Capítulo Sete

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    Reviro os olhos e pego o copo de plástico em cima da mesa, terminando de tomar o resto de cerveja que Camila deixou, coloco o de volta na superfície me despedindo dela com um beijo no rosto e de seu pai com um leve aperto de mão. Ouço os murmúrios roucos de Diogo, mas o ignoro completamente, deixando o local sem nem olhar para trás; no meio do caminho lembro de não ter respondido Kaliandra então pego meu celular e mando uma mensagem para ela confirmando nossa saída mais tarde, ela demora uns cinco minutos para responder e avisa que vai pedir para o seu pai passar por aqui e é para eu esperar na parte baixa do morro, mando um áudio rindo e afirmando que ela demorou tanto para responder que deu até tempo de eu chegar em casa, mas sou obrigada a cancelar na metade porque soltei um grito ao ser atingida pela bola que um dos amigos de Raul chuta em minha direção, mas consigo desviar e a mesma atinge o papel fazendo um estardalhaço; forço uma nova gargalhada perguntando que horas que o seu pai vai passar por aqui e ela torna a responder que provavelmente às seis.
    Atravesso o quintal encarando o visor do meu celular notando que já são cinco e meia, acelero ainda mais meus passos intercalando entre um degrau e outro e adentro em casa indo direto para o banheiro, deixando um rastro de roupas pelo chão, entrando apenas de lingerie e com meu celular na mão.
    Após longos minutos, abro uma pequena fresta na porta procurando ouvir algum ruído e como não escuto nada dentro de casa, saio do cômodo nua, apenas com uma toalha enrolada envolta na minha cabeça e foi direto para o meu quarto pegando um vestido florido jogado em cima da mesinha de cabeceira e o visto por cima de um conjunto branco de lingerie; penteio meu cabelo prendendo-o em um rabo alto e calço uma rasteirinha encardida, com pequenos brilhantes nas hastes.

Maicon David: Cê vai no velório da minha mãe?

Você: Desculpa, eu até gostaria de ir, mas marquei de sair com uma amiga. Eu sinto muito!

Maicon David: Rlx, dmr!

    Tenho uma troca rápida de mensagem com Maicon e pego algumas das poucas notas de cem que sobraram na caixinha metálica que eu deixo dentro do guarda-roupa, guardando na capinha do meu celular e em seguida o enfio dentro do meu sutiã, deixando apenas uma parte para fora; ajeito ele no meio dos meus seios e tão breve ouço a buzina de uma moto do lado de fora, me apresso em sair para ver quem é, mas ao passar pela porta da sala ajeitando as laterais do vestido vejo Raul abrir o portão e cumprimentar alguém escondido atrás do portão.
    Grito perguntando quem está lá e ele me diz que é um dos amigos que veio buscar uma coisa com ele, ele mede-me de cima a baixo perguntando aonde vou; demoro alguns segundos para responder e sorrio brevemente informando que vou sair com uma amiga, inclino a cabeça suavemente para o lado buscando a outra pessoa e vejo que o rapaz do lado de fora faz o mesmo, talvez tentando conseguir me enxergar por alguma brecha no portão; rio baixinho e retorno para dentro me jogando sobre o sofá, deixando minhas coxas desnudas expostas, coloco a mão no meio das minhas pernas para deixar o tecido rente à minha pele, escondendo o tecido da minha calcinha.
    Deixo minha cabeça cair lateralmente sobre o apoio de braço do sofá e encolho meu corpo ao sentir o celular vibrar por três vezes, dou risada sozinha e o retiro vendo Kali avisar que seu pai já estava chegando. Dou um pulo me colocando em pé e ajeito meu vestido e meu cabelo antes de passar para o lado de fora, sentindo a brisa fria vir de encontro a mim, fazendo meu vestido esvoaçar, faço um gesto igual da Marilyn Monroe colocando as mãos na frente do tecido fino do vestido e desço a escada correndo, vendo meu irmão sentado sobre o meio-fio sozinho, brincando com um isqueiro.
    Me aproximo dele em um impulso, me despedindo dele com um beijo no rosto e antes de descer o morro bagunço os fios claros de seu cabelo, gargalho e ajeito a alça do meu vestido vendo ele praguejar contra mim; aceno com a mão e desço o morro cumprimento as pessoas que eu conheço, alguns dos vapores desviam seus olhares para o céu e antes de chegar na parte baixa encontro Diogo saindo de uma das vielas sem camisa, fumando maconha com duas garotas que sorriem maliciosamente escoradas em seus ombros acariciando seu peitoral desnudo, olho para ele engolindo seco e desvio meu olhar me desviando deles que insistem em vir em minha direção, ficamos por alguns minutos andando de um lado para o outro, como em uma valsa desajustada, até que me cansei e o empurrei para longe, passando entre ele e as garotas que me xingam de todos os palavrões possíveis.
    Chego no asfalto exausta e ofegante, localizando o carro do pai de Kali já estacionado um pouco mais adiante, na frente da única vaga vazia na frente de um carro amarelo; ando até lá e antes mesmo de alcançá-lo a porta é aberta por uma garota sentada na lateral esquerda do banco de trás, aponto a cabeça na porta sorrindo para ela antes de entrar e me sentar ao seu lado, passando o cinto pela minha cintura antes de fechar a porta. O homem dá a partida e eu cumprimento a ambos, mas apenas Kali responde enquanto o homem se mantém focado no trânsito e no rock em volume ambiente tocando no rádio.

— Obrigada por me chamar pra sair! Estou precisando distrair a cabeça... — Cutuco levemente o ombro dela, apoiando meu queixo no encosto de seu banco.

— Vocês não costumam usar outra coisa pra "relaxar a mente"? — Dimitri pergunta de forma pejorativa com um sorriso debochado.

— Não sei, no batalhão eles devem estar com bastante problemas né? — Rio ironicamente, voltando a me encostar no banco de trás.

    Ele resmunga algo inaudível para mim apertando o volante com uma das mãos e com a outra ele aumenta o volume gradativamente me encarando pelo retrovisor interno; tiro uma mecha de cabelo da frente dos meus olhos e sorrio de canto vendo seu rosto endurecer.
    Fomos em silêncio o resto da viagem toda, a menina ao meu lado nem sequer ouvi a voz dela, apenas os murmúrios de ela cantarolando a música que toca no rádio.
    Algum tempo depois Dimitri estaciona na frente do grandioso Shopping e nós desembarcamos indo direto para a praça de alimentação; nós nos separamos e andamos de um lado a outro pelos pequenos espaços, transitando entre a multidão que anda depressa por entre as mesas lotadas e em meio aos burburinhos escuto a voz de Kaliandra chamando pelo nosso nome, paro de frente à mesa onde um casal está almoçando e estico meus pés junto ao meu pescoço tentando ver através da pilastra pouco mais a frente, o homem sentado chama minha atenção apontando na direção de alguém e dou dois passos para o lado vendo Kaliandra acenar com as duas mãos para o alto.

— Esqueci de apresentar vocês. — A morena diz enquanto me aproximo da mesa que ela havia escolhido. — Essa aqui é a menina que te falei, Tamiris, ... ela é filha de um homem de negócios amigo do meu pai! — Ela aponta para a menina, sorrindo gentilmente sem tirar os olhos de mim. — E essa é...

— Sami, satisfação. — Olho para ela com desdém, forçando um sorriso, enquanto puxo uma das cadeiras para me sentar.

    Olho para a direção dos fastfoods com a unha do dedo indicador na boca, decidindo o que comer e dou uma olhadela de soslaio vendo Tamiris me observar de canto de olho, dou um longo suspiro e me levanto avisando que vou pedir um lanche para mim e talvez demore pelo tamanho da fila; ela coloca sua bolsa em cima da minha cadeira guardando meu lugar e dou uma piscadela para ela antes de sair.
    Quando retorno elas já estão na metade de seus lanches e eu me sento em silêncio colocando a bandeja em cima da frente e me sento com cuidado, colocando o canudinho na boca e depois dou uma grande mordida no meu lanche, sujando os cantos da minha boca com maionese.

— Por que está me olhando desse jeito? Que porra! — Pergunto, deslizando o polegar pelo meu lábio inferior, limpando os resquícios de maionese e ela desvio o olhar, fingindo não me ouvir.

    Terminava de comer o meu lanche quando Kali se levanta avisando que vai até o banheiro e Tami ameaça se levanta deixando metade de seu lanche em cima da bandeja, mas a morena informa que não vai demorar e que é para nós esperamos por ela aqui, Tamiris bufa voltando a se sentar com os braços cruzados sobre a mesa e eu olho para o lado vendo um grupo de garotos passando na frente da grande loja de aparelhos de academia, eles param diante da grande vitrine e eu os analiso melhor; mas em questão de segundos tenho minha atenção tomada por uma criança que passa aos gritos atrás de mim, arrastada por sua mãe que a segura pela cintura, tentando impedir que ela se jogue no chão.
    Kali não demora a voltar percebendo o clima tenso que pairou sobre mim e Tamiris após sua saída, ela se senta em seu lugar entreolhando a nós duas, causando um certo desconforto em mim; olho para a bandeja vazia e passo a mão na mecha de cabelo que recai sobre o meu rosto, colocando-a atrás da minha orelha, olhando discretamente para Kali que nos encara com os olhos semicerrados.

— O que aconteceu aqui?

— Só me arrependi de ter vindo, eu quero ir embora! — Percebo ela me fitar com o cenho franzido e reviro os olhos, sem tirá-los de Kaliandra.

Sami: Sobrevivendo no InfernoOnde histórias criam vida. Descubra agora