Capítulo 4

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As aulas foram legais, mas eu precisava confessar que me perdi no raciocínio algumas vezes. Mais precisamente quando Noah me tocava sem querer, me causando arrepios esquisitos. Até afastei a minha cadeira para evitar esses toques acidentais.

Só que ele não parecia perceber que vez ou outra empurrava meu ombro ou esbarrava no meu braço. Ele agia de forma inocente e quando queria saber de algo, costumava me cutucar feito uma criança curiosa. Contei quase tudo sobre a minha vida para ele e também descobri que Noah não era brasileiro. Seu pai era americano e ele nasceu nos Estados Unidos. Mas veio morar no Brasil ainda criança e por isso sabia os dois idiomas.

Isso de certo modo justificava o nome dele, se bem que brasileiros eram bem criativos nesse quesito e se podia esperar de tudo.

— Dez e meia — sussurrou próximo do meu ouvido. — Não vejo a hora de ir embora.

Eu ri e me afastei porque meu braço ficou arrepiado quando ele chegou perto de mim.

Que droga estava acontecendo comigo?

— Quer uma carona? — Ofereci em um tom baixo para não atrapalhar o restante da aula. 

Não sei o que me deu, simplesmente saiu.

Noah pensou por um instante. 

— Não vai atrapalhar seu caminho pra casa? — perguntou, ainda aos sussurros.

— Não — confirmei, então virei para a frente, porque ele estava olhando fixamente para mim e eu fiquei ligeiramente incomodado. 

Na verdade, incomodado não era bem a palavra certa para definir o que senti.

Os trinta minutos passaram voando. Enquanto eu ajeitava minha mochila, Noah conversava com uma menina que perguntou algo a ele. Algo que eu não consegui ouvir.

Não sei porque vê-lo sorrindo para ela me deixou desconfortável, Noah era assim. Atencioso e extrovertido, diferente de mim que era fechado igual minha irmã. E de qualquer forma eu sabia que Noah era gay… O que está passando pela minha cabeça? Não era da minha conta se ele falava com um garoto ou uma garota.

Joguei tudo dentro da mochila de qualquer jeito e saí da sala. Fui para o estacionamento da faculdade sem esperar pelo Noah, mas quando estava abrindo a porta do carro, ele surgiu ao meu lado. 

— Desistiu da carona? — indagou, ajeitando a mochila no ombro.

— Não — neguei prontamente — Só não quis atrapalhar. 

Foi a vez dele rir.

— A Jana perguntou se eu tenho as anotações da aula passada, porque ela teve que faltar — explicou, ainda com aquele sorriso preguiçoso nos lábios.

— Hm — murmurei, disfarçando o alívio — Entra aí. 

Ele obedeceu e eu fiz o mesmo, dei partida quando Noah afivelou o cinto.

— Se quiser desistir ainda dá tempo — disparou, eu uni as sobrancelhas sem entender.

— O que?

— Você se ofereceu pra me dar uma carona e agora está aí todo quieto — acrescentou, olhando para mim. Eu conseguia vê-lo pelo retrovisor mesmo sem olhar para o lado — Eu sempre vou de ônibus, já estou acostumado.

— Não é isso — objetei, mordendo o lábio. — É o lance da minha ex, depois que terminamos eu ando meio confuso, sei lá. 

Não iria dizer que o motivo da minha confusão era ele, fui parcialmente sincero. Era o máximo que conseguiria naquela situação. 

Amor e outros processos sentimentaisOnde histórias criam vida. Descubra agora