barulhos

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Capítulo 06

[...] Miya correu por todo o pasto, ainda mantendo um sorriso travesso e satisfeito nos lábios. Que outra razão teria para o esverdeado lhe bater com um girassol senão porque tudo o que dissera era verdade? Adultos simplesmente não sabem aceitar quando crianças têm razão... 

Mas, de qualquer maneira, estava feliz da vida em saber que o esverdeado estava tendo uma síndrome de paixonite pela princesa. Agora, só faltava a rosada retribuir esse sentimento; depois daí eles só precisariam de um empurrãozinho...

Miya caminhou até a casinha; talvez fosse bom arrumar um lampião, já que o sol estava se pondo rapidamente. Não demoraria até ficar escuro. 

O moreno rodeou o casebre, observando a grama e brincando com pequenas pedrinhas que encontrava.

Passaria mais tempo do lado de fora, mas um barulho chamou sua atenção. 

Não era um barulho do tipo que se faz quando algum objeto cai ou quando algum animal revira uma lixeira... Eram barulhos de gente, mais especificamente, gemidos.

Gemidos ruins. De dor e de angústia. E que alternavam entre pequenos gritos que pareciam tentar ser abafados. 

Miya parou de brincar com as pedras. Sentiu um mau-pressentimento arrepiar sua espinha, aqueles barulhos não podiam ser coisa boa...

Ficou alerta e fez silêncio, esperando para ver se aqueles sons cessariam, mas eles não cessavam; pareciam ficar mais altos a cada momento. O menino estremeceu.

Pensou em correr de volta até a pequena plantação de girassóis e chamar Kojiro para que fossem até lá juntos ver do que se tratava, mas sua visão sobre a situação mudou quando reconheceu a autoria daqueles sons: era a voz de Cherry.

O menino engoliu seco.

Miya subiu os degraus velhos e rangentes da pequena escada de madeira. Estava com medo, mas sua preocupação com Cherry falava mais alto. 

Caminhou até a porta de entrada e girou a maçaneta, ouvindo o ranger da porta que, apesar de ser sutil, pareceu fazer um barulho ensurdecedor. Todo o barulho é mais alto quando se quer passar despercebido... 

O pequeno cavaleiro olhou ao redor, viu a sala intocada, exatamente da forma como a encontraram; não haviam indícios de invasão.

Os barulhos continuavam, e os gritos pareciam cada vez mais nítidos. 

- C-Cherry? - o garoto chamou, de uma forma tão baixa e medrosa que seria difícil qualquer um ouvir. Ouviu um grito mais alto, mas que parecia ser de uma voz diferente... Um timbre mais grave e esgotado como se fosse... Como se fosse uma voz masculina. 

O grito pareceu dar fim à sinfonia de gemidos e berros abafados. Um silêncio ensurdecedor se fez presente. Miya entrou em pânico. Por que os gritos haviam cessado? Cherry teria desmaiado? Teriam silenciado a princesa? Ou... 

Sem nem pensar no quão perigoso poderia ser o que estava fazendo, o garoto correu até a porta que dava para o quartinho onde Cherry supostamente estaria e a escancarou sem mais nem menos. 

Levou algum tempo até que seus olhos se acostumassem com a escuridão do cômodo. Não viu nada além de escuro durante os primeiros momentos, mas não demorou muito até que os primeiros feixes de luz noturna desenhassem uma silhueta em meio ao breu. Uma silhueta alta, de cabelos compridos, escuros e lisos, que não vestia nada além de uma calça de linho velha.

Ele, embora Miya não soubesse dizer quem ele era, parecia esgotado, e tremia em sua tentativa de ficar de pé. 

Ao ouvir o barulho da porta se abrindo, os olhos dele voltaram à porta e encararam o pequeno cavaleiro. Olhos amarelos e penetrantes, que pareciam se destacar em meio a escuridão. Os dois se entreolharam. As pernas de Miya tremeram.

O sol da meia-noite (MatchaBlossom)Onde histórias criam vida. Descubra agora