Capítulo Um ⚠️

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Meu nascimento foi um tanto quanto doloroso e eu não gosto de trazer de volta à memória, mas vamos lá.


Nasci no dia dez de março no casebre onde minha mãe sempre ia para usar drogas, sim, eu nasci em um lugar sem estrutura nenhuma para se conceber uma criança; ela teve a ajuda de uma amiga, também usuária, que cortou meu cordão umbilical com uma faca imunda, utilizada pouco antes para matar alguém. Eu sei disso tudo, porque quando tinha quinze anos, Margarete me contou.


Mas ainda na infância. Após meu nascimento, nas primeiras horas de vida eu tive que enfrentar a morte de perto, devido o alto consumo de drogas da minha mãe eu tive uma abstinência e com ela uma convulsão contida por Margarete, que me acolheu como se fosse filha dela, já que ela proibiu minha mãe de me amamentar.


Nos meus primeiros dias ela até ficava comigo, mas quando completei dois meses de vida ela passou a me deixar sozinha para usar droga em outro canto junto de Margarete, me deixando para morrer às mínguas; quando lembrava, Margarete voltava para me dar uma mamadeira de leite. Eu nunca tive uma alimentação saudável, Margarete sempre me contava as dores que eu sentia e de como meu corpo passou a ser frágil e raquítico.


Quando completei um aninho foi ela quem amparou meus primeiros passos, foi com ela que tive minhas primeiras quedas; mas infelizmente a mãe dela se viu obrigada a interná-la em uma clínica para dependentes químicos e eu não a vi mais, até encontrá-la novamente há alguns anos atrás aqui pela comunidade.


Quando comecei a entender um pouco das coisas, comecei a sentir a falta dela, a falta do calor de um abraço e o afago nos cabelos que as outras garotinhas recebiam; eu via o amor de suas mães para com elas e isso gerava um sentimento ruim em mim, mas não podia explicá-lo.


Nas datas comemorativas eu sempre ganhava brinquedos dos vizinhos e dos poucos familiares com quem ela ainda mantinha contato, mas eu mal brincava com eles, já que rapidamente ela os trocava em troca de drogas; o tempo foi passando e eu fui parando de recebê-los, passei a brincar com o pouco que restará, já que estavam quebrados ou com algum arranhão. A última boneca que ganhei, eu tinha seis anos, me lembro perfeitamente dela, ela era quase do meu tamanho e tinha o cabelo loiro até a metade das costas; não deixava ninguém tocar nela, mas ela foi tirada de mim enquanto eu dormia.


Com a falta de dinheiro e a falta de brinquedos para trocar, suas dívidas foram aumentando e foi a vez das minhas roupas, primeiro as camisetas e depois as calças jeans surradas de tanto eu usar, consecutivamente assim foram com as meias, as roupas íntimas e os poucos calçados que tínhamos. Logo em seguida foram os móveis e já sem nada para vender, a única opção que ela tinha era eu, sua única filha(ou não).


Foi então que fui apresentada a Charles, um senhor de meia-idade que morava no fim da rua; eu era levada diariamente para sua casa e minha mãe me buscava a noite, isso era, quando me buscava.


Com uma semana ele me encheu de presentes, me deu chocolates e me deixou brincar na piscina no fundo do quintal grande de sua casa.


Com três semanas ele pediu para eu sentar em seu colo, acariciou meus cabelos e me fez penteados, me arrumou como se eu fosse uma boneca.


Na quinta semana ele me estuprou, posso sentir até hoje o toque áspero de suas mãos em meu corpo frágil e o quanto eu me debatia e gritava para que ele me deixasse sair dali, mesmo com tão pouca idade eu sabia que era errado; eu contava para minha mãe, mas ela nada fazia, parecia não acreditar em mim.


Em casa sempre me queixava das dores para urinar e ela simplesmente não ligava, eu chorava apontando para as minhas partes íntimas, mas ela se fazia de surda e sempre aos berros mandava eu ir para o meu quarto. Nas poucas vezes e nas poucas horas que eu conseguia ficar com ela, era assim, eu no quarto sozinha e ela na sala com suas drogas e seus amantes.

Sami: Sobrevivendo no InfernoOnde histórias criam vida. Descubra agora