarando seriamente Ohana que ainda estava olhando para mim do banco da frente. Ela tremeu, desviou o olhar rapidamente e encolheu. Fiquei satisfeita, causar isso nos outros sempre foi uma vantagem. Porém, diferente do que Arielle disse, minha lógica de vida era bastante simples: atacar antes de ser atacada. Estava dando certo até agora, então parecia uma ótima estratégia.

: - Onde estamos?

: - Em alguma cidade da Carolina do Sul, ao anoitecer devemos chegar pelo menos em Virgínia. - Arielle disse olhando um pouco para os lados e para o céu. Ohana a olhava de forma engraçada e a mais alta riu. - Filha do deus dos viajantes, lembra? Eu sempre sei onde estou. E não são todos que desenvolvem isso.

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