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Capítulo 05A pausa para o descanso acabou durando mais do que o esperado. Até daria tempo de chegarem ao palácio da família Shindo naquele mesmo dia, mas não seria possível fazê-lo antes do pôr do sol (e, por alguma razão, andar a cavalo à noite parecia ser algo fora de cogitação para os Sakurayashiki).
Diante desse pequeno empecilho, passaram a tarde caminhando à procura de um lugar onde pudessem passar a noite. Encontraram um casebre abandonado no meio do nada com lugar nenhum. Apesar da poeira e portas rangendo, seria perfeito para servir de abrigo, ainda mais considerando que a hospedagem não custaria nem um centavo.
Cherry arrumou um pequeno quartinho sem janelas onde pudesse dormir e se trancou lá enquanto ainda estava claro. Kojiro estranhava bastante essa história de dormir antes mesmo de escurecer, mas, se era aquilo que o rei queria que fizessem, então o esverdeado o faria.
Uma vez a princesa devidamente alocada, Joe andou sem rumo definido durante alguns minutos, até parar diante de uma pequena plantação que pareceu ter surgido de maneira espontânea. Tinham raízes, capim alto e sem manutenção e algumas flores. As plantas mais frágeis estavam em pior estado, ou amassadas ou mortas; no entanto, haviam flores mais resistentes que aguentaram o sol forte e as turbulências do vento: girassóis.
O cavaleiro não resistiu a colher um.
Logo que o viu, pensou em Cherry. Não sabia dizer se era por causa do cheiro, por causa da sensação que o caule provocava em seus dedos ou por todo o contexto em geral... Não sabia exatamente o porquê, mas queria dá-lo à Cherry. Mas rapidamente descartou a ideia... Seria muito deselegante, afinal, a moça já estava prometida. Sem falar que ela provavelmente ficaria irritada se ele adentrasse seus aposentos sem aviso. Poderia esperar até o dia amanhecer e entregar a flor quando a rosada saísse do quarto, mas aquela pequena expressão da natureza não iria permanecer tão bela até amanhã de manhã... Ficou encarando a flor; pensando no que poderia fazer com ela.
Achou graça da ironia: não havia motivo de girassóis serem tão desvalorizados quando eram tão belos. Aos olhos de Kojiro, eram das flores mais bonitas que se poderia encontrar na natureza. As pétalas sempre de um amarelo tão vibrante que pareciam ser banhadas a ouro... Amarelas como o sol, como o mel que as abelhas produziam... Amarelas como os olhos daquele moreno que conhecera ontem à noite...
O cavaleiro não conseguia tirar aquele rapaz da cabeça.
Os únicos momentos em que não pensava no moreno era quando estava com Cherry; era como se esquecesse de tudo e todos quando estavam juntos, mas, agora que a princesa havia ido dormir, todos os seus pensamentos voltavam àquele rapaz... Aquela pele clara como nuvens em um dia fresco... Aquela voz melodiosa que emitira os gemidos mais sensuais que Nanjo já ouvira em toda a vida... E aqueles olhos que pareciam enxergar o fundo de sua alma...
Seria possível se apaixonar por um rapaz que sequer conhecia direito?
Nanjo se sentou na grama alta e observou aquele girassol antes de fechar os olhos. Dezenas de pequenos flashes da noite anterior bombardearam seu imaginário... A visão privilegiada que tivera de ver Kaoru de cima e se deleitar com as expressões de prazer que o moreno não conseguia mascarar... Kaoru era tão belo... Tinha um cheiro tão bom... E era dono de uma boca que fazia maravilhas, embora Nanjo não tivesse tido a chance de beijá-la. Ah, como queria ter lhe roubado um beijo... Faria de tudo para ter o moreno em seus braços outra vez.
- Ah, Kaoru... - ele disse em um suspiro manhoso.
- Quem é Kaoru?
- Ah!!! - Kojiro se assustou e abriu os olhos de repente. Não imaginava que tivesse alguém lhe observando. Olhou ao redor, ainda no susto, até seus olhos avistarem um menino moreno de doze anos de idade. - Miya! - o cavaleiro repreendeu. - Eu já não falei 'pra não ficar me observando em silêncio???
- Mas você 'tava todo bonitinho com um girassol na mão e se sentindo um romântico incurável... Quem é Kaoru? - o mais novo repetiu a pergunta.
- N-Ninguém, eu só... - o esverdeado tentou mentir, mas, a julgar pelo olhar cético no rosto do menino, logo viu que Miya não compraria a história. Nanjo suspirou. - Eu nem sei porque eu perco meu tempo conversando sobre essas coisas com você.
- Ah, qual foi, Joe... - o menino insistiu. - Em matéria de amor, todos me conhecem bem. - ele brincou, conseguindo arrancar uma risada do esverdeado.
Nanjo voltou os olhos ao gramado e chegou para o lado para que o mais novo pudesse se sentar também. Miya tomou lugar no chão e abraçou os próprios joelhos, passando a observar o esverdeado como se estivesse esperando pela história que estava por vir. O cavaleiro mirou um ponto qualquer no espaço e começou a falar:
- Bom, eu não sei muito sobre ele... A gente se conheceu ontem à noite, quando eu quase fraturei o pulso dele. Ele é mais baixo do que eu, talvez uns 10 centímetros, por aí... - ele estimou. - Ele tem cabelos pretos, um sorriso sacana e olhos amarelos incríveis... E, por algum motivo, eu simplesmente não consigo tirar ele da cabeça... - ele sentiu seu próprio rosto queimar.
- Se apaixonou por um estrangeiro, foi? - Miya provocou. O esverdeado riu.
- Talvez... - ele falou em meio às risadas. - Mas é melhor eu deixar essa paixão de lado, já que é provável que eu nunca mais encontre com ele.
- Não perguntou 'pra onde ele estava indo?
- Até perguntei, mas ele não me disse. Mas a verdade é que nós não conversamos tanto assim... - o esverdeado se sentiu um pouco envergonhado com aquilo.
- Hm. - Miya falou seco, parecendo estar pensativo enquanto encarava fixamente o girassol nas mãos do mais velho. - É. É uma pena... Mas já que não vai dar essa flor 'pra ele, porque não entrega ela 'pra Cherry? - o moreno sugeriu, tentando segurar seus instintos de torcedor. Nanjo revirou os olhos e encarou o garoto com um sorriso ladino.
- Eu não posso fazer isso, Miya...
- Por que não?! - o menino retrucou como se tivesse suas expectativas quebradas. - Vocês ficam bem juntos... E discutem como se fossem um casal. - ele acrescentou. - E ela tem olhos amarelos também! Já que você parece gostar tanto de olhos amarelos... Sem falar que ela tem um cafuné bem gostoso...
- Miya, eu e a Cherry não podemos ficar juntos... Estamos levando ela 'pro casamento dela, esqueceu? Ela já está noiva. - Kojiro lembrou.
- Eu sei, mas... - o menino tentava ganhar aquela discussão, mesmo sabendo que seria inútil. - Mas ela fica tão feliz quando está com você... Ela ficou toda contente quando você deu sua blusa 'pra ela se proteger do sol... Sem falar que vocês seguraram as mãos um do outro várias vezes ontem! E não pensa que eu não vejo essa tua cara de bobo quando você fica sem jeito perto dela não... Você gagueja e tudo! Falando sério, Joe, você pode até gostar desse tal de Kaoru, mas você gosta da Cherry também. - Miya jogou todas as cartas na mesa.
Kojiro não pôde deixar de se sentir um pouco exposto com aquilo. Seus sentimentos estavam tão escancarados assim a ponto de um garoto de 12 anos percebê-los?? Será que Cherry também havia percebido? O esverdeado ficou um pouco nervoso de imaginar a possibilidade e, o pior de tudo era que, por mais que não fosse admitir, sabia que Miya tinha razão.
Bom, diante daquele gigantesco conflito no íntimo do cavaleiro, a coisa mais viável para se fazer diante de tudo aquilo fora usar o girassol para bater na cabeça do mais novo.
- Dá o fora daqui, dá!! - o esverdeado enxotou o menino. Miya saiu rindo, correndo em direção à casinha abandonada onde passariam a noite. Kojiro tornou a ficar sozinho, e voltou seus olhos ao girassol. O observou em silêncio, tentando ouvir as palavras de seu coração.
É... Cherry também tinha olhos amarelos.
[continua...]
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O sol da meia-noite (MatchaBlossom)
FanfictionEra uma vez, em um reino muito distante, uma jovem princesa de dezenove anos e cabelos cor-de-rosa com uma maldição e um casamento arranjado com um príncipe azul para lidar. O que ninguém esperava, era que uma paixão por um cavaleiro de cabelos esv...