Princesa Cruel

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Wednesday levantou-se em um só expiro, a ira borbulhando em seu sangue quente, humano e desprezível. Arrancou a adaga borboleta da bainha na coxa esquerda, e a escondeu parcialmente na mão. Os passos lentos e pesados, botas lamacentas sujando o chão no percurso, enquanto contornava a mesa.

- Não vai me responder? - Indagou, se projetando entre a mesa e o indivíduo preso à cadeira do escritório de... sabe-se lá quem, apenas emprestado temporariamente, e servindo de bom uso. Pelo menos em sua cabeça era um bom uso.

A princesa apenas engoliu em seco ao invés de responder com palavras, seus olhos cor de jade observando com muito interesse - ou não -, seu próprio sapatênis ridículo. Ela odiava tanto quando sua aia escolhia seus looks; como poderia ser fabulosa em um sapatênis de velho, e calça grafite? Tão justa, que o botão apertava sua barriguinha - de má postura, obviamente, por que o que mais havia alí eram gominhos de abdômen trabalhado; eles só estavam escondidos sob o almoço, claro. - Estufando a camisa de linho com os dois primeiros botões abertos.

Wednesday descruzou os braços, e curvou-se na direção dela. Agarrou seu maxilar no solavanco e com firmeza mas sem intenção de machucar, ainda, e encostou o objeto cortante na jugular dela. Apenas de leve, apenas para assustar.

- Diga-me princesa... - Sua voz estava grave e seca no ar, seu hálito reverberando na face da jovem, nariz-contra-nariz, a loira nem mesmo respirava. - O pensamento que tanto rebobina em sua cabecinha oca ultimamente, para desafiar uma humana com seus pózinhos do prilimpimpim ou o que lá diabos seja, e achar que eu não notaria aquele troço dourado e brilhante. - Uma risada anasalada e sarcástica escapou, e a garota piscou desviando os olhos para seu colo.

Cretina, covarde.

- Pólen de cogumelo dourado. - Um murmúrio baixo, medroso.

- O quê disse? - Wednesday havia escutado, mas se fez de cínica. Ela queria ver a coragem e determinação naquele rostinho perfeito. Assim seria mais interessante.

- O pó dourado que você viu na comida... - As orbes de cristal prismado, retornou ao seu rosto, incandescente, brilhando. - É um pólen colhi... - Sua fala fora momentaneamente interrompida por um engasgo fofo, assim que a garota passou uma perna de cada lado, e sem exitar, sentou-se no colo de Enid Sinclair.

- Aham, estou ouvindo. - Ela ronrronou propositalmente ao pé do ouvido, e a outra tremeu em resposta.

- Wed, por favor... - As finas sobrancelhas bem desenhadas quase se juntaram, e ela jurou que havia feito beicinho. - Desculpas, é isso que você quer? - Aquele fogo retomou suas feições. Addams triunfou. - Desculpa por ter colocado a porra de um açúcar na sua torta. Desculpa se você ficou com medo de glitter. Apenas não vejo motivos pra você me levar pro escritório de Xavier, imobilizada, só porque seu orgulho humano de merda queria me ouvir implorar! - Enid quase berrava, e notou isso logo mais.

Então se calou.

Um grunhido grave escapou, quando ela fez uma leve pressão com a adaga, e com a outra Wednesday deslizou entre a cabeleireira loira desgrenhada, e puxou um punhado, levantando seu queixo para ela.

- Fale baixo comigo, amor. - Seus castanhos tão negros quanto um orvalho no escuro, travaram uma briga silenciosa com os olhos azul oceânico, delineados em maquiagem preta. - Eu não sou Feérica para respeitar seu legado de sangue dourado. - A garota cuspiu as palavras com ódio, mas as unhas brincaram com o cabelo úmido de suor - que ela surpreendentemente não se importou -, em um cafuné cauteloso.

- Querida, você nunca poderia ser feérica. - Enid comentou simplesmente.

Uma... duas, três piscadas.

Wednesday Addams - Wenclair Onde histórias criam vida. Descubra agora