Wednesday Addams - Wenclair

Natal

A noite de natal estava se aproximando, e a escola já estava quase pronta para a ocasião. Tudo bem que quase ninguém alí segue o natal pelo lado religioso, mas em um internato lotado de adolescentes, acha mesmo que não aproveitariam do feriado para festejar?

Os alunos do grêmio estudantil ficaram encarregados da decoração geral, e é isso que Enid Sinclair estava fazendo. O castelo já estava praticamente todo pronto para o feriado, mas algo ainda lhe incomodava profundamente... a Ophelia Hall. Todas as outras garotas da torre estavam cem por cento a fim, em fazer uma competição sanguínea para mostrar aos outros clubes que o delas será o mais decorado, mas ai entra a questão da pedra em seu sapato.

- Por que você odeia tanto o natal, Wednesday!? - Enid a essa altura da discussão, estava cansada de debater e argumentar contra a cabeça dura da sua colega de quarto.

- Por questões óbvias. - Mesmo com a loira praticamente berrando de indignação, às feições de Addams continuavam gelidas e monótonas.

- E quais seriam, huh? - Instigou, tentando evitar a sua hiperatividade infantil, que não conseguia parar de batucar o All Star no piso de madeira, ou de fincar as unhas em seu próprio braço, um lembrete de: controle-se.

Wednesday se aproximou lentamente, mas ficou em completo silêncio, observando de perto a antes, atraente e encantadora colega de quarto, agora completamente cansada. Os cabelos loiros presos com uma presilha quase sem dentes, já que Addams não a vê lavando-os há cerca de cinco dias consecutivos. As roupas sem composição alguma, antes seguindo um padrão de cores e modelos todos os dias, hoje, usando o uniforme até mesmo para dormir, pela falta de tempo para a vaidade. E o rosto, céus, Wednesday gostaria de causar sofrimento a todos que deixaram sua lobinha desta forma. Os olhos pesados, com bolsas profundas e escuras sob eles; os lábios ressecados e machucados pela ansiedade, cuja a própria loira mastigou-os pelo nervosismo. E rosto pálido, sem aquele majestoso brilho de felicidade.

Enid pode pensar que Wednesday não se preocupa, mas ela passou a semana inteira observando de perto cada passo e humor que a Sinclair exibiu, e tudo foi ladeira a baixo quando a idiota da Divina, deu a brilhante ideia de tranformarem a tarefa de decorar, em competição.

Talvez hoje ela acorde com uma aranha em seu travesseiro...

- Me responda, Addams! Não me faça de trouxa agora! - O olhar da garota brilhava a descontentamento, medo e talvez... angústia? Parecia até certo ponto desesperada pelas palavras de Wednesday.

- Enid... - A latina deixou de lado suas regras para contato físico, e as barreiras para proteger a si própria dos assombrosos sentimentos que acompanham a amizade e... aquilo que seus pais tanto demonstram. - Me escute agora. - Pegou a mão suada da lupina, sem se importar com as garras que estavam saltadas para fora, roçando sua palma, e a puxou para a cama mais próxima, a tal sendo cor de rosa. - Não estou te fazendo de trouxa, e nem pretendo. Nunca. - Sinclair travou seu olhar nas mãos unidas uma da outra, talvez em leve choque por Wednesday ter sido a primeira a buscar o toque. - Enid, olhe para mim. - Com a mão que estava livre, ela dobrou e enganchou seu dedo indicador sob o queixo da loira, levantando seu rosto para que os olhos de encontrassem.

- Por quê...? - Um sussurro amuado, de Enid escapou.

- Porque... eu me importo com você. - As sobrancelhas loiras se franziram por um piscar de olhos, em seguida relaxaram. - Pode pensar o que quiser, mas eu me importo demais contigo. Tanto que sinto a necessidade de te pegar em meus braços e lhe proteger do mundo. Porque, Enid Sinclair, você me faz sentir, sentir coisas que todo esse tempo eu venho reprimindo e tentando me convencer de que não é isso de que preciso. Também porque, tudo o que mais desejo nessa última semana, é cuidar de você. Quer mais detalhes? Gostaria de lhe ajudar a tomar um banho descente e lavar seu cabelo. Ou de pentea-los e escolher um daqueles seus pijamas ridiculamente coloridos que queimam minhas retinas. De poder ler para você, dormir com você. E até mesmo participar de seu ciclo de amizade, sair com eles para lugares que te deixam feliz. Contudo, eu não sou assim, e nunca serei. Você sabe disso. Não sou uma pessoa carinhosa e que deseja contato todo minuto; não sou o tipo que presenteia a namorada com um buquê de gardênias na frente dos amigos dela, ou que sequer tente se enturmar com eles. Não posso ser assim... E eu não odeio o natal, ma belle; eu detesto ver você tão sobrecarregada por um assunto que não lhe retorna nada. Vejo você todos os dias ficar até tarde vagando pelos corredores, carregando decorações pesadas e caras, para que no fim, você apenas se jogasse na cama e desmaiasse de sono. Sinto falta dos seus comentários desnecessários, das suas músicas pop me dando enxaqueca, porém, o que mais me causa angústia de não receber, são os seus sorrisos...

Enid Sinclair não saberia dizer em que momento do discurso começou a chorar, mas pode afirmar que após isso, não pode mais controlar suas emoções, e tudo o que se lembra com exatidão, é ela se jogando contra o corpo pequeno e frio de Wednesday interrompendo sua declaração de amor não tão romântica assim, e se afogando nos amargos lábios daquela escritorazinha que roubou seu coração; e apagou sua vontade de continuar aquela maluca competição para o natal.