Maicon pega o sabonete e o desliza pelo meu corpo, me ensaboando por completo e depois faço o mesmo com ele e o puxo para debaixo do chuveiro, envolvendo minhas mãos em seu pescoço, unindo nossos lábios em um beijo demorado.
Ele se distância ofegante fechando o chuveiro e eu me afasto indo pegar as toalhas penduradas na parede, jogo uma para ele usando a outra para secar meu corpo e o meu cabelo; enrolo a mesma em volta do meu corpo e saio do banheiro seguida por Maicon, que me acompanha até o meu quarto, abro a terceira gaveta velha do guarda-roupa pegando um shorts jeans desfiado e uma ciganinha branca florida.
— CARALHO, se nosso filho puxar a beleza da mãe dele, tô bêmzão... — Ele ri timidamente, escorando-se na cabeceira da minha cama, me admirando.
— Eu... Eu não posso ser mãe, por isso nem me preocupei com o fato de não usar camisinha. — Olho vagamente para ele, lembrando de tudo que a médica me falou e as lágrimas preenchem meus olhos rapidamente. — Com quinze anos eu não tinha a maturidade que tenho hoje, eu não sabia que o simples fato de eu não querer ser mãe fosse me afetar tanto. Eu conheci você e depois disso tudo mudou, você me mostrou um lado da vida que eu não conhecia, você me apresentou o amor mais puro e eu não posso retribuir, não posso te dar um filho.
Viro de costas para ele cobrindo meus olhos e quando menos espero sinto seus braços envolverem minha cintura, soluço algumas vezes tirando as mãos do rosto e me viro de frente para ele, o abraçando fortemente, deixando minhas lágrimas caírem em seu ombro desnudo. Ele não tem noção do efeito que seu abraço tem sobre mim.
Fico na ponta dos pés apertando ainda mais seu corpo contra o meu e ele parece compreender minha dor e apenas afaga os meus cabelos molhados dizendo palavras carinhosas em meu ouvido.
— Sami, eu não sabia disso, me perdoa! Você é uma mulher incrível e pelas coisas que passou, eu no seu lugar teria desistido faz tempo! Quanto ao nosso filho, ele não precisa ser gerado aqui. — Ele se afasta deslizando sua mão em meu ventre. — Ele pode ser gerado aqui. — Segura sutilmente em minha mão, levando-a até o seu coração.
Abro um largo sorriso sem conseguir conter as lágrimas ouvindo atentamente as palavras dele e ele sorri e me puxa para um abraço dando um beijo demorado em minha testa; me afasto dele quando meu celular começa a vibrar em cima da cama e eu o pego vendo a foto de Kali estampada na tela, atendo a ligação e ela me convida para sair com ela e Tamiris, mas afirmo que não vou poder ir, pois estou com Maicon em casa. Kali manda um áudio zombando da situação com a outra garota, me deixando totalmente constrangida.
Maicon ri envergonhado e sai do quarto a passos ritmados, eu rio com a cena já que ele ainda está nu e antes de desaparecer na porta, ele remexe os quadris de forma engraçada me mandando um beijo no ar; ele retorna terminando de vestir sua camisa e se joga lateralmente em cima da cama, apoiando as mãos na cabeça.
— Sami, che... — A idosa aparece na porta do quarto, provavelmente, após ouvir os ruídos feitos por mim. — Maicon? Oi... — Se assusta, vendo ele deitado na cama.
— Oi vó, como vai? — Ele pergunta, olhando para ela, deixando visível a covinha em sua bochecha.
— Tô bem e você? — Ele torna a perguntar, sorrindo amigavelmente para ele.Por volta das oito e meia, Maicon se despede de nós e eu o levo até o portão, antes de sair ele me puxa pela cintura e me dá um selinho demoro; afasto nossos corpos rapidamente com medo de ser flagrada pela minha vó e ele ri piscando para mim, mando um beijo no ar e fecho o portão retornando para dentro de casa.
Passo pela sala ouvindo ruídos na cozinha e vou até lá encontrando minha avó na pia picando alguns tomates e alguns pepinos, chamo a atenção dela perguntando se ela precisa de ajuda e ela larga a faca em cima do cimento lascado e vira para mim, olhando-me curiosamente, erguendo uma sobrancelha.
— Por que vocês tomaram banho?
— Quê? — Pergunto instintivamente, sentindo meu coração acelerar.
— Não se faça de boba, você entendeu!
— Vó! — Resmungo baixinho, sentindo um calor subir pelo meu pescoço, alcançando minhas orelhas. — Eu... vou para... o meu quarto! — Gaguejo, me retirando a passos rápidos.××××
Por achar estar tudo bem, decidi depois da décima sessão interromper a terapia por conta própria e isso quase custou minha vida quando pensei que iria perder Maicon durante uma troca de tiros na comunidade, mas felizmente ele sobreviveu e quem não resistiu foi Diogo; não sinto remorso ou nenhuma comoção, apenas o alívio de poder me libertar do meu maior pesadelo após ter sido novamente agredida por ele, tendo que recorrer aos cuidados de Kali.
Se existe anjos da guarda, talvez ela seja a minha. O meu maior porto seguro.
Finalmente fiz as pazes com a minha irmã e aceitei a aproximava do meu pai, deixando que fizesse parte da minha vida agora.
É engraçado porque até pouco tempo eu desejava a morte dele, eu sonhava e ansiava em conhecê-lo, mas a forma com que fomos apresentados, mudou totalmente o rumo das coisas, dificultando nossa relação no início.
Aos poucos as coisas estão se encaixado em seu devido lugar; Kali havia começado a trabalhar na comunidade e por isso precisava que alguém ficasse com Carolina e eu me prontifiquei a ficar com a pequena, eu amava ficar com ela de segunda a sexta-feira das oito até o finalzinho da tarde, às vezes eu revezava com a minha irmã. Eu tenho certeza que foi Carolina quem fez aflorar em mim o desejo de ser mãe e então tomei a decisão de ir atrás saber um pouco mais sobre o processo de adoção; um processo árduo e duradouro, mas que faz meu coração acelerar só de pensar em ter uma criança em meus braços.
Dias atrás tive uma conversa com as garotas e confesso que tocar novamente no assunto de não poder engravidar devido aos abusos constantes que sofri na infância e pela curetagem mal feita é extremamente doloroso para mim e por isso eu decidi me sentar com Maicon e conversar sobre: adoção.
No dia seguinte nós acordamos bem cedo e fomos atrás de tudo na Vara da infância e juventude, passamos a tarde toda lá conversando e anotando tudo nos mínimos detalhes para não esquecer e cinco meses depois com tudo preparado conseguimos entrar na tão sonhada fila de espera, que demora uma eternidade para andar.
Os dias consecutivos foram de extrema angústia e aflição, pois não sabíamos quando e nem 'se' apareceria uma criança com as características que demos: um bebê, menino e de pele morena.
Nove meses depois, pela manhã recebi a ligação de que haviam encontrado um bebê com as características que havíamos passado e no mesmo dia eles marcaram uma espécie de entrevista para o período da tarde, após o horário de almoço. Fomos para lá e após ouvir a breve história dele, não hesitei em querer conhecê-lo; foi amor a primeira vista.
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Sami: Sobrevivendo no Inferno
Random(+18) • Livro 1 - INJUSTIÇADA • • Livro 2 - CONDENADO • Vocês me conheceram por um olhar que não foi o meu... estão preparados para ver o que realmente aconteceu na minha vida e o motivo por ter me tornado quem me tornei?