Fogo E Gelo
Eu havia entrado naquele bar sem esperança alguma. Era a porra da noite de Natal e eu havia brigado com o mundo.
Cheia de dramas e toda a melancolia medíocre dignas de um romance barato, daqueles que nossas mães compravam em bancas de jornal.
Nove anos casada.
Nove anos perdidos!
Meus pais contra mim!
E minha filha, ainda com apenas cinco anos de idade, preferiu ir passar o Natal com o pai e a nova vagabunda dele, a ficar comigo.
Era tudo que ganhei depois de anular nove anos da minha vida.
Se bem que fui avisada quando decidi largar tudo, aos dezenove anos, e viver o amor que eu acreditava ser o primeiro, único, e absoluto em minha vida.
Quanta babaquice!
Levei chifres por anos. Fui rebaixada a dona de casa sem graça (palavras dele) e no fim, nem meus pais me apoiaram quando decidi pedir o divorcio.
Tudo meu inferno astral começou por volta de seis meses atrás, quando colocava o jantar, meu querido ex-marido me entregou uma sacola, era meu presente de aniversário.
Eu esperava aquela pulseira que havia visto no Shopping, imaginando que colecionaria muitos berloques. Mas ao abrir, puta que pariu!
O filho da puta havia comprado um mixer! Sabe aqueles mixer de cozinha? Aqueles que prometem triturar tudo? Pois é... Foi o limite para mim.
Naquela noite, fui parar no pronto socorro com um puta corte no pé esquerdo. Pois, tudo de louça que havia sobre a mesa, eu decidi jogar sobre ele... Infelizmente, uma taça quebrou e estilhaços cortaram meu pé.
Seis pontos a sangue frio. Presente de aniversário!
No dia seguinte, aluguei um apartamento de um quarto no centro da cidade. Peguei tudo que pude levar comigo na mudança e não voltei mais a casa que ele havia construído nos fundos da casa dos pais dele.
Mais um erro para conta!
Nunca construa nada dentro do terreno dos seus sogros!
No divorcio, a juíza bateu o martelo sobre nossa conta conjunta, e metade de tudo que estava lá era meu. Ele ficou muito puto! Afinal, nunca imaginaria que isso pudesse acontecer.
Os pais dele estavam casados há quase cinquenta anos, os meus há uns quarenta, então... Ele jurava que eu seria a 'Amélia' perfeita pelo resto de nossas vidas.
De volta ao bar, olhei para o meu celular apenas por habito. Não esperava mensagem ou ligação de alguém. Nem sequer amigas eu tinha.
Olhei a minha volta, me dando conta que havia entrado em um bar gay. Foda-se! Eu não estava procurando uma foda mesmo.
Seria até bom, poder beber sem um bando de babacas me importunando.
Faltavam pouco para onze da noite quando me dei conta que estava completamente sozinha em minha vida. Segurei as lágrimas que me fariam passar vergonha em público e tomei todo o restante de minha cerveja.
Todos à minha volta tinham alguém... Ou estavam em grupos.
– Quer mais uma corona? – Ouvi a voz do garçom, levantei o rosto da tela do celular, respirei fundo e forcei um sorriso.
– Não... – Olhei a volta, todos pareciam se divertir tanto. – Tem tequila?
O garçom assentiu, sorrindo para mim de uma forma que eu não gostaria. Ele tinha pena de mim!
– Uma dose dupla com limão, por favor. – Disse.
Ele saiu, voltei a olhar a tela do meu celular.
Havia uma foto linda da minha filha, vestida de branca de neve. Ela parecia uma boneca com seus cachinhos escuros, volumosos, seus olhos brilhantes e um sorriso tão doce e suave... Minha razão de existir.
– Ela é uma graça! – Ouvi alguém dizer.
Olhei para cima, e havia um grupo de homens a minha frente.
Por alguns segundos estive em silêncio. Até que o mesmo homem esticou a mão para mim.
– Sou Bruno... – Ele disse.
– Camila. – Respondi, apertando a mão dele.
– Estes aqui são meus amigos... – Ele disse e apontou para os outros quatro homens ao lado dele.
Apenas dei um discreto 'Olá' com a mão erguida.
– Quer companhia? – Perguntou Bruno.
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FOGO E GELO - Noite de Natal
RomanceCamila está sozinha na noite de Natal, enquanto encara um divórcio doloroso, que lhe fez se anular por muitos anos. Agora, ela só quer se livre!