Capítulo 4

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– Nunca havia ouvido. – Comentei, olhando para ele.

– Uma das vozes negras mais respeitadas em uma época de segregação. – Ele comentou.

Abri um riso sem graça.

– Cresci em uma família cristã... – Disse, percebendo que tudo parecia uma nuvem de perfeição em minha casa. – É ridículo perceber, que sendo eu uma mulher preta, não conheço nada sobre tudo isso...

Breno ficou a me observar.

Calei-me, mergulhando em um breve resumo de minha vida. Minha mãe, uma mulher negra casada com um homem branco e machista, e que parecia ter esquecido que era negra. Vivendo sobre a sombra de pessoas racistas e achando tudo normal, como se não houvesse de fato o assunto.

– Você tem uma boca linda... – Breno disse de repente.

– O que? – Perguntei, mesmo tendo entendido perfeitamente as palavras dele.

– Eu queria muito ter te conhecido em outro momento. – Ele disse.

– Como assim em outro momento?

– Em um momento em que você não estivesse tão ferida... – Ele disse. Tomou um gole de sua cerveja e sorriu brevemente, então voltou a me encarar. – Quero dizer que você é linda, e não consigo entender como alguém... Como um cara que teve você, pode te machucar...

Suas palavras eram meio que descompassadas.

Voltei a chorar. Que ódio!

– Ei... – Ele tocou meu rosto, passou o polegar secando minhas lagrimas.

Olhei para Breno, para seus lábios perfeitos.

– Eu adoraria te beijar... – Murmurei.

Ele se aproximou, e com movimentos cuidadosos ele tocou meus lábios com os seus. Fechei os olhos, abri mais a boca esperando provar sua língua.

Mas logo, ele se afastou.

Abri os olhos e fiquei observando Breno, um tanto decepcionada. Ele abriu um sorriso contido e acarinhou meu rosto.

A música acabou, Bruno e Miguel se jogaram no sofá, quase caindo sobre nós.

Eles gargalharam quando percebeu que entornaram a minha cerveja toda em meu colo.

– Desculpe gata! – Disse Bruno, sufocando com suas risadas. – Acho que estou bêbado! – Ele pontuou, sentando-se ao meu lado. Miguel se jogou no chão, sentando á frente de Bruno.

– Tudo bem, relaxa... – Disse, levantei e pretendia ir para a cozinha quando Breno veio e me puxou.

– Vem, vou te dar uma camisa.

Ele me encaminhou para um dos quartos. E quando entramos no cômodo, ele percebeu meu desconforto.

– Não precisa ficar com medo... – Ele me provocou, sorrindo, indo até o armário de duas portas.

Era um quarto em tons de cinza e azul claro, muito masculino e sem nada pessoal. Claramente um quarto para visitas. Havia apenas o armário de duas portas e uma cama de casal ali.

– Não estou com medo! – Respondi.

Ele abafou uma risada.

– Porque está rindo de mim?

Ele pegou uma camisa social branca no cabide e virou-se para mim.

– Camila, você tremia quando te beijei. – Ele disse.

Então, entendi o porquê ele se afastou.

Sorri, sem graça. Desarmando-me.

– Eu sei que parece ridículo... – Comecei a falar. – Mas eu nunca havia beijado outro homem que não fosse meu marido.

Breno parou, olhou para mim como se olhasse para alguém de outro mundo.

– Está falando sério?

Assenti.

– Desculpa isso é muito doido para mim... – Ele murmurou me entregou a camisa.

– Eu imagino... – Disse. – Como disse, cresci em uma família cristã e me casei muito nova com o primeiro namorado.

Breno se aproximou de mim, com uma calma enervante. Seus olhos miravam o meus quando ele me puxou pela cintura e colou seu corpo ao meu.

– Posso te beijar? – Ele sussurrou sua voz aveludada. – De verdade, desta vez?

Assenti. Novamente sem palavras como uma idiota.

Fechei os olhos e esperei que Breno me beijasse. 

FOGO E GELO - Noite de NatalOnde histórias criam vida. Descubra agora