– Nunca havia ouvido. – Comentei, olhando para ele.
– Uma das vozes negras mais respeitadas em uma época de segregação. – Ele comentou.
Abri um riso sem graça.
– Cresci em uma família cristã... – Disse, percebendo que tudo parecia uma nuvem de perfeição em minha casa. – É ridículo perceber, que sendo eu uma mulher preta, não conheço nada sobre tudo isso...
Breno ficou a me observar.
Calei-me, mergulhando em um breve resumo de minha vida. Minha mãe, uma mulher negra casada com um homem branco e machista, e que parecia ter esquecido que era negra. Vivendo sobre a sombra de pessoas racistas e achando tudo normal, como se não houvesse de fato o assunto.
– Você tem uma boca linda... – Breno disse de repente.
– O que? – Perguntei, mesmo tendo entendido perfeitamente as palavras dele.
– Eu queria muito ter te conhecido em outro momento. – Ele disse.
– Como assim em outro momento?
– Em um momento em que você não estivesse tão ferida... – Ele disse. Tomou um gole de sua cerveja e sorriu brevemente, então voltou a me encarar. – Quero dizer que você é linda, e não consigo entender como alguém... Como um cara que teve você, pode te machucar...
Suas palavras eram meio que descompassadas.
Voltei a chorar. Que ódio!
– Ei... – Ele tocou meu rosto, passou o polegar secando minhas lagrimas.
Olhei para Breno, para seus lábios perfeitos.
– Eu adoraria te beijar... – Murmurei.
Ele se aproximou, e com movimentos cuidadosos ele tocou meus lábios com os seus. Fechei os olhos, abri mais a boca esperando provar sua língua.
Mas logo, ele se afastou.
Abri os olhos e fiquei observando Breno, um tanto decepcionada. Ele abriu um sorriso contido e acarinhou meu rosto.
A música acabou, Bruno e Miguel se jogaram no sofá, quase caindo sobre nós.
Eles gargalharam quando percebeu que entornaram a minha cerveja toda em meu colo.
– Desculpe gata! – Disse Bruno, sufocando com suas risadas. – Acho que estou bêbado! – Ele pontuou, sentando-se ao meu lado. Miguel se jogou no chão, sentando á frente de Bruno.
– Tudo bem, relaxa... – Disse, levantei e pretendia ir para a cozinha quando Breno veio e me puxou.
– Vem, vou te dar uma camisa.
Ele me encaminhou para um dos quartos. E quando entramos no cômodo, ele percebeu meu desconforto.
– Não precisa ficar com medo... – Ele me provocou, sorrindo, indo até o armário de duas portas.
Era um quarto em tons de cinza e azul claro, muito masculino e sem nada pessoal. Claramente um quarto para visitas. Havia apenas o armário de duas portas e uma cama de casal ali.
– Não estou com medo! – Respondi.
Ele abafou uma risada.
– Porque está rindo de mim?
Ele pegou uma camisa social branca no cabide e virou-se para mim.
– Camila, você tremia quando te beijei. – Ele disse.
Então, entendi o porquê ele se afastou.
Sorri, sem graça. Desarmando-me.
– Eu sei que parece ridículo... – Comecei a falar. – Mas eu nunca havia beijado outro homem que não fosse meu marido.
Breno parou, olhou para mim como se olhasse para alguém de outro mundo.
– Está falando sério?
Assenti.
– Desculpa isso é muito doido para mim... – Ele murmurou me entregou a camisa.
– Eu imagino... – Disse. – Como disse, cresci em uma família cristã e me casei muito nova com o primeiro namorado.
Breno se aproximou de mim, com uma calma enervante. Seus olhos miravam o meus quando ele me puxou pela cintura e colou seu corpo ao meu.
– Posso te beijar? – Ele sussurrou sua voz aveludada. – De verdade, desta vez?
Assenti. Novamente sem palavras como uma idiota.
Fechei os olhos e esperei que Breno me beijasse.
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FOGO E GELO - Noite de Natal
RomansCamila está sozinha na noite de Natal, enquanto encara um divórcio doloroso, que lhe fez se anular por muitos anos. Agora, ela só quer se livre!