Célia.
15 de janeiro de 1890.Eu acabava de ler a carta de Arthur que Mirna havia me entregado. Aquelas palavras tocaram o meu coração e preencheram o vazio que havia em meu peito, mas ainda assim sentia a sua falta. Abracei aquela carta, sem mais querer soltar, com os olhos fechados. Ouço a porta do meu cômodo bater e me assusto de imediato ao ver mamãe. Ela fechou a porta e trancou, se sentando ao meu lado. Ela sabia de algo.
— Não quero te restringir de algo que um dia foi tirado de mim. — ela diz.
— Não estou te compreendendo, mamãe.
— Ouça, minha filha...— ela suspirou fundo.— Como sabes, não me casei com o seu pai por amor, me casei porque era um casamento arranjado e precisávamos manter o nosso legado, mas eu já me apaixonei uma vez...
— De verdade? — a indaguei.
— Sim, sem tirar nem por. —ela sorri. — O meu romance foi interrompido por causa do meu pai. Digamos que ele tirou o meu amado do caminho para eu ter o meu foco, mas olhe para mim. Infeliz.
— Eu lamento, mamãe.
— Sem lamentações. Arthur te ama e eu quero os ver juntos, nem que este seja o meu último desejo. — ela diz emocionada. — Por isso, vá, minha filha. Vá encontrá-lo.Com as palavras de encorajamento de mamãe, meu peito se encheu de esperanças. Esperanças de viver um amor que eu de fato queria, custe o que custar. Um amor que me desse motivos para sorrir de orelha a orelha todos os dias, algo que fosse para o meu próprio deleite. Esperanças de viver algo genuíno, sem maldade. Envolvi meus braços no corpo de mamãe e a abracei, mesmo sabendo que ela não se agradava muito de toques físicos, e quando menos espero o abraço foi retribuído.
Depois disso, corri léguas e fui até a carruagem, praticamente implorando para que me levassem até o parque botânico e assim foi feito. Quando cheguei lá, encontrei-me com Arthur, que substituiu seu semblante triste por uma expressão animada em me ver. Corri até ele, jogando-me em seus braços e com os olhos marejados. Eu não tinha palavras e nem perguntas para ele de tão assustava que eu estava na ideia de perdê-lo para sempre, na ideia de meu pai interferir no nosso romance, na ideia dele ter desistido do nosso amor.
Arthur observa meus olhos castanhos claros avermelhados, marejados e meu rosto inchados sem entender nada. Era como se tivessem me dito algo de ruim, mas eu não estava triste. Eu estava feliz de vê-lo ali, com certeza, esperando por mim, assim como um cão espera por seu dono.
— Diga-me...— escapou de minha voz trêmula. — Diga-me que não desistiu do nosso amor.
— Em hipótese alguma eu desistiria. — ele pousou suas duas mãos em minha bochecha, aproximando o seu rosto do meu e colando nossas testas.Sua respiração tranquila estava perto da minha, tão próximo que eu podia sentir a quentura do seu calor corporal. Aqueles olhos azuis me olhavam da forma mais bonita que qualquer um poderia imaginar, me olhavam com admiração. Pude sentir o suave toque dos seus lábios aos meus, sem serem invasivos, fazendo com o que eu caísse naquela tentação. Meus olhos se fecharam e nossas bocas se selaram em um ósculo calmo, como se tudo ao redor congelasse para que eu pudesse beijar os lábios de Arthur. Meu coração saltava de felicidade, não poderia entrar em negação.
Aos poucos o moreno afastava seu rosto do meu e voltava a me encarar, com a mesma adorava de sempre e o meu olhar era mútuo. Acariciei a sua mandíbula, enquanto vi tudo ao meu redor, que não estava tudo parado e ninguém sequer nos notava ali.
Desfrutei a tarde quase toda ao lado do meu amado. Colhemos flores, fomos até a fonte, jogamos moedas na fonte a fim de que nossas presses se tornassem realidade. O tempo passava depressa ao lado dele, como se corresse e eu implorava para que passasse de forma mais lenta.
Em um momento de nossa conversa, olhava para o céu e vi o sol se pondo. Me assustei e resolvi ir antes que papai chegasse em casa e sentisse a minha falta.— Preciso ir, Arthur. Papai pode sentir a minha falta.
— Sentirei a tua falta, talvez passarei lá para fazer mais uma tentativa em pedir a sua mão. — ele diz, roubando um beijo de meus lábios e eu acenei com um sorriso, subindo na carruagem.Assim que cheguei em casa, ouvi gritos vindo da parte de cima. Parecia uma briga e com certeza eram dos meus pais. Subi as escadas com pressa e me deparei com papai furioso, gritando e mamãe o respondendo. Foi a primeira vez que vi a minha mãe o enfrentar daquele jeito, portanto decidi me meter.
— Não sei o que tu tens na cabeça, Maria! — ele diz aos berros.
— Pare, papai. — eu entrei no meio.
— O que eu tenho na cabeça? Eu tenho decência, diferentemente de ti. — mamãe o responde gritando ainda mais alto. — Não deixarei que a minha filha case com um homem sem amá-lo e, ainda mais, um homem cuja a ambição é roubar o que te pertence.Papai avançou em mamãe e a deu um tapa forte, que fez barulho. Ela estava jogada no chão chorando baixo e eu o olhei com decepção, o olhar dele era o mesmo para mim. Ele descobriu que eu o desrespeitei. Me segurou fortemente pelo braço, apertando e me fez temê-lo como jamais havia o temido antes.
— E tu...— ele continua gritando. — Não quero que veja mais este rapaz.
— Mas eu o amo...— o respondi em prantos.
— O seu futuro marido é Bernard, ele cuidará de você.
— Meu coração jamais o pertencerá, papai.
— Pouco me importa, amor não importa em um casamento. A família de Bernard são meus aliados, esse visconde que tu arranjaste não tem família. É um sem rumo.
— Ele não é um sem rumo.— fui defensiva.
— Escuta aqui, minha filha. — ele diz sério.— Adiantarei o seu casamento o mais rápido o possível, não quero que se encontre com o bastardo.
— Você não pode simplesmente me impedir assim. — ele solta o meu braço.
— Tu quem pediste por isso, Célia. — ele dá de ombros. — Sofrerá as consequências.Ele deu de ombros e eu apenas conseguia me preocupar com mamãe que estava no chão esse tempo todo. Ela me abraçou desesperada como quem precisasse daquilo e eu fiz o meu papel de filha, tentei consolar. Levei mamãe até o meu quarto e ela se deitou em minha cama, toda encolhida.
— Ele te machucou? — ela pergunta preocupada.
— Isso não foi nada perto das coisas cruéis que ele me disse.
— Me desculpa, minha filha. — ela soluçava.
— A culpa foi minha, eu demorei.
— Não, minha querida filha, nãos foi.Abracei mamãe aquela noite inteira e não permiti que ela dormisse com papai. Mamãe estava assustada com ele e tinha medo dele, algumas vezes ela tinha pesadelo devido ao que aconteceu e acordava de seu sono soluçando.
Me preocupava com Arthur, mas papai na mesma noite, saiu para falar com ele com a intenção de proibir o que tínhamos. Queria muito saber se o meu amado conseguiria convencê-lo, mas com certeza não. Papai só está do lado daquela pessoa que o favorece.
E assim é o fim de uma história de amor? negativo.
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Segunda Chance
SpirituellesEssa história é um relato de amor proibído que a morte separou temporariamente, mas a reencarnação deu mais uma oportunidade. Em 1890, Célia Blake foi prometida para um duque, Bernard March, mesmo que seu coração pertencesse à outro alguém, Arthur T...