Capítulo 1

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Thalia

        As memórias dos últimos acontecimentos estão embaralhadas em minha mente, me lembro das ondas batendo contra meu corpo, o desespero de não conseguir chegar na superfície, a pressão da água em meus pulmões, a luta para respirar, e então a dor indo embora, a água entrando com tudo quando eu não conseguia aguentar mais e por fim a escuridão.

        Porém em algum lugar em minha mente tinha algo mais, a voz de Kaz. Eu conseguia ouvir o desespero, a prece, a voz embargada como se estivesse prestes a desmoronar. '"Por favor não me abandone" Ëu preciso de você". E então veio a necessidade desesperada de seguir aquela voz, algo dentro de mim despertou, eu precisava desesperadamente voltar, voltar para ele.

        E então veio a luz, a água saindo dos meus pulmões tão brutalmente como entrou, e depois que a dor passou, me concentrei naquela imensidão de azul dos olhos dele. As bochechas com rastros de lagrimas. Kaz Brekker estava chorando. Ele nunca esteve tão próximo de mim antes, suas mãos estava nos meus ombros, minha cabeça estava parcialmente em seu colo, e nossos rostos estavam tão próximos que eu conseguia ver uma pequena cicatriz perto de sua sobrancelha.

       E então me perdendo na imensidão de seus olhos eu sorri, e vi o alívio naqueles olhos. Ele encostou sua testa na minha, eu travei, com medo de que estivesse sonhando, eu queria ficar ali para sempre, presa naquele momento. 

       Logo Nina estava perto de mim, me examinando e me perguntando como diabos aquilo era possível, eu estava morta, e nem mesmo ela conseguiu me trazer de volta. E então Kaz se afastou, eu não vi ele desde então, fui levada para o Crown Club e Nina não me deixou sair do quarto até ter certeza que eu estava bem e que meu coração não iria parar do nada. Aparentemente morrer e voltar a vida não é tão comum assim.

Isso já faz dois dias, e ele não veio me visitar.

         Levanto da cama silenciosamente, já que ele não virá ate mim, eu vou até ele. Os eventos de dois dias atrás passam em looping pela minha mente. Kaz Brekker chorou. Por mim. Se ele acha que vai escapar dessa conversa ele está muito enganado, ainda consigo ouvir claramente seus sussurros em meu ouvido, o desespero em sua voz.

         Eu preciso ve-lo. Preciso saber que foi real. E se eu tivesse alucinando? Afinal eu estava literalmente morta. Subo as escadas silenciosamente, era manhã e o Crow Club estava fechado, o que era um milagre. Paro em frente a porta do escritório de Kaz, nem me dou ao trabalho de bater.

      Ele está lá, em pé ao lado da janela, olhando para o lado de fora, ele olha pra mim quando eu chego mais perto, e me vejo perdida em seus olhos, como sempre, tudo que eu estava planejando falar some da minha mente. Agora estávamos a uns cinco passos de distância, não me atrevo a chegar mais perto. O silêncio é tanto que daria para ouvir um alfinete caindo no chão.

Kaz

          Os últimos dois dias foram torturantes, não tendo dormido mais do que duas horas, culpa dos pesadelos, mas dessa vez não era sobre Jordie, e sim sobre ela, seu corpo pálido e frio em seus braços, totalmente imóvel. Morta. Ele não tinha tido coragem de vê-la, quem diria, Kaz Brekker sendo um covarde. As lembranças ainda estavam claras na mente, o desespero que sentiu ao vê-la na margem do mar, seu corpo jogado entre a areia, ela parecia Jordie.

     Kaz se sentiu afundando no mar novamente assim que a viu, a agua o arrastando para baixo, ele estava se afogando, assim como ela se afogou, ela parecia morta. Ela estava morta.

     Ele se lembra de Nina ao lado dela, tentando fazer com que seu coração voltasse a bater, se lembra dela se afastando com a mão no rosto, e de Helvar a abraçando, a consolando.

As if I were breathing for the first time / Kaz BrekkerOnde histórias criam vida. Descubra agora