Capitulo 3

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Ao chegar em casa, já era bem tarde. Mas fiquei aliviado ao encontrar minha irmã conversando com o Vinícius, enquanto ele brincava com a Laís. Significava que tinham feito as pazes, era estranho à beça vê-los brigados.

Não parecia certo quando você foi um dos que acompanhou o negócio todo se desenrolar e talvez eu tenha colaborado para tudo acontecer. Digamos que era um pouco inconveniente quando mais novo.

— Tudo em paz aqui? — anunciei minha presença, largando a chave do carro na mesa de centro.

— Tio, Lu! — Minha sobrinha foi a primeira a me dar boas vindas.

— Acho que sim — Mariane murmurou, cruzando os braços. — Vinícius está em liberdade condicional.

Ele rolou os olhos verdes.

— Mari, dá um desconto — pediu ligeiramente exasperado. — Ela quase vomitou em mim, o que eu faria com uma mulher bêbada?

— É, você odeia bêbadas — ela resmungou — Mas depois que a ressaca passou, nunca se sabe.

Essa parte me escapou, mas devia ser algum tipo de piada interna que não me dizia respeito.

Vinícius fez uma careta.

— Tô vazando — apontei para a escada, pronto para deixá-los a sós porque não sabia o que fazer para melhorar o clima e eles eram os adultos daqui.

Levei um chifre, não era o mais qualificado para lidar com problemas amorosos ou oferecer algum conselho útil.

— Escuta — minha irmã chamou assim que botei o pé no primeiro degrau. — Sabrina está vindo pra cá com a Paloma passar o final de semana, pretendemos fazer algo legal pra elas. Quer trazer alguém?

Pensei por um instante, não tinha muitos amigos. Na verdade, os filhos da Vanda, amiga da minha irmã, eram os únicos que eu convivia no geral, tirando o meu amigo traidor. Só que a Débora e o Jean estavam em outra agora, ela namorava ou sei lá e ele era descolado demais para continuar andando comigo. Mas... tinha o Noah.

— Beleza — Corri para o meu quarto, peguei uma toalha e entrei no banho.

Será que o Noah acharia estranho se o convidasse para vir em casa? Quer dizer, acabamos de nos conhecer e... balancei a cabeça, não era nada demais. Se ele não quisesse vir era só me dizer, certo?

Não demorei muito no banheiro, quando desci, o clima estava melhor. Vanda chegara e minha irmã não gostava de bancar a rabugenta quando tinha visita em casa. 

Só que o Vinícius estava estranhamente calado e quando seu celular tocou, minha irmã lançou um olhar meio atravessado para ele. O que o fez mostrar a tela, indicando que não era ninguém especial.

 Enfim, eu só queria paz, então coloquei um hambúrguer no micro-ondas e sentei no chão, disposto a passar o resto da noite brincando com a minha sobrinha.

(...)

Não podia assumir que estava ansioso para a aula no outro dia, segurei a alça da mochila com um pouco mais de força do que o necessário e andei até o Noah. Ele estava parado em frente a cantina, devia estar esperando o pedido. 

Cutuquei seu ombro e ele se virou, em seguida abriu um sorriso meio preguiçoso que me deixou um pouco desestabilizado. 

— Como foi sua folga? — perguntou divertido.

— Legal, fui em uma exposição ontem e depois fiquei com a minha família — contei sem muito entusiasmo — e você?

— Não fiz nada demais — deu de ombros. — Que tipo de exposição era? 

— Não ficou sabendo? — retruquei incrédulo — era uma exposição de games antigos, tipo Atari, megadrive... 

— E você não me chamou? — Sua voz subiu uma oitava.

— Não sabia que gostaria de ir — me defendi. — E não tenho seu número.

— Me dá seu celular — pediu, movimentando os dedos longos.

Obedeci, desbloqueei a tela e entreguei para ele. Noah anotou algo e me devolveu.

— Dá próxima vez se não me chamar vou ficar chateado — assenti, com uma sensação estranha no peito.

Noah passou a língua pelo lábio inferior assim que a atendente entregou o lanche e tive que desviar o olhar para algum ponto aleatório. O gesto me deixou um pouco constrangido e algo mais que não soube identificar no momento. 

— Podemos ir na BGS juntos — mencionei, querendo disfarçar o constrangimento. 

— É disso que eu tô falando! — riu, dando uma mordida no lanche. — Vou começar a economizar pra comprar o ingresso, tô meio liso ultimamente. 

— Se quiser posso comprar pra você — ofereci, depois quis voltar atrás porque pareceu estranho. 

— Achei mesmo que você tem cara de Mauricinho — acusou, eu ri.

— Meu cunhado tem bastante dinheiro — expliquei, trocando o peso do corpo — ele me dá uma mesada bem generosa apesar da minha irmã protestar.

— Então aquele HB20 zerado é seu mesmo? — perguntou levemente deslumbrado.

— Ele me deu de aniversário. — Abri um sorriso amarelo, percebendo que eu era um pouco mimado.

Mas... bom, nossa vida não era assim antes do Vinícius chegar. Então eu não ia ser contra ter um pouco de conforto agora.

— Ele parece ser um cara legal.

— É sim, mas a minha irmã tá meio chateada e... — me calei. — Você não vai querer saber dos meus problemas. 

— Manda aí — Noah mordeu o lanche outra vez e o volume em sua bochecha me fez rir.

— Ela tem ciúmes. 

— Ele dá motivos?

— Não — neguei de pronto. — Vinícius é bem de boa, mas é que ele é rico e bonito. Sabe como é. 

Pedi um lanche para a atendente antes de irmos para a sala de aula e continuamos conversando. 

— O que ele faz? — Noah perguntou curioso.

O lanche já tinha evaporado e agora ele parecia prestar total atenção em mim. Isso aumentou a sensação estranha no meu estômago. Seguimos para a sala a passos lentos e ainda não tinha muita gente ali.

— Ele é dono de uma livraria — contei, jogando a mochila na mesa.

— Qual? — Certo, ele era bem curioso.

— Paralela, conhece? — Mordi o lanche e estava gordurosamente delicioso.

— Tá brincando? — quase gritou. — A Paralela é uma das maiores livrarias de São Paulo!

— Pois é — ri. — Mas o Vinícius é bem humilde, nem parece que é montado na grana. Inclusive, você acredita que no começo a gente não sabia que ele era rico? Foi uma história meio maluca, minha irmã pode explicar melhor, mas...

— Me conta, o professor parece estar atrasado — concordei com um menear de cabeça e comecei a explicar desde o começo.

Era divertido conversar com o Noah, ele não deixava o assunto morrer. Estava sempre fazendo perguntas ou murmurando um simples uhum indicando que estava mesmo ouvindo. Quando o professor chegou eu já tinha contado quase toda a minha vida para ele e até convidado para ir em casa no final de semana.

Se Noah fosse algum tipo de bandido querendo sequestrar um membro da minha família para pedir resgate, agora teria todas as informações necessárias.

Mas... bom, ele não era, né?

Nao acredito que atualizei isso aqui, tem alguém aqui ainda? Kkkk gente algumas referências são do livro que originou esse ok? Então pode ficar meio confuso, mas no geral não vou abordar muito o outro.

Se gostarem deixem um comentário e um voto pra eu saber que ainda tem alguém aqui kkkk

Amor e outros processos sentimentaisOnde histórias criam vida. Descubra agora