Por quê?

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O cansaço estava tomando conta dela, se tornando parte dela.
Enid Sinclair não a via pessoalmente há anos. Não sentia seu cheiro há anos. Os abraços raros e sua voz monótona estavam se diluindo em seu subconsciente, aos poucos, desaparecendo, consumindo e pesando, e por quê? Porque ela ainda estava tentando se apegar, segurando-se nas poucas memórias físicas que ela podia se lembrar.

Addams havia desaparecido da vida de todos após o incidente.

Exatos dois meses após o fim do ano letivo na academia, durante o período mais difícil para todos os que ficaram: lidar com o luto.

E nesse dia.

Nesse maldito dia, Wednesday encontrara seu familiar desfalecendo em cima de sua cama. Estalando os dedos e se contorcendo de dor e angústia... mais tarde descobriram que Thing havia sido esfaqueado durante uma discussão com Xavier a envolvendo.

Ela tentou de tudo, o som de seus gritos jamais antes ouvidos ficarão guardados para sempre no subconsciente de Enid.

No dia seguinte ninguém nunca mais ouvira Wednesday Addams novamente.

Claro, havia sempre pessoas dizendo os lugares que a viam passar. Nova Iorque, Manhattan, Texas... nunca ficando mais de um dia em cada lugar. Alguns diziam que ela estava barrada e proibida de fazer viagens internacionais. Outros que ela havia morrido em algum lugar do mundo.

Tudo não passava de boatos sem confirmação, no fundo Sinclair sabia disso. Mas nada a impedia de chorar toda vez que olhava um jornal, toda semana uma especulação diferente sobre a garota.

Enid estava se agarrando com unhas e dentes no resquício de esperança e fé de que ela estivesse bem, apenas precisando de um tempo sozinha; que ela voltaria para os braços dela assim que estivesse pronta.

Já se passou cinco anos.

Quantas vezes ela não pensou em desistir?
E quantas vezes mais ela não pensou: "e se ela estiver precisando de mim?"

[...]

Férias. Enid Sinclair em cinco anos de trabalho duro, aceitou finalmente dois meses de férias do emprego, dá para acreditar?

Bem, você crendo ou não, o primeiro local que ela dicidiu viajar para esfriar um pouco a cabeça e encontrar sua família, sem dúvidas fora a Austrália.

Sozinha.

Suas duas avós queridas, não se cansavam de perguntar sobre os pretendentes amorosos da neta, ou sobre os futuros bisnetos. Enid sempre respirava fundo antes de responder: "não nana, ainda não estou de olho em ninguém, meu trabalho exige muito meu tempo." Ou "não, vovó, não penso em fertilização, minha vida não está estável o suficiente para ter um filho no momento."

Foi cansativo, mas ao mesmo tempo aliviante estar perto da família, em um local confortável que cheirava a tudo menos solidão.

Era sua última noite no país. Seu próximo destino era Paris, a cidade do amor e muito croissant. Talvez ela finalmente estivesse pronta para abrir seu coração, e procurar um cônjuge...

Seus grandes pés tamanho 39 vagavam pelo bairro de seus pais onde ela estava hospedada, um à frente do outro, calmamente. Já eram por volta das 22h da noite no horário Australiano, a noite estava fresca e tranquila, a brisa balançava seu vestido florido, embaraçando seus longos cabelos loiros sem corte, e trazendo um pouco de paz aos seus pensamentos.

Decidiu sentar-se no banco de madeira da praça, de fronte ao laguinho iluminando, onde vários patinhos navadam e brincavam na água cristalina.

Então ela a sente imediatamente, notando a presença dela se aproximar cautelosamente, com receio de ir em sua direção. Enid inspira o cheiro quase esquecido completamente que a brisa empurra em suas narinas, e o mais importante: a saudade entrando em círculos e saindo em ondas de seus corações, misturando-se de forma tão intensa, tão brilhosa, como nenhuma das duas podia imaginar.

Wednesday Addams - Wenclair Onde histórias criam vida. Descubra agora