Os primeiros raios solares entraram pela janela, anunciando que mais um dia havia se iniciado. Ao acordar, a primeira coisa que eu noto é no pequeno peso sobre meu braço amortecido.
Abro os olhos e sou arremetida pela visão turva por abri-los muito rapidamente. Fecho os olhos com força e pisco algumas vezes, até me acostumar com a claridade.
O cheiro de Soo Jin invade minhas narinas e eu olho para baixo. Ela ressonava tranquilamente, abraçada ao meu corpo como se eu fosse um bichinho de pelúcia, as pernas entrelaçadas nas minhas e a cabeça deitada em meu braço direito.
Eu a olho, por tempo demais. Flashes da noite passada invadem minha mente e eu sorrio sozinha. Ela correspondia meus sentimentos e eu não poderia me sentir mais feliz e realizada como agora. A sensação de ter alguém te olhando como tamanho desejo e devoção como ela me olha, era indescritível. Era como subir do inferno e ir diretamente ao céu em questão de segundos.
Confesso que uma parte minha não sabia como agir ou falar depois de nossa primeira vez. Eu nunca havia chegado nessa parte, de gostar de alguém e se correspondida. Normalmente, quando as mulheres gostavam de mim, tudo o que eu queria era sexo. O sentimento não era recíproco da minha parte.
Como eu agiria? Eu finjo que nada aconteceu como sempre fiz ou a trato como alguém deve tratar a pessoa amada? Definitivamente, eu não sou nada romântica. Não sei como fazer isso dar certo. Mas eu quero tanto pelo menos tentar. Sinto que seria capaz de enfrentar o mundo inteiro pela mulher adormecida em meus braços.
Soo Jin começa a se mexer, inquieta. Meu coração se acelera e eu a olho, cheia de expectativa. Logo, seus olhos se abrem, ela pisca algumas vezes até seu olhar se acostumar com a claridade e então, me fita. Assim que me vê, ela abre um enorme sorriso que me deixa meio tonta. Me pergunto se eu tinha sobre ela o mesmo efeito que ela tinha sobre mim.
"Bom dia" murmura Soo Jin, a voz rouca de sono.
Dou um sorriso abobado.
"Bom dia, senhorita..."
"Soo Jin." diz ela, petulante.
Eu a olho, confusa.
"Quero que me chame de Soo Jin." explica. "Devo confessar que eu gosto quando você me chama de senhorita, mas eu gostaria que você se sentisse confortável comigo para me chamar de Soo Jin. Pelo menos, quando estivermos a sós."
Eu concordo em um aceno.
Fico observando-a por muito mais tempo que o esperado e ela percebe. Soo Jin abaixa a cabeça e esconde o rosto entre as mão, visivelmente envergonhada.
"Por que você está me olhando desse jeito?"
"Que jeito?"
"Desse jeito" ela aponta para o meu rosto, que está muito próximo do seu.
"É romântico." eu digo.
"É vergonhoso!" rebate ela.
Nós nos encaramos e logo rimos. O clima estava tão leve e descontraído que eu nem acreditava que realmente estávamos daquela forma.
Passamos o dia assim, juntas, no quarto. Demos a desculpa que ela estava se sentindo indisposta por isso não sairia do quarto, por isso, ficamos o restante do dia conversando, rindo e nos conhecendo.
Por volta das duas da tarde, decidi ir colher algumas ervas no jardim, para colocar no jantar de Soo Jin. A caminhada foi curta e tranquila, assim como o dia havia sido dessa forma, até ali. Na metade do caminho, encontro Nakamoto, sentado em uma pedra e fumando um cigarro.
Quando me vê, ele se levanta rapidamente, joga o cigarro para o lado e vem em minha direção.
Tento manter meu rosto neutro e me concentrar, eu não poderia fazer com que ele desconfiasse que seu plano perfeito escorria por suas mãos sem ele nem ao menos perceber.
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The Handmaiden | Sooshu
RomanceCoreia do Sul, 1930. Durante a ocupação japonesa, a jovem Yeh Shu Hua é contratada para trabalhar para uma herdeira coreana, adotada por um casal de nipônicos que faleceram em sua infância, Lady Soo Jin, que leva uma vida isolada do mundo ao lado do...