Capítulo Dois ⚠️

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    Não sei de onde tiro forças, mas consigo empurrá-lo para longe e correr para o lado de fora, mas antes de conseguir alcançar o portão uma onda de tonturas e cólicas fortes me atingem e eu grito de dor caindo de joelhos no chão, suspiro fundo, me rastejando até alcançá-lo e estico uma das mãos com dificuldade conseguindo segurar a fechadura puxando-a para baixo; uma fresta se abre e eu termino de puxá-la de uma vez colocando metade do meu corpo para fora, suplicando ofegantemente por ajuda. Sinto uma umidade quente no meio das minhas pernas e olho para baixo, vendo uma mancha de sangue se formar lentamente no tecido jeans de meus shorts; me levanto com muito esforço, me escorando no portão, gritando desesperadamente ao vê-lo vir em minha direção engatinhando a arma já apontada para mim, alguns vizinhos assistem à cena de longe e ele os ameaça.
    Com a visão bastante turva, vejo uma figura feminina vir em minha direção com uma toalha e Peterson se esconde no muro, ficando longe do campo de visão dela. Ela se assusta vendo os hematomas no meu corpo junto ao meu cabelo desgrenhado e o sangue que escorre agora em abundância pelas minhas pernas; ela não fala nada, apenas me abraça, mas não consigo retribuir, fico paralisada olhando para uma garota do outro lado da rua e ela me devolve um olhar de nojo, sinto uma dor no peito com aquele simples ato e afundo ainda mais meu rosto no pescoço da mulher depositando todo o peso do meu corpo sobre o dela, a mesma dá um passo para trás para me sustentar e sinto o toque suave de seus dedos em meu cabelo, alguns segundos depois ela afasta seu corpo do meu colocando as mãos nas laterais do meu rosto e desliza os polegares delicadamente pelas minhas bochechas, enxugando minhas lágrimas enquanto pede mansamente para eu esperar por ela.
    Ela sorri brevemente se afastando e atravessa a rua a passos rápidos entrando em sua casa, observava o pouco movimento da rua quando uma onda de cólicas fortes me atingiu novamente me fazendo urrar e me sentar no meio-fio, abraço minha barriga com as duas mãos, sentindo meus poros abrirem e em questão de segundos o suor começa a escorrer pelo meu rosto, molhando o tecido da minha blusinha. Escondo meu rosto entre meus braços para abafar os muitos gritos de aflição e um tempo depois sinto mãos fortes me tirarem do chão, afasto um poucos meus pulsos e vejo Fabrício com o semblante fechado, olhando para o nosso redor, parecendo procurar por alguém e então escuto a voz doce dela gritando por ele e descubro meu rosto elevando a cabeça, fazendo ele olhar para mim, inexpressivo, encosto meu rosto em seu peito e ele sorri fraco e se agacha olhando de soslaio para o lado, faço o mesmo vendo a mulher ao volante, ela sorri abertamente enquanto ele adentra o veículo comigo ainda em seu colo. Tento deslizar meu corpo para sentar ao seu lado, mas ele impede passando o braço pela minha cintura e olho para ele confusa.

— Tá aí morrendo de dor, vai sair daqui não! — Ele fala rudemente, deslizando o  dedo pelo meu cabelo, tirando a mecha que recobre um dos meus olhos. — O que aconteceu com tu?

— Aconteceu nada! — Sussurro, lembrando de tudo que ouvi de Peterson.

— Não vai falar!? Que que cê tava fazendo na casa do Pet? Lá não é casa pa tu não, e esse sangue aí nas tuas pernas? Ele te estuprou porra? — Ele grita e eu me assusto, voltando a chorar novamente.

— Tira ele daqui, por favor... — Me debato aos berros, tentando tirar a mão dele de mim, mas sua força é maior do que a que tenho agora.

— Fabrício cala a boca, deixa a menina em paz! — Ela o fita pelo retrovisor interno e ele joga a cabeça para trás, suspirando tediosamente, afrouxando a mão que segura minha cintura.

    O restante do caminho foi torturante para mim, senti dores intensas que me obrigaram a morder fortemente o tecido da minha camiseta, causando em mim uma dor aguda na mandíbula, já não aguentava mais chorar e nem sentir dor, foi em um dos picos que me dor cessou e consegui cochilar um pouco, mas pequenos flashs do ocorrido voltam a me perturbar e eu acordo assustada, ameaçando me levantar, mas ele me impede pressionando seu cotovelo contra a minha barriga.

— AI CARALHO! — Grito choramingando, voltando a sentir o sangue escorrer pelas minhas pernas. — AI MEU DEUS! — Coloco minha mão sutilmente sobre o jeans e olho para ela a vendo toda suja com o líquido vermelho.

— Joana acelera essa porra, a menina tá sangrando mais! — Ele berra preocupado, estapeando o banco do motorista. — Que caralho aconteceu com você? — Pergunta ainda mais aflito, me vendo contorcer de dor em seu colo.

    Minutos mais tarde ela estaciona o carro na frente de um grande hospital, fora da comunidade, e Fabrício me ajuda a descer vagarosamente enquanto a mulher entra no local e retorna trazendo consigo uma cadeira de rodas, eles me ajudam a sentar e ambos correm comigo para dentro do ambiente e com o auxílio de mais duas enfermeiras me levam direto para a área de emergência que está lotada. Mais tarde descobri que o motivo de o hospital estar tão cheio foi um acidente entre dois ônibus e um carro, com vítimas presas nas ferragens; me contraio na cadeira sentindo fortes dores que repuxando do meu abdômen até os meus quadris.
    Tem cerca de umas quinze pessoas na minha frente e devido a tamanha dor desfaleço algumas vezes sendo socorrida por Joana que grita por ajuda; algumas enfermeiras saem das quatro salas dos corredor e vêm correndo até nós, uma delas troca a pulseira do meu pulso para vermelho e logo sou chamada pela enfermeira na sala da triagem; eles me levam até a sala me colocando de frente para a mesa de onde uma enfermeira está sentada e ela pede para eu esticar o braço para aferir minha pressão.

— Quais são os sintomas? — Pergunta, olhando para o visor do esfigmomanômetro em meu braço.

— Cólica abdominal fort... — Gemo de dor, quase soltando um grito. — sangramento vaginal. —Concluo, suspirando.

— Tem chance de estar grávida? — Torna a perguntar, anotando tudo em uma prancheta.

— Sim. — Murmuro, de maneira quase inaudível e ela inclina a cabeça, pedindo para eu responder novamente e eu o faço, choramingando.

— Tudo bem! Sua pressão está um pouco baixa. — Ela responde puxando o velcro do aparelho em meu braço. — Aguarda ali fora, por favor, que em breve um dos médicos irá te chamar.

    Eles me levam para fora da sala e cerca de dez minutos depois uma voz feminina chama pelo meu nome e apenas Joana vai comigo; adentro a sala na companhia da mulher que empurra a cadeira estacionando-a mais ao fundo e retorna para fechar a porta. A médica pergunta o que estou sentindo agora e eu respondo afastando moderadamente minhas pernas para ela ver o sangramento; a mulher se levanta e vêm em minha direção, ela me ajuda a levantar e me coloca deitada na maca no canto da parede.

— Ele te deu água? Foi a única coisa que você ingeriu? — Ela pergunta apalpando meu abdômen me fazendo sentir dor.

— É, foi a única coisa que ele me deu depois que a gente discutiu. — Respondo, fechando fortemente meus olhos. — Tá doendo muito. — Resmungo, afastando as mãos dela.

    A mesma me encaminha urgentemente para um obstetra, e sou chamada para fazer um ultrassom transvaginal; a doutora é muito cuidadosa e gentil comigo.
    Ela enfia um objeto com delicadeza, movendo-o com maestria dentro de mim e vejo sua feição se tornar dura junto a seus olhos que antes estavam iluminados e agora estão entristecidos, ela aperta um botão e apenas um chiado toma conta da sala; pergunto para ela o que aquilo significa, mas ela permanece alguns minutos em silêncio e suspira pesadamente desligando o aparelho em nossa frente.

— Eu... eu sinto muito mãezinha! — Ela exprime com a voz fragilizada e segura minha mão a acariciando gentilmente. — Vou pedir a curetagem, tudo bem? Aqui mesmo comigo, tudo tranquilo, tá mãezinha? — Sua voz doce, me conforta enquanto ela se afasta separando alguns utensílios, colocando-os em cima da mesa.

    Horas mais tarde, após a observação e já sem muitas dores, eles me dão alta com um pedido de exame toxicológico para fazer e eu sou levada por eles até o outro lado da rua para poder realizá-lo; demoro cerca de cinco minutos para ser chamada e realizo o mesmo tranquilamente, quem fica nervosa é Joana que não para de roer as unhas ao meu lado, descansando todo o esmalte marsala.
    Após o exame nós saímos da sala e eles pedem para buscarmos o resultado amanhã a tarde, assinto sorrindo fracamente e nós voltamos para casa; Joana me deixa na casa da minha avó na companhia do meu irmão e eu vou direto para o meu quarto, me jogando sobre a minha cama, não estou a fim de dar explicações a ninguém.

Sami: Sobrevivendo no InfernoOnde histórias criam vida. Descubra agora