Reconectar.

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Amanda.

Depois de algumas semanas, tudo se estabilizou

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Depois de algumas semanas, tudo se estabilizou. Charles foi preso, porque, além da minha queixa, surgiram outras denúncias de agressão. Eu não quis ficar na Austrália e, por isso voltei para Nova Iorque com os meus amigos recentes. Scarlett e Tom foram as pessoas que mais se aproximaram de mim nesse intervalo de tempo e também decidi retomar à minha religião que seguia antes de ter me mudado, o espiritismo.

Visitava frequentemente alguns centros espíritas até decidir entre alguns, eu preferi retomar de onde eu parei da minha adolescência: focar no meu desenvolvimento mediúnico. No centro espírita que comecei a frequentar fazíamos reunião pelo menos duas vezes na semana. Nestas sessões não existe uma regra geral que oriente a realização de uma sessão espírita. Elas costumam ser voltadas para um fim específico, como livrar uma pessoa do consumo de drogas ou da presença de um espírito indesejado. Para iniciarmos, uma sessão, o doutrinador começa pedindo proteção e há presença de mediúns no local. Sempre ia no final da tarde, quando terminava tudo no hospital que comecei a trabalhar como psicóloga.

Hoje fui ao trabalho cedo e tentei fechar o consultório do hospital cedo. Naquele fim de tarde esbarrei com Thomas que andava meio tenso, provavelmente por sua situação com sua ex esposa. Assim que ele nota que fui eu em quem ele esbarrou, para em minha frente e começamos à conversar.

— Amanda, que bom ver você!— ele me olha com aqueles olhos azuis vibrantes.
— Digo o mesmo sobre você, Tom.
— Você vai hoje na casa do Evans?— ele me pergunta.— Iremos nos reunir hoje, você lembra?
— Sim, mas tenho um compromisso antes.
— Encontro?
— Não.— eu dei um sorriso.— É só algo importante, envolve a minha espiritualidade.
— De qualquer forma, espero que seja ótimo lá.— ele se despediu com um abraço.— Te espero na casa do Evan.
Obrigado, eu irei aparecer lá sim.

Eu retribui o abraço e fui caminhando até fora do hospital, chamando um táxi. O transito aquele horário estava horrível, mas ainda não era horário de pico. Só sei que estava tão atrasada que desci na rua do estabelecimento e paguei o motorista e fui correndo por alguns metros de distância. Quando cheguei eu estava ofegante. Nunca gostei de chamar atenção quando chegava nas reuniões, mas uma das médiuns me notou e me chamou para um canto. Me senti a pior pessoa do mundo.

Ficamos em uma sala e, por um momento, pensei que iria levar um esporro daqueles. A senhora de cabelos grisalhos e olhos verdes me olha no fundo da minha alma, me deixando em dúvida.

— Tem um grande mistério em você, Amanda. —ela me diz.
— Mistério? Como assim?
— Os sonhos, eles me contaram. Você já viveu antes em terra, não é?— a mais velha indaga.
— Quando eu frequentava o centro espírita durante a adolescência dizia que essa era a minha segunda vida. Fui um espírito que demorou muito para reencarnar.
— Porque a sua vida foi tirada por outro. É o motivo da sua cardiopatia.
— Como você sabe que eu sou cardiopata?— a perguntei, arqueando as sobrancelhas
— Eu sei sobre algumas coisas sobre a sua vida passada. Os sonhos me revelaram e a minha guia me contou.
— Você tem uma missão inacabada aqui na terra, algo de vidas passadas.
— O que seria essa missão? Em toda sessão me dizem isso, mas eu nunca tenho um norte.

Maryanne, a médiun, ficou me olhando e fechou seus olhos, como se ouvisse sussuros. Eu me arrepiei e olhei um vulto passando pelas cortinas rapidamente.

— É alguém que está próximo de você. Perceberá esta noite.— ela respondeu.
— Mais alguma informação?
— É o que posso dizer. — ela me responde mais uma vez.— Arthur Thompson, lembre-se.

Ouvir aquele nome não fez tanto sentido para mim naquele momento. Por isso, não dei tanta importância. Dei de ombros e saí daquela sala, voltando para a sessão.

Pouco tempo depois, despedi-me das pessoas ali e saí do estabelecimento para ir para a casa antes de me encontrar com o pessoal na residência de Chris. Eu estava um pouco tonta devido a sessão e talvez tenha descarregado minha energia. Cheguei em casa e tomei um banho, depois vesti roupas limpas e coloquei as que estava usando para lavar. Por sorte, Scarlett estava perto da minha casa e, como iriamos para o mesmo lugar, ela me esperou para irmos juntas.

Quando chegamos na casa de Chris, fomos recepcionadas por sua namorada. Ela era muito gentil e tinha um sorriso contagiante. Ela era baixa, tive que me curvar um pouco para abraça-la. Todos estavam lá, curtindo a social. A música estava um pouco alta, então tínhamos que falar alto. Evans chegou perto de mim e me abraçou. Ele parecia estar feliz por ver seus amigos ali.

— Como foi no centro espírita?— ele me pergunta enquanto dança.
— Hoje foi sinistro.
— Por que?— perguntou Scarlett.
— Mais uma vez falaram que eu tenho algo inacabado na terra. Isso envolve alguém.
— E falaram o nome desse alguém?— indagou Chris
— Não. Aliás, deram um nome. Arthur Thompson.
— E a missão? — Scarlett me olha curiosa.
— Só disse que é algo de outra vida e que essa é a minha segunda vida aqui na terra.
— Então você tem que curtir muito.— gritou Chris.
— É!— afirmou Scarlett.— Como se não houvesse amanhã.
— Pode ser também, não quero pensar muito nisso.

Enquanto eles dançavam, tomei uns goles da tequila para poder me soltar um pouco mais. Não estava bêbada, eu estava sóbria. Nunca gostei da sensação de estar fora da realidade. Voltei para onde a musica estava mais alta, no interior da casa. Comecei a dançar e por alguns minutos alguns paravam para olhar e gritar. Todos se divertiam, exceto Tom que estava do lado de fora, sentado na borda da piscina com os pés de molho na água. Me virei para ver a cena e decidi andar até o lado de fora.

Descalça, eu andei até ele e me sentei ao seu lado ficando em silêncio. Ele me olha com seus olhos marejados e me diz:

— Eu perdi tudo, Amanda.
— Quem disse?— eu o indago.
— Amanda, eu fodi tudo. Só tenho o meu emprego, meu carro e um apartamento que mal consigo morar, porque eu lembro de tudo o que passei nele.
— E quem disse que você não pode recomeçar?

Thomas permanece calado e eu prossigo.

— Você pode recomeçar. Tem um emprego bom e é um dos melhores médicos do hospital. Pode vender ou alugar o seu apartamento para comprar outro imóvel. Pode, sei lá, comprar uma moto. Pode se dedicar ao seu emprego ou pode até escolher uma nova profissão. O importante é que você ainda tem a si mesmo.
— Por um lado você tem razão.— ele diz.
— A sua vida não chegou ao fim por conta de um divórcio. Eu sei que tiveram partes boas no casamento, mas você precisa seguir a sua vida.
— Ás vezes eu tenho a sensação de que eu nunca vou conseguir voltar a ser quem eu era antes.— ele suspira fundo.
— Eu também tenho essa mesma sensação, mas sabe um ditado que eu levo comigo onde eu vou?
— Qual?
— "Finja até ser".— fico de pé na borda da piscina e ergo a mão.— Que tal se pularmos na piscina?
— Agora? — ele me pergunta.

Sem pensar em uma resposta, pulei na água que estava fresca e dei um mergulho.

— Sim.— aproximo de Tom e seguro as suas mão que estavam quentes no momento.

O puxei de forma inesperada e dei uma gargalhada assim que ele havia mergulhado. Assim que subiu para ver o meu rosto, jogou água em mim e ali se iniciou uma guerra de água. Parramos assim que cedi. Meus olhos se encontraram ao seu mais uma vez e pude perceber o quão azuis eles eram. Ele olhava bem no fundo da minha alma. Foi aí que eu percebi que algo especial estava rolando. Na verdade, eu havia sentido. Thomas se aproximou de mim com toda aquela sua calmaria.

— Você tem um olhar agateado que traz um ar de mistério.— ele cita.
— Acho que você descobriu o "mistério" dos meus olhos.— brinquei para tentar o clima e consegui arrancar um sorriso do mais alto.

Depois de um tempo todos viram a nossa agitação na piscina e se aproximaram para pular também. Todos ali começaram a se divertir conosco e deixar Tom um pouco mais alto-astral, ele me assistia de longe agora. Sebastian e Elizabeth se aproximaram de mim e me abraçaram.

— Você conseguiu animar o Tom.— disse o moreno.
— A gente só precisa acreditar nas pessoas.— o respondi com um sorriso.

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